Lições do coronavírus: o mundo e o Brasil precisam aprender com a pandemia

Por Irpaa

Um vírus vem assombrando o Brasil há algumas semanas, embora o problema já se alastre no mundo desde o final de 2019. A perda de vidas, o alto risco de contágio e o impacto na economia tem provocado um verdadeiro caos social, seja nos grandes centros urbanos ou nas mais longínquas comunidades ao redor do mundo.

O coronavírus já existia e atingia animais, inclusive não é de hoje que existe vacina usada, por exemplo, em cães e gatos. Porém, o vírus passou por uma mutação, contaminando seres humanos, que ainda não contam com vacinas nem com tratamento específico. Devido a interação de pessoas entre os países, rapidamente o vírus se espalhou e começou a assustar devido ao alto índice de contaminação e mortes, inicialmente no continente asiático, mais precisamente na China, depois na Europa, mas se espalhando pela maioria dos cerca de 200 países registrados pela Organização das Nações Unidas.

O planeta passou a vivenciar as consequências de uma pandemia, ou seja, quando um vírus ou algo semelhante causa um problema de saúde pública em proporção mundial. A pauta tomou conta dos Meios de Comunicação de Massa, das mídias sociais, das conversas de famílias, no trabalho, em todos os continentes. A rotina das pessoas e instituições públicas e privadas precisou da intervenção do Estado, que tomou medidas de prevenção e combate ao vírus.

Há várias semanas, muitos indivíduos lutam contra o Covid-19 nos leitos de hospitais ou mantém-se em total isolamento por ser mais um/uma suspeito/a nas estatísticas. Profissionais de saúde se dividem entre o medo e a necessidade de cuidar das outras pessoas e boa parte da humanidade aderiu a campanha #FiqueEmCasa.

No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, o Nordeste é a segunda região com maior incidência de casos, registrando mais de 450 pessoas infectadas e mais de cinco mortes. O Sudeste ocupa o primeiro lugar nesse ranking e a região Norte é a menos impactada até o momento, segundo informou o órgão federal esta semana.

Olhando para a situação de uma forma mais ampla, enxergando no contexto mundial as causas e não apenas as consequências, o sociólogo Roberto Malvezzi (Gogó) pontua que já tem pessoas observando os danos ambientais e sociais que o ser humano vem causando ao planeta como um dos motivos centrais de problemas como esta pandemia. “A questão ecológica, a questão social, ambiental, manda um aviso, a terra está mandando um aviso pra humanidade: ou muda o modo de se viver na terra ou essas questões vão se agravar cada vez mais. Serão pandemias cada vez mais severas, vírus cada vez mais incontroláveis e a humanidade correndo risco de morte”, alerta Gogó.

A Mestre em Ecologia Humana e Gestão Socioambiental, Ioná Pereira, também defende que os seres humanos têm abusado da vida na terra, ao “usar de maneira irresponsável os recursos naturais, a não se perceber como parte do meio ambiente”. O fortalecimento do individualismo em detrimento da coletividade é para ela também hoje um problema da humanidade que vem contribuindo para a ocorrências de tragédias desta ordem, onde “a natureza começa a cobrar seu preço”.

Ioná, que é representante dos povos de terreiro na região, chama atenção também para a importância do cuidado mútuo, inclusive tomando por base a cultura dos povos tradicionais e a preocupação com as futuras gerações. Ela também é presidenta do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional de Juazeiro (BA) e evidencia outra questão central: a garantia de direitos básicos para a sobrevivência, a exemplo da alimentação. “A gente também entrou num processo da alimentação que é rápida, que é fácil (…), o corre corre, o individualismo, o capitalismo foram nos levando pra isso e agora a gente é forçada a repensar tudo”, analisa.

O fortalecimento das defesas imunológicas tem sido uma das recomendações para se proteger do vírus, porém a garantia da qualidade de vida, incluindo aspectos básicos como alimentação, moradia e higiene, não estão assegurados a todas as pessoas.

Enfrentamento

No mundo todo, medidas no âmbito público e privado estão sendo tomadas para enfrentar o momento de crise. Roberto Malvezzi chama atenção para a necessidade de tratar isso com responsabilidade, tanto por parte da população quanto dos governos. Mas no caso do Brasil, uma preocupação maior dos segmentos de saúde, organizações sociais e também da própria população tem sido a postura do chefe político do país, o presidente Jair Bolsonaro.

Desde o agravamento da pandemia no país, com o registro de casos nas diversas regiões, o presidente, ao invés de tomar medidas sanitárias e de cuidados com a vida humana, autorizando e viabilizando uma força tarefa do Estado no controle da pandemia, tem assumido uma postura negligente e irresponsável, tratando a situação com menosprezo, desdém.

Roberto Malvezzi, no entanto, lembra que os países da Europa que conseguiram reduzir o índice de contaminação precisam optar, o quanto antes, pelo isolamento social: “a gente é obrigado a parar pra não acontecer o pior que é a perda da vida”, reforça Gogó. Contudo, na contramão disso, o presidente da República tem se manifestado a favor do país seguir privilegiando a economia, ou seja, para ele todos os segmentos da sociedade precisam retomar suas atividades, ainda que a pandemia não esteja controlada.

Ao enxergar outra possibilidade de lição a partir da pandemia do Covid 19, o colaborador do Irpaa André Rocha faz uma comparação curiosa: “eu fiz uma analogia e a gente pode dizer que o vírus é a seca, como se fosse a seca. A gente não vai conseguir combater o surgimento e a existência dele, mas a gente pode trabalhar no sentido de desenvolver que tipo de relações as pessoas podem adotar entre si e com a natureza, que tipo de relação estabelecer”.

André explica que é necessário rediscutir os hábitos, problematizar as relações sociais e com o ecossistema, pensando num equilíbrio. Para ele isso passa pelo cuidado com a natureza, pela efetivação das políticas públicas, garantia dos direitos humanos fundamentais, dentre eles alimentação e água de qualidade para toda a população. Além disso, a igualdade de oportunidades, respeito às diferenças e o combate à desinformação também são essenciais.

Assim, do mesmo jeito que hoje se estuda e efetiva ações de Convivência com o Semiárido, fortalecendo a lógica do Bem Viver para adaptar-se às adversidades causadas pela seca, o mundo precisa aprender as mais variadas lições com o Coronavírus. O Covid 19 tem provocado mortes e impactos na vida humana, mas, ao mesmo tempo, tem colocado em cheque a necessidade das pessoas se perceberem enquanto corresponsáveis pela crise atual.

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