A nossa cidade passa por um dos piores períodos de sua história. Por um lado, uma grave crise sanitária e social provocada pela pandemia do novo coronavírus, por outro, uma crise política e econômica, oriunda dos governos Crivella, Witzel e Bolsonaro.
A pandemia tornou visíveis as mazelas históricas do Rio. Durante décadas, foram implementadas políticas urbanísticas fundamentadas no pensamento higienista e na especulação imobiliária, com a remoção dos mais pobres para regiões sem infraestrutura e sem potencial de desenvolvimento econômico.
Hoje, o município concentra mais de 700 favelas com uma população de quase 1,5 milhão de pessoas, segundo o último censo do IBGE. O vírus avança nestas localidades como resultado da interação entre a falta de saneamento básico, o desemprego e a ausência de políticas públicas efetivas. O modelo de governança implantado pelo atual prefeito, com deficiências nos sistemas de proteção social e na saúde, contribui para o recrudescimento do número de casos e de mortes.
Chegamos ao início de junho com uma curva ascendente da covid-19. No total, a pandemia tirou a vida de quase 4.5 mil pessoas da cidade, onde já são registrados 36.115 casos confirmados, de acordo com os dados oficiais de oito de junho. Temos a mais alta taxa de letalidade do país, de 12,35%. Os estudos de especialistas apontam que os bairros da periferia são as maiores vítimas. Quem mais morre no Rio pela covid- 19 são os mais pobres, na sua maioria homens e mulheres negras.
Nesse quadro, que impõe medidas mais contundentes de proteção da população, apontadas por diversas instituições científicas, o prefeito Marcelo Crivella adota um caminho contrário e imprudente ao liberar diversas atividades, após implantar mudanças na metodologia da contagem dos óbitos.
O estudo realizado por cientistas, publicado em junho na revista Nature, aponta que as medidas tomadas de distanciamento e isolamento social em 11 países evitaram mais de 3 milhões de mortes na Europa. Os pesquisadores do Imperial College, das Universidades de Oxford e Sussex, da Inglaterra, e da Universidade Brown, do EUA, objetivaram medir a eficácia dessas intervenções para apontar sua utilização em ações no futuro, visto que geram impactos econômicos e sociais.
A reabertura da cidade do Rio com os índices de contágio ainda muito altos coloca toda a sociedade em risco, tanto pela agressividade e complicações em decorrência do vírus, como pelo colapso do sistema de saúde, que não terá como atender ao aumento exponencial da corrida a hospitais, clínicas e postos de saúde.
Vivemos um momento de incertezas e de transformações de enormes dimensões, extremamente complexo, de contradições e conflitos de vários matizes. Mas também um momento em que se forjam novas possibilidades. Com determinação e resistência democrática, é preciso inventar novos caminhos, diante do caos de governança instalado em nossa cidade.
Nós, moradores do município do Rio de Janeiro, entendemos que o grande desafio é a luta pela superação das desigualdades e o atendimento à população com dignidade com o fortalecimento do SUS e do Sistema de Saúde Municipal.
Uma formação de consciências que coloque a vida na centralidade das decisões do Executivo da cidade.
Afirmamos a necessidade de elaboração de um programa democrático-popular para o combate ao coronavírus e para retomada econômica, social e cultural da cidade no pós-pandemia. Este programa deve ser fruto de uma ampla articulação suprapartidária dos movimentos sociais, sindicais, da academia e de lideranças populares com base em um novo pacto social, que preserve a vida e considere a retomada do meio produtivo como motor para mitigar os graves problemas sociais.
A fim de evitar um colapso no sistema de saúde e evitar o aumento vertiginoso do número de mortes, defendemos de imediato:
– Ampliar os investimentos e agilizar os repasses da prefeitura para o sistema de saúde no combate à pandemia, bem como dar prioridade à execução orçamentária para a proteção social das populações vulneráveis;
– Implementar um planejamento de saída da crise, com base em critérios científicos, com a adoção de medidas mais rígidas de isolamento e distanciamento social;
– Adotar medidas massivas de testagem da população;
– Implementar um programa de renda básica promulgado em lei pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro;
– Implantar um plano emergencial de combate a covid-19 nas favelas e territórios periféricos;
– Dar total transparência às informações sobre os casos de contaminação e óbitos com disponibilização integral dos dados pelo Instituto Pereira Passos e dos relatórios do gabinete de crise do comitê científico.
ASSINAM:
- Adair Rocha – Professor, PUC Rio
- Affonso Henriques Guimarães Correa – Economista
- Agostinho Guerreiro, Engenheiro
- Alessandro Molon, Deputado federal pelo PSB
- Alice Carolina Negreiros da Conceição, Professora
- Alice Passos, Cantora e preparadora vocal
- Alipio Carmo, Jornalista e produtor
- Ana de Hollanda, Cantora, Compositora, ex-ministra da Cultura
- Ana Maria Muller – advogada, fundadora do Comitê Brasileiro pela Anistia, ex-conselheira da OAB-RJ, militante dos Direitos Humanos
- Antonio Carlos Alkmim, Cientista Social
- Aroeira, Cartunista
- Artur Obino, pesquisador da Coppe/UFRJ
- Áurea Maria da Rocha Pitta – Pesquisadora (aposentada) da Fiocruz. Militante de Políticas de Comunicação em Saúde
- Benedita da Silva, Deputada federal pelo PT
- Bernardo Karam, Professor do Instituto de Economia da UFRJ
- Bete Mendes, Atriz
- Bruno Cattoni, Jornalista e Poeta
- Camila Pitanga, Atriz
- Carla Marins, Atriz
- Cássia Reis, Atriz e Professora de Artes Cênicas
- Celso Amorim, diplomata e ex-ministro das pastas de Defesa e de Relações Exteriores
- César Guerreiro, Empresário
- Chico Diaz, Ator
- Cibele Azevedo Correa, Arquiteta
- Cibele Vrcibradic, Professora
- Clarice Niskier, Atriz e Produtora
- Clarisse Sette Troisgros, Produtora de TV.
- Claudia Versiani, Jornalista e Atriz
- Claudius Ceccon, Cartunista
- Conceição Evaristo, Escritora
- Cristina Buarque, Cantora
- Cristina Pereira, Atriz
- Damir Vrcibradic, Juiz do Trabalho.
- Daniel Carvalho de Souza, Designer.
- Dedina Bernadelli, Atriz
- Didu Nogueira, Compositor e Cantor
- Dira Paes, Diretora Suplente, Atriz.
- Dulce Pandolfi, Historiadora
- Eduardo Tornaghi, Ator
- Eleonora Maria Osório Barroso, Psicóloga
- Eliane Longo da Silva, Artista Plástica
- Elina Pessanha – Professora da UFRJ
- Emilio Gallo, Jornalista.
- Felipe Addor, Engenheiro
- Felipe Charbel, professor de História da UFRJ
- Fernando Willian, Vereador pelo PDT
- Frei Mário TaurinhoOp, Frade Dominicano, Psicólogo e Professor Universitário.
- Generosa de Oliveira, Produtora Cultural e Educadora Social
- Geovani Martins, Escritor
- Gilberto Miranda, Ator.
- Gisele Cittadino, Jurista, professora associada da PUC-Rio
- Graça Lago, Jornalista
- Hélène Sidet – Intérprete de Conferência
- Íris Gomes da Costa, Escritora, Roteirista, Pesquisadora
- Itamar Silva, liderança da Favela Santa Marta
- Jacqueline Castro, Professora Aposentada
- Jandira Feghali, Deputada federal pelo PCdoB
- João Mauricio Rodrigues Feitosa – Arquiteto
- L. Edmundo Aguiar – Educador
- Leo de Queiroz Benjamin, Médico
- Leonardo Boff, Teólogo
- Leonardo Vieira, Ator
- Leonel Brizola Neto, Vereador pelo PSOL
- Letícia Sabatella, Atriz
- Ligia Bahia, Professora da UFRJ
- Lígia Dabul, Socióloga, professora da Universidade Federal Fluminense
- Ligia Nogueira, Professora.
- Lúcia Maria Ozório, Professora pesquisadora
- Luciana Heymann, Historiadora
- Luciana Lopes, Jornalista
- Luciana Saldanha, Professora, militante do Coletivo MVJR-RJ
- Luiz Antonio Elias, ex-Secretário executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
- Luiz Carlos de Sousa Santos, Economista
- Luiz Edmundo Aguiar, Educador
- Lusmarina Campos Garcia, Pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
- Lygia Jobim, Advogada
- Marcelo Burgos, Professor da PUC -Rio
- Marcelo Freixo, deputado federal pelo PSOL
- Marco Antônio Fernandes Marques, Marcão, Cidadão carioca
- Marcos Frota, Ator
- Maria Alice Rocha, Professora universitária
- Maria Carmen Machado Arroio, do CNPq
- Maria Cristina Capistrano, Orientadora pedagógica
- Maria Ferreira Machado, Educadora
- Maria José dos Santos, Médica aposentada
- Maria Zilda Bethlem, Atriz.
- Mario da Paixão Taurinho
- Mario Lago Filho, compositor, poeta e produtor cultural
- Maristela S. Pimenta, Arquiteta
- Marquinhos de Oswaldo Cruz, cantor e compositor
- Monica Rabelo, Feminista, ativista dos direitos humanos e contra as desigualdades sociais, raciais e de gênero.
- Mônica Kornis, Socióloga
- Orlando Guilhon, FNDC – Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
- Osmar Prado, Ator
- Otto, Cantor
- Paulo Garrido, Presidente da Associação dos Funcionários da Fiocruz
- Paulo Lins, Escritor
- Paulo Magalhães, Sociólogo
- Paulo Sérgio da Rocha Pitta, Comerciante
- Pepita Rodriguez, Atriz
- Priscila Camargo, Atriz e Contadora de Histórias
- Regina Fernandes, Psicóloga
- Regina Gutman, Atriz
- Reimont Otoni, Vereador pelo PT
- Ricardo de Gouvea Correa, Arquiteto
- Ricardo Magalhães Montenegro, Administrador e Professor da Faetec
- Ricardo Rezende Figueira, Padre, Professor na UFRJ
- Rogério Wiliams de Paula Duarte, Professor e integrante do grupo Linhas do Rio.
- Salete Hallack, Arquiteta, Designer e Fotógrafa
- Sandra Mena Barreto, Socióloga
- Sergio Marone, Ator
- Silvia Buarque, Atriz
- Simone Lial, Cantora, Compositora e Preparadora vocal
- Theodoro Caldas Polycarpo. Aposentado
- Tuca Moraes, Atriz e Produtora
- Van Furlanetti, Conselho Fiscal, Ator e Escritor
- Vanessa Giácomo, Atriz
- Vera Vital Brasil, Psicóloga
- VicMilitello, Atriz, Produtora e Diretora Teatral
- Virginia Berriel, Atriz, Jornalista, Diretora do Sinttel-Rio, Secretária Sobre a Mulher Trabalhadora da CUT-RJ
- Wagner Moura, Ator
- Waldeck Carneiro, Deputado estadual pelo PT
- Zezé Polessa, Atriz
- Umberto Trigueiros Lima, Jornalista
Para assinar: AQUI.
–
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Emilia Wien.
E preciso rep www tri e insistir nas falas qhe levem à conacientizacao das pessoas. Multiplicar manifestos cartas e falas até que a maioria se ponha a pensar.