Maria Augusta Torres, no ISA
Foi no fim de 2014 quando Cássio e eu chegamos para trabalhar no Instituto Socioambiental (ISA) em Altamira, no Pará. Havia duas vagas para o trabalho com as comunidades beiradeiras das Reservas Extrativistas da Terra do Meio e nós éramos os candidatos. Viajamos por 40 dias por todos os cantos do Rio Xingu, Rio Iriri e Riozinho do Anfrísio, junto com Augusto Postigo, nosso então coordenador de campo e Nin, o piloto da voadeira. Nessa nossa primeira e intensa aventura amazônica juntos, pude conhecer um menino simples, sereno, determinado, de alma caridosa e um coração gigante!
Ele já havia trabalhado, pelo Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia (NAPRA), com populações ribeirinhas em Rondônia. Além de todo conhecimento como tecnólogo de saneamento ambiental, que aplicava nos seus trabalhos pela Amazônia, Cássio tinha um dom nato de cuidar das pessoas ao seu redor. Acredito que por saber e gostar dessa sua característica, foi fazer mestrado na área de enfermagem em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP).
Cássio era vegetariano convicto, e sabia que isso fazia bem não só para sua saúde, mas para todo o planeta. Capoeira angola que era, Cassio vivia lutando por um mundo socialmente mais justo e ambientalmente saudável, sempre com o ritmo leve e alegre do toque do seu berimbau.
Quando Cássio partiu de Altamira estava determinado a se embrenhar em lutas ainda maiores junto aos povos da floresta na Amazônia. Foi então que encontrou seu caminho junto ao povo Munduruku, quando foram guerreiramente fazer a autodemarcação da Terra Indígena Sawré Muybu e lutar contra as inúmeras invasões e ameaças que ainda sofrem os povos indígenas no Brasil. Durante essa vivência, Cássio se contaminou com a grande quantidade de mercúrio jogada nas águas do Rio Tapajós pelos garimpos ilegais.
Com a síndrome de Minamata avançada em seu corpo, doença degenerativa, nosso amigo ainda lutava fazendo vídeos de denúncia sobre as atividades predatórias que destroem e matam não só a biodiversidade das florestas, mas também as pessoas que ali vivem. Cássio faleceu no último domingo (4), em decorrência da intoxicação por mercúrio.
Cássio Freire Beda foi mais uma vítima do projeto de destruição da Amazônia. Seu trabalho, suas denúncias e sua luta não serão esquecidos.
Nossos profundos sentimentos à família e a todos amigos e amigas que compartilharam de sua companhia.
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Imagem: Cássio Freire Bera e Madim em 2015 na Terra do Meio, Pará|Arquivo pessoal