MG: Em Juatuba, moradores sofrem com falta d’água após rompimento da barragem da Vale

Interrupções, água turva e mau cheiro são alguns dos problemas relatados

Wallace Oliveira, Brasil de Fato

Nesta quinta (8), moradores da cidade de Juatuba, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, realizaram uma ação nas redes sociais, com vídeos que denunciam dificuldades no acesso à água na cidade. A manifestação foi iniciativa da Comissão de Atingidos dos bairros de Francelinos e Satélite.

Segundo os moradores, o problema começou após o rompimento da barragem da mineradora Vale S/A, em Brumadinho (MG), em janeiro de 2019, que contaminou a bacia do Rio Paraopeba.

“Temos problemas com desabastecimento e, quando a água chega, é pouco volume, às vezes escura e com mau cheiro. O desabastecimento se intensifica na época da seca. Algumas regiões ficam uma semana sem água. O bairro Eldorado já chegou a ficar quase 40 dias. Temos relatos de doenças alérgicas”, relata Joelisia Feitosa, moradora de Juatuba e integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

A Câmara Municipal de Juatuba abriu uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as falhas nos abastecimentos, ineficácia do tratamento de esgoto e descumprimento de contratos. Os trabalhos da comissão ainda estão em andamento. A CPI solicitou um estudo para analisar a qualidade da água em três pontos da cidade.

Resposta da Copasa

“Desde o acidente, em janeiro de 2019, a Copasa não está captando água no rio Paraopeba”, informa a empresa, por meio de nota.  No último mês, a falta de água teria sido provocada por problemas operacionais, como queda de energia elétrica, agravada pelo alto consumo, em função do aumento da temperatura.

A companhia afirma que instalou provisoriamente reservatórios de fibra de vidro em alguns bairros da cidade. Além disso, segundo a Copasa, a cidade está sendo abastecida somente pela represa Serra Azul, que não foi contaminada pelo rejeito da Vale. No início da semana, a represa estava com 89,2% de sua capacidade.

Novo ponto de captação no Paraopeba tinha prazo para terminar em 24 de setembro, mas mineradora não cumpriu 

O abastecimento da Região Metropolitana é um sistema integrado. Em 2015, a Copasa realizou uma obra de captação do rio Paraopeba para a estação de tratamento Rio Manso. O projeto, que custou cerca de R$ 128 milhões em investimentos públicos, tinha como objetivo responder à situação hídrica preocupante.

Na época, em razão da seca, o Sistema Paraopeba, composto pelos reservatórios Rio Manso, Serra Azul e Vargem das Flores, chegou a ficar com apenas 31,3% de sua capacidade.

Alternativa destruída

A água captada graças ao projeto ajudaria a suprir as demandas em períodos de pouca chuva. Porém, com o rompimento da barragem B1, em Brumadinho, o rio Paraopeba foi contaminado. Em julho de 2019, um Termo de Compromisso foi assinado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o Estado de Minas Gerais, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), a Vale S/A e a empresa de auditoria Aecom.

No Termo, a mineradora se comprometia com o financiamento de obras para criar novo ponto de captação no Paraopeba, 12 km acima da Estação Rio Manso. A obra seria parte da reparação ambiental e permitiria evitar futuras situações de racionamento ou desabastecimento.

As obras estavam previstas para terminar em setembro de 2020. Porém, o prazo não foi cumprido e, no dia 24 de setembro, o MPMG cobrou da mineradora um cronograma definitivo, mas não obteve a resposta.

Na terça-feira (6), em audiência judicial na Comarca de Belo Horizonte, o juiz Elton Pupo Nogueira deu à Vale um prazo de 10 dias para apresentar o cronograma. O juiz também fará uma consulta à Copasa para saber se o atraso nas obras pode provocar desabastecimento na Grande BH.

“Como a gente se cuida sem água?

“A Copasa poderia estar captando água do rio Paraopeba em um ponto que não teve problemas de contaminação. Só que a Vale está trabalhando de uma maneira muito morosa para concluir essa obra”, argumenta Vanderlei Martini, coordenador da Associação Estadual de Defesa Ambiental e Social (AEDAS), uma das entidades que prestam assessoria técnica aos atingidos.

O vereador Wellington Pinheiro (PMN), integrante da CPI, também acredita que o abastecimento da cidade foi prejudicado pelo rejeito da mineradora. “Na minha opinião, a ausência da captação de água no rio Paraopeba, que foi suspensa devido ao rompimento da barragem, deixa o sistema de água Paraopeba numa certa insegurança hídrica, uma vez que fica dependente do nível de água nos mananciais Serra Azul, Rio Manso e Vargem das Flores”, conclui.

Em meio à pandemia, com as autoridades sanitárias recomendando lavagem constante das mãos e objetos, a água para higiene e prevenção não está garantida para os moradores de Juatuba. “Como a gente se cuida sem água? Se não tem água para beber, quanto mais para fazer higiene pessoal e da casa! Isso é entregar as pessoas à doença e à morte. É desesperador”, avalia Joelisia Feitosa.

Outro lado

A reportagem encaminhou pedido de resposta à Vale, mas, até o fechamento da edição, não obteve resposta. 

Edição: Elis Almeida

Crédito: Pixabay

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