Durante pandemia, governador enfatizou o papel do Instituto Butantan e dos hospitais públicos, mas nem sempre foi assim
Redação Brasil de Fato
Após a aprovação da Coronavac pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no domingo (17), o governador João Doria afirmou que “a vacina é uma lição para vocês, autoritários que desprezam a vida”, numa referência às ações negacionistas diante da pandemia de covid-19, frequentemente endossada pelo presidente Jair Bolsonaro.
O comportamento de Doria se contrapõe às suas medidas enquanto prefeito de São Paulo e governador do estado, que vão no sentido de desmantelar o Sistema Único de Saúde (SUS), e, consequentemente, a saúde pública.
Abaixo, o Brasil de Fato listou quatro vezes em que Doria trabalhou contra a saúde pública de São Paulo:
Fechamento da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp)
Em 2019, a gestão Doria ameaçou fechar o laboratório da Fundação Oncocentro de São Paulo (Fosp), responsável por exames para detectar câncer, atendimento de pacientes e pesquisa em cancerologia, que atua no atendimento e assistência pública há 45 anos.
O laboratório público da Fosp, que atende a 342 unidades de saúde espalhadas pelo estado de São Paulo, realiza cerca de 250 mil exames de papanicolau e 13,7 mil biópsias de colo, mama e pele por ano, sem contar mais de 3 mil exames de imuno-histoquímica por mês, cerca de mil exames destes para o diagnóstico específico de câncer de mama.
Em audiência pública, organizada recentemente na Assembleia Legislativa de São Paulo pela deputada Beth Sahão (PT-SP), o psicólogo Paulo Iakowski Cirillo afirmou que a notícia do encerramento das atividades foi recebida com tristeza e apreensão pelos profissionais da entidade. “Durante 45 anos, fomos a esperança dos pacientes que chegam ao Oncocentro e agora tudo aquilo está em risco”, lamentou.
Fechamento e redução de UBS
Em 2017, no primeiro ano de João Doria na Prefeitura de São Paulo, os tucanos tentaram fechar cerca de 100 unidades de saúde, entre Unidades Básicas de Saúde e Assistência Médica Ambulatorial (AMA).
Após muita pressão dos usuários das unidades, trabalhadores e parlamentares, o governo tucano desistiu da medida. Mas não sem antes fechar algumas unidades, como a UBS República, no centro, e a UBS Parque Imperial, no Ipiranga. As que não foram fechadas, tiveram o horário de funcionamento reduzido em duas horas– passaram a fechar às 17h e não mais às 19h.
Doação de medicamentos perto do prazo de validade
Na mesma linha, em 2017, Doria tentou fechar as farmácias das unidades de saúde, prometendo um programa para que as pessoas pegassem medicamentos em drogarias da rede privada. Para ganhar simpatia à ideia, receberam uma grande doação de 165 tipos de medicamentos por 12 indústrias farmacêuticas.
No entanto, a maior parte da doação estava perto de vencer o prazo de validade e 35% acabaram indo para o lixo, causando um prejuízo de R$ 60 mil à prefeitura para realizar o descarte adequado desses produtos. Além disso, Doria e Bruno Covas, o seu então vice-prefeito, tinham prometido que a doação chegaria ao valor de R$ 120 milhões, mas apenas 10% disso realmente chegou nas unidades.
Privatização de órgãos ligados ao SUS
A primeira versão do PL 529, de autoria do governador João Doria, incluía um pacote de privatizações, incluindo a Fundação para o Remédio Popular (Furp) e novamente o Oncocentro, que fabrica próteses e realiza pesquisas relacionadas a câncer.
O governo decidiu retirar do texto do PL a privatização desses dois institutos para conseguir aprovar o pacote de ajuste fiscal, o que acabou acontecendo, após as mudanças, pela Assembleia Legislativa (Alesp), em outubro de 2020, transformando-se na Lei nº 17.293.
Edição: Rogério Jordão