Por Alceu Castilho
Não somente impeachment. Mas prisão.
Eis o que a esquerda precisa exigir em relação ao miliciano golpista que ocupa a Presidência da República.
A se julgar pela vontade de eternos conciliadores, deveríamos estar à direita de FHC e de Rodrigo Maia, à espera de algum batom na cueca ainda mais espetacular, uma carta de próprio punho do capitão a dizer: “Eu sou mafioso”.
Como se ele ter levado o torturador de Genoino para ficar sorrindo durante uma fala do deputado não fosse suficiente. Como se os elogios a outros torturadores (Ustra, Pinochet) não fossem suficientes. Como se a referência a estupro no caso Maria do Rosário não fosse suficiente. Como se as agressões a jornalistas (à liberdade de imprensa) não fossem suficientes. Como se a manipulação eleitoral —noticia-se agora que os cafés da manhã minimalistas eram falsos— não fossem suficientes. Como se a incitação sistemática à violência não fosse suficiente.
O estímulo feroz ao desmatamento, a política etnocida em relação aos povos isolados, o racismo contra os quilombolas. E agora, sim, o convite “contra políticos” a um ato que reunirá fascistas contra o Congresso e o STF. (Os legalistas compulsivos querem que o vídeo contenha o que exatamente, o presidente pedindo o cadáver de Gilmar Mendes?)
O que certa esquerda deseja, afinal, como suposta defensora de mudanças estruturais na sociedade? Apenas lamentar de forma cândida golpes movidos a pedaladas fiscais ou disputar efetivamente o poder, disputar o poder e a narrativa com a ênfase necessária, sem medo de cara feia e de ameaças?
Prisão, não somente impeachment. Prisão de um psicopata. O impeachment que seja defendido pela direita e pela centro-direita e pelo centro. A esquerda agredida por fascistas e pelas polícias incitadas por um presidente violento precisa rever sua adesão à Síndrome de Estocolmo (uma adesão ordenada, em filas, como se a síndrome fosse uma repartição pública) e reavivar sua memória. Da Constituição de 1988 a qualquer tratado sobre direitos elementares.
Não estamos a falar de guilhotina ou de fuzilamentos. E sim da prisão de um sujeito perigoso, rodeado de sujeitos ameaçadores, eleito por uma sucessão de farsas e em conexão direta com mafiosos, assassinos. Vamos esperar alguma espécie de Fiat Elba, à sombra das denúncias cínicas sobre corrupção, para pedir delicada e timidamente que se apeie da presidência esse parasita?
Ou dizer, em nome dos povos indígenas e das periferias, dos camponeses e da comunidade LGBT, em respeito a cada mulher agredida e cada negro achincalhado, que não aceitamos um presidente que desafie o Congresso e dê bananas para a nação?
E não apenas que não o aceitamos como presidente, que o lugar desse cidadão é na cadeia, muito bem alimentado, mas na cadeia?
“Ah, mas as massas que votaram nele não vão gostar nada disso”.
E não vão gostar mesmo. Ou estamos a defender sombra e água fresca durante um levante fascista? Elas que elejam alguém normal. Nós? Nós que não esqueçamos tanto. Nós e nossas cosquinhas conformistas.
Os tanques estão na rua em Fortaleza. Como alternativa, tínhamos policiais mascarados. Já tivemos atentado com molotov. As polícias estão sendo preparadas para ser milícias. O jogo entre eles é o da barbárie contra barbárie. As instituições que não estejam a serviço desse projeto fascista estão sendo implodidas.
Nossa defesa da civilização precisa incluir, sim, a pressão pela prisão de Jair Bolsonaro. O presidente das arminhas não está ali somente para dar gargalhadas.
Tudo bem para ele fechar o Congresso? “Ok, senhor Jair, o senhor está preso”.
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Destaque: Hieronymus Bosch – A Violent Forcing Of The Frog (detalhe).