Não causa surpresa que o julgamento que definirá a extradição ou não de Julian Assange para os Estados Unidos esteja passando em brancas nuvens na imprensa comercial. Afinal, Assange é um pária, ele fez o que nenhum desses órgãos de imprensa é capaz de fazer: trabalhar com a verdade dos fatos. Jornalista raiz, como há tempos não se vê. Logo, é natural que se silencie sobre essa presença inoportuna no mundo moderno, no qual a mentira é elemento básico.
Craig Murray, ativista britânico pelos direitos humanos que está acompanhando o caso em Londres, é um dos poucos que tem repassado informações sobre o que acontece dentro do tribunal, já que os jornalistas parecem se importar muito pouco com o destino de Assange. Ele conta que acompanhando os depoimentos dos médicos que cuidam de Julian na prisão fica bastante claro que as autoridades mentem quanto as condições de saúde do prisioneiro. Tão logo foi tirado da embaixada do Equador, o criador do WikiLeaks foi enviado para a “área médica” da prisão, embora tenha sido confinado em uma solitária. Nessas condições, por três meses, a sua saúde foi se deteriorando e os próprios médicos que deram depoimento foram obrigados a reconhecer que Julian só melhorou um pouco quando deixou a tal “área de cuidados de saúde”. Também foi revelado que Julian e a médica que lhe foi destinada, a dra. Daly, não conseguem manter uma boa relação, o que faz com que o prisioneiro não tenha as condições para narrar seus sintomas.
Murray também conta que outros médicos que se ocuparam de Assange revelaram as várias tentativas dele em cometer suicídio, chegando inclusive a esconder uma lâmina de barbear nas dobras da cueca que, felizmente, foi encontrada. A polêmica se dá porque a médica responsável pelo prisioneiro jamais registrou nos prontuários essas tentativas. E por quê? Certamente para esconder o verdadeiro estado de saúde de Julian.
Outros depoimentos médicos buscaram minimizar os diagnósticos de problemas mentais do prisioneiro, alegando que ele só estaria na ala médica para sua própria proteção e não porque ele apresentasse qualquer distúrbio digno de nota. Por outro lado, a defesa de Julian apresentou documentos que comprovaram não apenas as tentativas de suicídio como também as impressões de outros médicos quando da chegada do prisioneiro à prisão, que atestavam ele estar visivelmente abatido e perturbado e que uma junta havia chegado à conclusão de que ele tinha impulsos suicidas. Ainda assim, a dra. Daly não registrou no prontuário nada que levasse a crer que Julian tivesse problemas de saúde. Por quê? Para Murray, há cristalinas evidências de que Julian foi mantido em isolamento como uma punição, e que isso alterou bastante o seu estado de saúde, embora nada tenha sido registrado, com a provável intenção de não dar qualquer motivo para um possível relaxamento da prisão ou coisa assim.
A verdade sobre todas as torturas físicas e psicológicas a que Julian Assange vem sendo submetido na prisão em Londres vai surgindo assim, a conta-gotas, em pequenos lapsos que surgem nos depoimentos. Um martírio que dura anos, simplesmente porque ele decidiu contar ao mundo a verdade sobre os crimes de guerra dos Estados Unidos e sobre os podres que vivem debaixo dos tapetes dos poderosos do mundo. Assange está pagando um preço alto por essa decisão. É incrível que mesmo sem pesar sobre ele mais nenhuma acusação – aquela de que ele teria estuprado uma jovem já foi derrubada – a dita justiça o mantenha preso, sob tortura. Por quê? Essa é uma pergunta que precisa ser repetida e repetida.
O escandaloso caso Assange é a prova cabal de que a justiça tem classe e dono. Nesses tempos em que as mentiras são o prato principal da imprensa e das redes sociais, dizer a verdade sobre os poderosos é crime.
Tudo o que se espera é que Julian Assange consiga resistir e que a roda do tempo gire mostrando a farsa e os verdadeiros criminosos.
A verdade prevalecerá. Força, Julian. Fique vivo.
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Os apoiadores do fundador do WikiLeaks, Julian Assange, pedem sua liberdade fora do tribunal Woolwich Crown, no sudeste de Londres. Foto: Daniel Leal-Olivas /AFP