Turismo no Parque do Jalapão expõe comunidade quilombola à covid-19

Proposta de reabertura da unidade de conservação, durante a pandemia, contraria medidas de proteção de população vulnerável

Por Mônica Nogueira

A pequena comunidade quilombola da Mumbuca se assustou, na última sexta-feira (19), com a visita de técnicos Agência do Desenvolvimento do Turismo, Cultura e Economia Criativa (Adetuc) do estado do Tocantins, propondo a reabertura do Parque Estadual do Jalapão à visitação de turistas.

No local, nobre destino turístico do país, vivem adultos, idosos e crianças em situação de vulnerabilidade do ponto de vista do acesso aos serviços de saúde. As lideranças comunitárias temem que a volta dos visitantes, neste momento, propicie o contágio pelo novo coronavírus.

“Há muitas pessoas vulneráveis na comunidade, idosos e pessoas com diabetes e pressão alta. Ou seja, muitos estão no grupo de risco. Precisamos preservar as vidas de nossos mais velhos”, destaca manifesto lançado pela comunidade.

A proposta da Adetuc ignora a situação de vulnerabilidade dos moradores da Mumbuca e vai na contramão de medidas de segurança adotadas em outras comunidades quilombolas país afora. Houve a suspensão da circulação de turistas no Território Kalunga (GO), no Vale do Ribeira (SP) e em Paraty (RJ), como medida de prevenção ao novo coronavírus.

Ana Cláudia Matos, uma das lideranças da comunidade, lembra que os Mumbuca precisam recorrer a cidades próximas em busca de atendimento médico, enfrentando longas viagens. A unidade básica mais próxima está a 305 quilômetros da comunidade. “A morte dos nossos mais velhos terá consequências irreversíveis para o nosso patrimônio cultural”, frisa.

Conhecida pelo artesanato do capim dourado, a comunidade da Mumbuca está no Jalapão há mais de cinco gerações. A criação do Parque, em 2001, colocou sob estatuto de proteção ambiental uma enorme área do estado do Tocantins, que compreende as terras da Mumbuca. Por isso, nos anos seguintes, essa comunidade precisou lutar para permanecer no lugar e seguir com suas tradições, que incluem o manejo sustentável do capim dourado.

“Ainda que o turismo seja importante para o estado, precisa levar em conta a necessária proteção da comunidade quilombola da Mumbuca, a principal responsável pela conservação do Jalapão até os dias de hoje”, afirma Mônica Nogueira, professora da Universidade de Brasília.

Foto: Olayinka Babalola via Unsplash.com / MPF

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