Projeto Daki-Semiárido Vivo é “uma iniciativa única, inovadora e com grande potencial para gerar mudanças permanentes”

Por Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)

Na terça-feira passada (18) à tarde, vários países da América Latina – principalmente os que têm em seus territórios áreas secas, focos de processos crescentes de desertificação e localidades mais afetadas pelo aumento da temperatura do planeta e pela ocorrência de eventos extremos no clima – estavam conectados no lançamento pela internet line de um projeto emblemático para o momento em que o planeta passa: o Daki – Semiárido Vivo. O evento foi transmitido pelas redes sociais das organizações envolvidas.

Nas palavras de Alexandre Pires, da coordenação nacional da Articulação Semiárido (ASA): “Esta tarde damos outro passo importante na articulação e intercâmbio de conhecimentos que envolvem dinâmicas sociais, culturais, econômicas e políticas nas regiões semiáridas de toda la América Latina”.

E mais à frente, ele expressa um desejo para esta ação, fruto de uma articulação entre duas redes de organizações da sociedade civil, a ASA e a Plataforma Semiáridos: “Espero que este projeto possa aproximar ainda mais a aliança da Plataforma Semiáridos de América Latina e a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) com os governos locais e nacionais, com o FIDA [Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrário] e outras agências multilaterais, em defesa de um enfoque político que tenha em seu centro a proposta da convivência com o Semiárido”.

O conceito da ‘convivência com o Semiárido’ é algo muito caro para a ASA, que foi um sujeito político que deu grande impulso para a sua concepção a partir de ações práticas. Foi com esta construção ideológica que a ASA e outros sujeitos fizeram o enfrentamento de outro conceito que só gerava fome e pobreza no Semiárido brasileiro, o ‘combate à seca’. Este termo servia de lastro para alimentar a ‘Indústria da Seca”, que sob a justificativa de desenvolver ações emergenciais para socorrer as vítimas da seca, extraiam dos cofres públicos recursos para financiar obras hídricas em propriedades privadas de pessoas relacionadas com o poder político e econômico em diversas instâncias federativas.

No lançamento do projeto, que diminui as distâncias entre as áreas secas da América Latina, outro conceito foi trazido com força: Semiáridos. No plural. Segundo Gabriel Seghezzo, da Plataforma Semiáridos e da Fundação para o Desenvolvimento da Justiça e Paz, com atuação na região do Grande Chaco (Argentina, Bolívia e Paraguai), Semiáridos é “um conceito político, climático, social, econômico e cultural”.

Segundo Gabriel, Semiáridos expressa um nome emblemático porque não evidencia apenas regiões com semelhanças climáticas e de paisagens. “Há também outras semelhanças mais profundas: diversidade cultural, que nos orgulha; diversidade biológica que dá a região um potencial de desenvolvimento; o histórico de trabalho social e organizativo que gera uma massa crítica institucional impressionante; milhares de organizações indígenas e campesinas com suas lutas semelhantes, diagnósticos e soluções que podem debater e pensar em direção ao futuro, para juntos, vencer a exclusão e a marginalização, que também são características comuns em nossas regiões”, declarou Gabriel.

Segundo dados citados na fala de Alexandre, cuja fonte é a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma fundação ligada ao Ministério da Saúde do Brasil, das 800 milhões de pessoas em situação de fome no mundo, metade são agricultores e agricultoras que vivem em regiões semiáridas, cuja realidade se agrava ainda mais com o fenômeno da crise climática que torna ainda mais crítica a dificuldade no acesso à água de qualidade, bem como à segurança alimentar e a outros direitos humanos básicos.

Nas falas que celebravam e anunciam o início de uma ação de grande porte na América Latina, a de Antônio Barbosa, que coordena o Projeto Daki-Semiárido Vivo e dois programas da ASA de estoque de água para a produção de alimentos e de sementes crioulas, carregou as tintas no destaque de algo que é um dos principais princípios da ação: o reconhecimento e valorização do conhecimento dos povos do Semiárido. Mas o projeto não só propõe reconhecer e valorizar. Sua proposta é construir metodologias para que este conhecimento popular sistematizado ganhe força para impulsionar a criação de políticas públicas de diferentes âmbitos governamentais.

“Queremos destacar a importância do conhecimento tradicional, que respeitado e em diálogo com o conhecimento acadêmico podem enfrentar as mudanças climáticas e seus impactos na vida e nos territórios semiáridos da América Latina”, profetizou Antônio. E sintetizou: ‘[O projeto é] uma iniciativa única, inovadora e com grande potencial para gerar mudanças permanentes”.

Na sua fala, Claus Reiner, gerente de programas do FIDA para o Brasil, ressalta uma percepção do Fundo das Nações Unidas de que não há muitas capacidades para apoiar o processo de transformação rural que se dá devido às mudanças no clima. “São diversos sistemas que [as famílias rurais] necessitam para sobreviver nestas condições. Estas práticas agrícolas resilientes ao clima são muito importantes e é o que o projeto vai fazer: Identificar, analisar e documentar, através de diferentes formas, as práticas agrícolas resilientes ao clima.”

A moderadora do evento, Zulema Burneo, coordenadora da Coalizão Internacional pela Terra (ILC) para América Latina e Caribe, salienta que projetos como o Daki-Semiárido Vivo são parte de um processo maoir e complexo capaz de gerar um capital social e humano a partir de relações sustentáveis entre organizações sociais e agricultores, indígenas, campesinos e quilombolas, que cria uma atmosfera de confiança e respeito, e também a partir das relações entre as instituições que executarão o projeto Daki-Semiárido Vivo.

Para conferir o evento, clique aqui ou aqui.

Foto: Articulação Semiárido Brasileiro (ASA).

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