As conexões entre Salles e madeireiros acusados de crime ambiental

ClimaInfo

O fim de semana de Ricardo Salles teve cheiro de queimado. Diversas reportagens publicadas na 6a feira (30/4) mostraram ligações pouco republicanas entre o ministro do meio ambiente e madeireiros acusados pela Polícia Federal de exploração ilegal de madeira na Amazônia.

Na IstoÉ, Ricardo Chapola identificou o envolvimento de Salles com integrantes da família de Walter Dacroce, suspeita de grilagem no Pará e uma das fornecedoras de madeira da empresa Rondobel Madeiras, proprietária de parte dos 200 mil m3 de toras apreendida pela PF no final do ano passado. Nos últimos meses, Salles se colocou publicamente a favor dos madeireiros, questionando as investigações da PF. Em resposta, o então superintendente da corporação no Amazonas, Alexandre Saraiva, encaminhou ao STF uma notícia-crime contra Salles, acusando-o de obstruir as investigações. No documento, Saraiva citou o “perdão” dado pelo Ibama a parte dos 20 autos de infração emitidos pela PF contra a família Dacroce como indício de favorecimento dos madeireiros pela gestão Salles.

Aline Maciel também explorou na Agência Pública as conexões entre Salles e os Dacroce. No dia 17 de março, o ministro se encontrou com representantes da madeireira Rondobel, junto com parlamentares bolsonaristas de Santa Catarina. Parte dos presentes da reunião (em especial, da família Dacroce) também possui propriedades rurais no Pará, que fornecem madeira para a empresa. De acordo com a matéria, o grupo pediu a Salles que ele atuasse para “resolver o problema” causado pela fiscalização da PF.

Na Veja, Juliana Castro e Eduardo Gonçalves tiveram acesso ao inquérito da PF, encabeçado até duas semanas atrás por Saraiva, afastado do posto depois de denunciar a atuação suspeita de Salles em favor dos madeireiros. As investigações da PF levantaram indícios do lobby dos madeireiros sobre altos escalões do poder em Brasília e sobre governos municipais e estaduais amazônicos. Um dos interlocutores mais frequentes é o senador Zequinha Marinho (PA), representante ruralista que (pasmem) também serve como presidente da Comissão Mista de Mudança do Clima do Congresso Nacional. Outro parlamentar próximo ao grupo é o também senador Telmário Mota (RR), outro acusado por Saraiva de interferir nas investigações da PF em favor dos madeireiros.

Em entrevista a Nádia Pontes na Deutsche Welle, Saraiva deu detalhes sobre a operação da PF e destacou os indícios de “fraudes grotescas” na documentação apresentada pelas madeireiras sobre a carga apreendida. Segundo ele, mais da metade da madeira não foi reivindicada por um suposto “dono”. Ele também cita a Rondobel, afirmando que a empresa deve cerca de R$ 9 milhões em multas ao Ibama, ainda não quitadas. A Rondobel se defendeu das acusações: em conversa com Camila Mattoso na Folha, o assessor jurídico da empresa, Rafael Favetti, criticou o inquérito da PF, que seria “politiqueiro”.

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