Nos últimos dias, as acusações contra Ricardo Salles vêm se avolumando. A Folha, por exemplo, destacou as ligações entre empresas de exploração e venda de madeira nativa brasileira com um escritório de advocacia que o ministro mantém em sociedade com a mãe dele. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou o acesso pela Polícia Federal a relatórios de inteligência financeira produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) sobre Salles. Segundo a PF, análises sobre as operações financeiras do escritório da família Salles nos últimos dois anos apontam para um “conteúdo bastante interessante” para a investigação. Parte dessas informações foi vazada na semana passada para a imprensa. Segundo o Poder360, o vazamento foi feito por policiais federais contrários à direção da corporação e ao governo Bolsonaro.
A Folha também mostrou a atuação incisiva de Leopoldo Penteado Butkiewicz, assessor de Salles, para liberar uma propriedade rural embargada pelo IBAMA por infração ambiental. Em mensagens obtidas pela PF, Leopoldo teria cobrado diretamente de servidores do IBAMA que decidissem pela regularização da situação ambiental de um imóvel rural no Mato Grosso. Mais grave, o jornal também explicou as acusações contra Salles e auxiliares do ministério do meio ambiente e do IBAMA de envolvimento com um esquema de facilitação ao contrabando de produtos florestais, que envolveria desde a elaboração de pareceres técnicos, a emissão de licenças e a fiscalização até o julgamento das multas em questão.
Enquanto isso, Bolsonaro e aliados do governo tentam contra-atacar. O presidente defendeu publicamente Salles, tido por ele como um “excepcional ministro” que foi alvo de “setores aparelhados do MP” e “dos xiitas [sic] ambientais”. Já o diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, apresentou uma proposta de reestruturação interna da corporação que diminui a autonomia dos delegados nas investigações sobre autoridades com foro privilegiado – como é o caso da Operação Akuanduba. Se aprovada, a medida concentraria o poder de decisão acerca dessas operações nas mãos da própria direção da PF, hoje alinhada com Bolsonaro, sob a justificativa de “melhorar a supervisão das investigações”.
A proposta foi contestada pela Federação Nacional dos Policiais Federais (FENAPEF), que argumentou que a medida “atacaria frontalmente o papel constitucional do Ministério Público de exercer, como atribuição, o controle externo sobre as políticas investigativas, incluindo a PF”. Folha, Poder360 e Valor deram mais detalhes.
Em outra frente, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, entrou com uma ação no STF para obrigar que qualquer juiz, antes de decidir sobre pedidos de busca e apreensão, quebra de sigilos (fiscal, bancário e telefônico) e prisão provisória, consulte o Ministério Público. Para alguns procuradores, a ação é vista como uma resposta ao fato de Aras, hoje bolsonarista de carteirinha, não ter sido ouvido pelo STF antes da Operação Akuanduba ser realizada. Estadão, Jota, O Globo e Valor repercutiram essa notícia.