50 cidades brasileiras homenageiam Raoni Metuktire

Nos 50 anos do Dia Mundial do Meio Ambiente, líder indígena é exemplo e inspiração para todos que defendem a natureza!

Por Marcia Sousa, no Ciclo Vivo

Raoni Metuktire, único indígena brasileiro indicado ao prêmio Nobel da Paz, está sendo homenageado por um grupo de 20 organizações da sociedade civil brasileira na semana em que se comemoram cinco décadas da criação do Dia Mundial do Meio Ambiente. 

Nada menos que 50 cidades brasileiras, incluindo as 24 capitais estaduais, estão recebendo lambes de 6 metros quadrados com artes mostrando o líder mebêngôkre. A ação, que teve início na última quinta-feira (2/6), segue até o Dia do Meio Ambiente (5/6) e inclui projeções em oito localidades em quatro diferentes cidades: São Paulo (SP), Recife (PE), Tefé (AM) e Belo Horizonte(MG) e um mural em Manaus (AM). 

“Vamos ‘raonizar’ as cidades na semana do meio ambiente porque Raoni é um exemplo vivo de paz e uma inspiração para todos que defendem a natureza”, explica Jonaya de Castro, do Megafone – uma das organizadoras da ação.

“Além de ser um guardião da vida e um dos principais defensores dos direitos indígenas, Raoni Metuktire destaca-se pela forma como fez isso: sempre por meio do diálogo”, acrescenta Megaron Txucarramãe, sobrinho de Raoni que o acompanhou na campanha da demarcação da terra Indígena Mēbēngokre-Kayapó e da criação do Instituto Raoni. “Homenagear Raoni nos 50 anos do Dia do Meio Ambiente é uma forma de fazer com que as novas gerações conheçam este símbolo vivo da paz e do diálogo. Em tempos de tanta intolerância e radicalismo, a lembrança de Raoni é sopro de esperança para todos nós”, completa Jonaya. 

Perguntado sobre a mensagem que gostaria de deixar para os outros brasileiros, o cacique Raoni respondeu: “Todos nós devemos nos preocupar com a floresta. Nos comprometermos com a demarcação de todas as terras indígenas do Brasil e com o fortalecimento da Funai. E que esse compromisso se transforme em amizade e em tempos de paz.” 

Lambe em Campo Grande | Fred Diegues

A criação dos lambes foi um processo coletivo que teve início durante a residência artivista no Condô Cultural, em março deste ano. Os artivistas Matsi (neto de Raoni) e Raul Zito fizeram algumas artes e uma delas, com uma foto do cacique tirada por Todd Southgate, recebeu a frase “O futuro é indígena” – que resume a necessidade de preservarmos a natureza se quisermos solucionar as crises do clima e de biodiversidade que colocam nossa sobrevivência em risco – diagramada como se saísse de um megafone.

A arte inclui também uma fala de Raoni na língua falada pelos mebengokre: 

Amej bê 1954 kam ne kubē mēbêngôkre krõ. Kam ne bēnjadjwyry Ropni abatàj nyre kam pyka kuni kôt myjja mari mokraj. Kam ne ari kubê Villas Boas kôt kubē kabēn ma ne kam kubē kukràdjà ma. Nhym kam Ropni arym mēbêngôkre kadjy kubē kangõj mokraj. 

Em português: 

Em 1954, quando o povo Mbêngôkre estabeleceu contato definitivo com os brancos, Cacique Raoni tinha aproximadamente 24 anos e teve um papel fundamental no processo de pacificação e união das diversas aldeias dos povos indígenas. Nesta época, conheceu os irmãos Villas Boas, com quem aprendeu a falar a língua portuguesa e a tomar consciência do mundo não-indígena.

O mural em Manaus, por sua vez, foi concebido por Raiz Campos, grafiteiro e muralista criado na floresta amazônica e cujo trabalho se notabiliza por retratar a cultura da região. 

Lambe em Teresina. Foto: Mauricio Pokemon

Raoni Metuktire 

Não se sabe ao certo a data de nascimento do hoje cacique Raoni Metuktire, mas acredita-se que ele tenha 91 anos. Nascido no Mato Grosso, onde hoje reside na aldeia Metuktire, localizada na Terra Indígena Capoto-Jarina, Raoni foi protagonista em diversas lutas em favor dos povos indígenas e da Amazônia, consolidando-se como uma liderança legítima e porta voz da preservação do meio ambiente. 

Em 1954, Raoni teve o primeiro contato com o homem branco, tendo aprendido português com os irmãos Villas-Boas. Em 1964, encontrou-se com o rei Leopoldo III, da Bélgica, quando este fez uma expedição em terras indígenas no Mato Grosso. Na década seguinte, em 1978, foi tema de um documentário intitulado “Raoni”, indicado ao Oscar e que contou com a participação de Marlon Brando na sequência de abertura.

Em 1984, negociou com o então ministro do interior, Mário Andreazza, a demarcação de sua reserva. Em 1987 e 1988, teve protagonismo, ao lado de outras lideranças indígenas, na garantia dos direitos dos povos indígenas na Constituição Federal.

Ainda em 1987, o encontro com o cantor Sting daria início a uma parceria que lhe conferiu notoriedade internacional. Juntos, eles fizeram uma grande turnê por 17 países de abril a junho de 1989, na qual defendeu a criação de um parque nacional na região do Xingu – projeto que encontrou apoio junto a políticos e personalidades internacionais, como os ex-presidentes franceses François Mitterrand e Jacques Chirac, o rei Juan Carlos da Espanha, o príncipe Charles e o Papa João Paulo II, entre outros. Empenhou-se na luta contra Belo Monte. 

Em 2011, Raoni recebeu o título de cidadão honorário de Paris. Já em 2019, um grupo de ambientalistas e antropólogos apresentou seu nome como candidato ao Prêmio Nobel da Paz de 2020 por sua defesa vitalícia da floresta. Em 2020, recebeu o Prêmio Darcy Ribeiro, sendo a quinta personalidade a receber o prêmio, que é destinado a pessoas ou entidades cujas ações mereceram destaque especial tanto na defesa, quanto na promoção da educação no país. No ano seguinte, 2021, recebeu o título de Membro Honorário da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Ilustração: Homenagem a Raoni em Manaus

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