A Associação Nacional dos Servidores de Carreira de Especialista em Meio Ambiente e do PECMA (Ascema Nacional) acusou o ministro Ricardo Salles de desmontar uma operação do ICMBio para desocupar uma fazenda ilegal identificada dentro da Reserva Biológica das Nascentes da Serra do Cachimbo, no Pará. Os fiscais se preparavam também para fazer uma mega-apreensão de gado no terreno. Segundo a entidade, a direção do ICMBio, ocupada por policiais militares indicados por Salles, ordenou em cima da hora a mudança do alvo da ação e a modificação de seu foco para o simples levantamento de alertas de desmatamento na região. A operação estava prevista para acontecer nesta semana, nos mesmos dias em que Salles e os presidentes do IBAMA e do ICMBio participarão dos primeiros trabalhos da Força Nacional de Segurança Pública no apoio à fiscalização contra o desmatamento no Pará.
De acordo com a Ascema, a presença de Salles se resume, mais uma vez, a uma ação midiática, um “circo” armado pelo ministro para chamar a atenção e desviar o foco dos números alarmantes do desmatamento na Amazônia nos últimos meses. A entidade também divulgou uma série de e-mails trocados pela direção do ICMBio e fiscais que estavam envolvidos na operação na Serra do Cachimbo. Nas mensagens, o coordenador de fiscalização do Instituto, Eric Motoyama, notificou os servidores sobre a “mudança no foco” da ação e perguntou a eles se teriam interesse em seguir participando dela. O UOL destacou trechos dessas mensagens.
Nas redes sociais, a mudança na operação do ICMBio ganhou grande repercussão. O Fiscal do Ibama, perfil colaborativo de servidores anônimos contrários ao desmantelamento da política ambiental sob Salles, acusou o ministro de “beneficiar o infrator [ambiental]” ao mudar o foco da ação no Pará. Giovana Girardi e André Trigueiro destacaram a denúncia feita pela Ascema.
Em tempo: Sem transparência alguma, Ricardo Salles decidiu estender o prazo para conclusão das atividades de um grupo de trabalho dentro do ministério do meio ambiente que analisa a possibilidade de fundir IBAMA e ICMBio. Segundo informou Sonia Racy no Estadão, a pasta prorrogou o funcionamento do grupo por mais 120 dias. Desde outubro de 2020, quando foi criado, o grupo se reuniu 16 vezes.