Dois indígenas Guajajara foram mortos e outro foi baleado na TI Arariboia, no Maranhão

Entre 2003 a 2021, foram registrados 50 assassinatos de indígenas Guajajara no Maranhão; em nota os Guardiões da Floresta denunciam violência

Cimi

Na madrugada do último sábado (3), dois indígenas do povo Guajajara foram mortos no Maranhão, e outro encontra-se hospitalizado. Os três são da Terra Indígena Arariboia, sendo um deles integrante do grupo de agentes florestas indígenas “Guardiões da Floresta”. Com autonomia de gestão do território e suas formas próprias de organização, o grupo atua na defesa contra invasores.

No município de Amarante (MA), Janildo Oliveira Guajajara foi assassinado com tiros nas costas na madrugada do último sábado. Esse mesmo episódio deixou um adolescente de 14 anos, que não será identificado por segurança, baleado, e encontra-se internado em uma Unidade de Saúde da região, que também não foi divulgada por segurança. Os indígenas temem que haja uma nova tentativa contra a vida.

“Desde então, ele e outros guardiões da região sofrem ameaças constantes e cada vez mais as ameaças se intensificam”

Janildo Guajajara atuava desde 2018 junto aos Guardiões da Floresta, em aldeia próxima de uma estrada aberta por madeireiros e fechada pelos guardiões. Desde a criação do grupo de guardiões, em 2007, 32 ramais madeireiros foram fechados. “Desde então, ele e outros guardiões da região sofrem ameaças constantes e cada vez mais as ameaças se intensificam”, denunciam os indígenas.

Na madrugada do mesmo dia (3), no município de Arame (MA), Jael Carlos Miranda Guajajara, de 34 anos, também foi morto. Informações preliminares apontam que a morte teria sido por atropelamento, porém o povo Guajajara desconfia que se trata de outro assassinato. No entanto, apenas uma investigação esclarecerá o que levou à morte de Jael Guajajara.

“Os três casos evidenciam a escalada da violência que os indígenas no estado já vinham denunciando. Entre 2003 e 2021, foram registrados 50 assassinatos de indígenas do povo Guajajara”

Os três casos evidenciam a escalada da violência que os indígenas no estado já vinham denunciando. Entre 2003 e 2021, a plataforma Caci, que sistematiza os casos registrados pelo relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, do Cimi, registrou 50 assassinatos de indígenas do povo Guajajara no Maranhão; destes, 21 eram indígenas da TI Arariboia.

Em 2007, preocupados com a enorme presença de madeireiros, caçadores e outros invasores, indígenas do povo Guajajara criaram o grupo de Guardiões da Floresta para realizar monitoramento territorial e coibir as ações ilegais no interior da TI. Desde então, seis guardiões já foram assassinados, em represália contra as ações em defesa do território.

“Por todos esses anos fizemos e continuaremos a fazer a proteção territorial mesmo sendo ameaçados e mortos. Somos contrários a violência que mata e destrói, por isso lutamos pela vida”, afirmam os Guardiões da Floresta em nota.

“Por todos esses anos fizemos e continuaremos a fazer a proteção territorial mesmo sendo ameaçados e mortos”

Com a impunidade nos casos de assassinatos contra indígenas no Maranhão, os indígenas têm questionado quais as ações de órgãos como a Polícia Federal, as Secretarias de Segurança Pública e Direitos Humanos e Participação Popular, juntamente com a Força Tarefa de Proteção à Vida Indígena (FT Vida), e as Delegacias Regionais de Arame e Amarante, estão sendo realizadas para coibir e punir os responsáveis por estes crimes.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão, como aliado, se solidariza mais uma vez com as famílias enlutadas e exige justiça para esses assassinatos. Reforçamos a necessidade de mais segurança nos territórios indígenas e mais ações do poder público que venham coibir o derramamento de sangue nas comunidades indígenas, destaca o regional.

Acesse a nota dos Guardiões da Floresta na íntegra:

GUARDIÕES DA FLORESTA
TERRA INDÍGENA ARARIBÓIA

 

Terra Indígena Arariboia – Maranhão, 05 de setembro de 2022

Os Guardiões da Floresta da Terra Indígena Arariboia – Maranhão por meio de sua Associação Ka’a Iwar vem se manifestar e denunciar a continuidade da violência contra suas vidas e contra o seu território. No último dia 3 de setembro mais um guardião da floresta foi assassinado em uma emboscada. Já são seis guardiões da floresta assassinados violentamente sem que a justiça tenha sido feita, sem que houvesse a devida punição e responsabilização pelos autores desses crimes.

O guardião Janildo Oliveira Guajajara já atuava conosco desde 2018 e atuava na região do Barreiro – Terra Indígena Arariboia, em aldeia próxima do local de uma estrada aberta por madeireiros e que foi fechada pelos guardiões. Desde então, ele e outros guardiões da região sofrem ameaças constantes e cada vez mais as ameaças se intensificam.

Por todos esses anos fizemos e continuaremos a fazer a proteção territorial mesmo sendo ameaçados e mortos. Somos contrários a violência que mata e destrói, por isso lutamos pela vida.

Nosso povo clama por justiça e exigimos a devida investigação desse e de outros assassinatos contra o povo Tentehar e queremos resposta da justiça de mais esse crime bárbaro.

Seguiremos fortalecidos na nossa luta pela coletividade, pelo nosso território, pelo nosso povo Tentehar e pelo povo Awá Guajá.

Associação Ka’a Iwar dos Guardiões da Floresta da Terra Indígena Arariboia

Manifestação indígena em Brasília, registro de 2021. Foto: Verônica Holanda/Cimi

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