O desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na Amazônia deve intensificar a pressão do governo dos Estados Unidos sobre o Brasil durante a Cúpula das Américas, programada para esta semana em Los Angeles. O presidente da República deve fazer seu primeiro encontro formal com o colega norte-americano Joe Biden, e aliados políticos do Palácio do Planalto ainda têm a esperança de que a conversa sirva para restabelecer as pontes entre Brasília e Washington. No entanto, como Valdo Cruz destacou no g1, o caso no Vale do Javari pode dificultar esse diálogo.
De acordo com Jamil Chade no UOL, a Casa Branca quer que o presidente brasileiro subscreva uma declaração conjunta dos países das Américas que reafirma compromissos para proteção do meio ambiente, ação contra a mudança do clima e o desmatamento, e a transição para fontes renováveis de energia. Esses pontos são vistos pelo Itamaraty com preocupação e, por ora, não há indicação de concordância pelo lado brasileiro. Além disso, existe também a questão do “imponderável” – ou seja, o que raios o presidente brasileiro falará nessa reunião. Como Robson Bonin assinalou na VEJA, o chanceler Carlos França está “no escuro” no que diz respeito à possível resposta do chefe dele para eventuais cobranças sobre desmatamento e garimpo na Amazônia. Eliane Ferreira também abordou as expectativas do Brasil para a Cúpula das Américas n’O Globo.
Enquanto isso, Emilio Sant’Anna apontou no Estadão que os principais compromissos assumidos pelo Brasil na Conferência do Clima de Glasgow (COP26), em novembro passado, seguem apenas no papel. Por exemplo, os representantes do país concordaram na Escócia em zerar o desmatamento ilegal até 2028, restaurar 18 milhões de hectares de floresta até 2030, reduzir as emissões de metano e recuperar 30 milhões de hectares de pastagem.
No entanto, os números dos últimos seis meses vão contra essas promessas: o desmatamento na Amazônia voltou a crescer e se mantém em patamares acima da média histórica. Ao mesmo tempo, fora a proposta banguela de mercado de carbono apresentada no mês passado, o governo brasileiro não avançou com nenhuma medida ou projeto novo para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Pelo contrário: por conta dos “jabutis” aprovados recentemente pelo Congresso Nacional, a geração termelétrica ganhou novos benefícios que podem perpetuar uma tecnologia defasada e indesejada por décadas na matriz elétrica nacional.
Tudo isso dificilmente escapará ao olhar da OCDE na análise sobre uma possível adesão do Brasil à entidade. No Valor, Assis Moreira informou que os técnicos da OCDE devem se debruçar em diferentes dados sobre o país, em temas que vão desde a confiança nas instituições até o desmatamento na Amazônia. Na seara ambiental, serão pelo menos 20 indicadores a serem analisados, a maior proporção entre todas as áreas. Uma preocupação da OCDE é saber se o Brasil está em linha com o compromisso assumido na COP26 de “trabalhar coletivamente para deter e reverter as perdas de florestas e a degradação das terras até 2030”.