O ministro Ricardo Salles voltou à ofensiva. Em entrevista ao CB.Poder, parceria do Correio Braziliense com a TV Brasília, Salles refutou as críticas de investidores e empresários do Brasil e do exterior à política ambiental. Ele também defendeu a regularização da mineração na Amazônia como uma saída para conservar a floresta – a despeito de todos os impactos ambientais que essa atividade pode causar ao meio ambiente.
“Você [Amazônia] tem reservas gigantescas de ouro, diamante, nióbio, manganês, cassiterita, e nós vamos continuar fingindo que não tem essa discussão?”, disse Salles. “Vários dos países que nos criticam fazem mineração em áreas sensíveis do seu território, como a Noruega, que explora petróleo em pleno mar do norte”.
Salles também rejeitou que a intensificação da atividade mineradora possa transformar a Amazônia em uma “Serra Pelada”. “Temos parâmetros muito mais rigorosos que devem ser seguidos. Veja o exemplo da floresta de Carajás, no Pará — onde a Vale tem sua reserva de minério e explora. A área de floresta é uma das mais bem preservadas da Amazônia, porque a Vale cuida”.
Os ambientalistas, alvo frequente dos ataques de Salles, voltaram à baila. Para Salles, é “inconcebível” ter organizações brasileiras indo ao exterior para destacar os problemas ambientais do país. “O certo seria conversar e resolver o problema aqui”, disse, ignorando que o governo fechou diversos comitês e conselhos ambientais consultivos e restringiu o acesso de organizações da sociedade civil aos colegiados que sobreviveram ou que foram recriados. Como “resolver o problema aqui” quando não existe interesse em dialogar?
Em tempo 1: A concepção de “sucesso” de Salles é peculiar. Mesmo como o aumento acentuado da destruição nos últimos meses, o ministro divulgou um balanço dos resultados das metas institucionais do Ibama no combate ao desmatamento de junho de 2019 e maio de 2020, dizendo que o órgão cumpriu “100%” de sua meta de redução do desmatamento em 80% na Amazônia Legal. Em nota ao Metrópoles, o ministério reforçou a avaliação. “A meta estipulada e alcançada foi a de atender a 80% dos alertas críticos de desmatamento, índice atendido e, portanto, meta 100% cumprida”.
Em tempo 2: Desde 16 de julho, estão proibidas as queimadas na Amazônia e no Pantanal por decreto federal, com validade para 120 dias. Essa foi uma das medidas tomadas para apaziguar os ânimos de investidores internacionais. No entanto, Jennifer Thomas informa na Veja que a proibição ainda não teve efeito. Como descreve o InfoAmazônia, o acompanhamento do INPE, na comparação entre janeiro e julho de 2020 com o mesmo período do ano anterior, três estados apresentaram altas muito importantes no número de queimadas: Pará: 43%; Acre: 33%; e Amazonas: 22%.