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Hoje, o Brasil é o segundo país, no ranking mundial, com mais casos confirmados do novo coronavírus. Na Bahia, segundo os dados da Secretaria de Saúde (Sesab),divulgados na terça-feira (26), o número de casos confirmados no estado totaliza 14.566 mil, com 495 mortes decorrentes da contaminação pela Covide-19.
Diante o avanço da pandemia as comunidades rurais vêm modificando suas rotinas em decorrência da ameaça desse coronavírus e já estão tomando medidas próprias para tentar impedir o contágio da Covid-19 nas comunidades. Uma das ações encontradas é a instalação de barreiras sanitárias para controlar a entrada e saída das pessoas no território, além do trabalho de conscientização sobre a importância do isolamento social como medida de enfrentamento ao vírus.
No interior da Bahia, no município de Canudos boletim informativo da prefeitura municipal, do dia 26 de maio, informa que a cidade registra seis casos confirmados positivos para o Coronavírus. Quando começaram a aparecer os primeiros casos na região, um das primeiras medidas das lideranças da comunidade de Raso foi realizar o trabalho de orientação e conscientização da prevenção da pandemia juntos aos moradores/as da comunidade.
De acordo com Débora dos Santos, moradora da comunidade e membro da Associação Comunitária Agropastoril dos Pequenos e Pequenas criadores e criadoras da Comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Raso, apesar das orientações e cuidados ainda existia um fluxo de pessoas na comunidade o que preocupava alguns moradores. “Então, semana passada alguns moradores da comunidade me procuraram pra a gente fazer uma reunião e pensar juntos como a gente poderia se proteger […]aí um dos homens deu a ideia de fechar a entrada pra gente também controlar a entrada e saída de pessoas de fora, que algumas vezes chegavam pessoas de outras comunidades”, explica a jovem.
Essa proposta foi apresentada para toda a comunidade e segundo Débora no iniciou a comunidade ficou apreensiva com a proposta de fechar a via de acesso, mas hoje a ideia é bem avaliada. O acesso à comunidade foi fechado com colchetes em pontos estratégicos, “têm duas entradas de acesso: uma passa dentro da comunidade e uma que passa por fora da comunidade. Eles fecharam as vias que passam dentro da comunidade, quem quiser passar pra outras comunidades, têm essas vias de acesso que passa por fora da comunidade”, explica Débora. Segundo a jovem, os órgãos publico do município já estão cientes e a vigilância sanitária já foi na comunidade após o fechamento da via de acesso da comunidade.
A comunidade Tradicional de Fundo de Pasto Rio do Suturno, em Canudos, a população também fechou a entrada do local para monitorar a entrada de pessoas na comunidade, “segunda-feira, dia 25, a gente colocou aviso nas rotas, dialogou com o pessoal da comunidade e fizemos o movimento aqui com o pessoal, cada quem usando máscara e ontem a gente fechou e só entra emergência”, explica o jovem George da Silva Santos, liderança da comunidade. Preocupados em não prejudicar o acesso às demais comunidades a população“ ajeitou a estrada que passa na Br, que dá acesso a outras comunidades pra não ficar impedindo”, complementa o jovem, reafirmando que a fechamento de via de acesso à comunidade é uma ação preventiva e construída de forma coletiva com aos moradores/as do Rio do Suturno.
A comunidade indígena Massacará – Kaimbé, que fica a 32 km do município de Euclides da Cunha (BA), onde reside aproximadamente 1.350 indígenas, as atividades que geram aglomeração de pessoas foram suspensas e eles também resolveram fechar as vias de acesso à aldeia assim que souberam que tinha casos da Covid-19 no município. “a gente preocupado com nossos velhinhos, nossas crianças, com toda a comunidade nós fizermos isso rápido […] e quem saia toda semana, agora saí no máximo duas vezes por mês, de quinze e quinze”, explica o cacique Juvenal Fernandes Pereira. As lideranças do povo Massacará também dialogou com os fornecedores de alimentos, gás, gasolina e outros produtos para realizar a entrada no espaço de forma organizada e de acordo com as orientações e monitoramento da aldeia.
“Nós não somos contra a população, não é contra o pessoal que precisa passar aqui pra fazer o trabalho essencial e obrigatório, a gente tá contra a doença”…. O cacique ainda chama atenção que esse momento não é época de visitar as comunidades “é ruim ter seus amigos, amigas, ter pai, mãe, parentes e não poder pegar na mão, não poder abraçar, né? Mas se o momento é esse, vamos obedecer e ficar em casa”. Segundo Juvenal as autoridades do município foi informada da ação da comunidade em realizar o fechamento de via de acesso à aldeia e que as pessoas têm elogiado a atitude “o povo parabeniza e diz que se a gente pudesse fazer isso, nós faríamos”.
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Foto: Comunidade Raso