Para a surpresa de ninguém, o governo Bolsonaro aproveitou as primeiras conversas oficiais com a Casa Branca de Joe Biden para passar o caneco e pedir dinheiro para financiar a proteção da Amazônia. Segundo reportagem de André Borges e Felipe Frazão no Estadão, os ministros Ernesto Araújo e Ricardo Salles afirmaram ao enviado especial de Biden para o clima, John Kerry, que qualquer medida de proteção ambiental e ação climática no Brasil depende da disponibilidade de dinheiro de fontes externas. Como disse uma fonte aos jornalistas, o espírito da conversa foi “a gente faz, mas vocês vão ter de pagar”.
De acordo com Eliane Oliveira n’O Globo, Salles também aproveitou a conversa para repisar a questão do mercado internacional de créditos de carbono, mecanismo previsto no Acordo de Paris, mas ainda sem definição por conta de desentendimentos entre os países.
Mas o governo dos EUA está com os dois pés atrás com relação à demanda financeira do Brasil. Como destacado por Jamil Chade no UOL, a argumentação de Salles e Araújo não convenceu a equipe de Biden. Afinal, se a questão é a disponibilidade de recursos externos para proteção na Amazônia, por que raios o governo Bolsonaro forçou o congelamento do Fundo Amazônia, que por uma década forneceu milhões de dólares em financiamento à proteção ambiental para o Brasil?
Na 6ª feira (19/2), dias após a conversa com o governo brasileiro, Kerry ressaltou em público que os EUA pressionarão os demais países por mais ambição contra a mudança do clima, com ações efetivas já nesta década. “O que interessa é o que os países farão nos próximos anos. Não dá para fingir”.
Deutsche Welle e Poder360 repercutiram também o pedido aos EUA. A Folha abordou o assunto em seu editorial de sábado (20/2).