Lideranças comunitárias, agricultores/as, empresários e acadêmicos estão colaborando com a pesquisa que adota metodologias participativas
Por Érica Daiane / ASACom
Identificar as principais causas e consequências da degradação de terras em regiões do Semiárido brasileiro, bem como apontar soluções e evidenciar iniciativas que já vem sendo desenvolvidas fazem parte dos objetivos de um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – Inpe.
O projeto “Identificação de variáveis socioecológicas sobre degradação da terra de maneira participativa”, trouxe a pesquisadora Jocilene Dantas Barros e o pesquisador Gustavo Balué Arcoverde para o estado da Paraíba e para os estados de Pernambuco e da Bahia, na região do Vale do São Francisco. Iniciada em 2019, a partir do Inpe de São José dos Campos (SP), a pesquisa se volta para regiões da Caatinga, a partir de escalas locais nos referidos estados.
Uma dessas escalas é a região de Petrolina (PE), que envolve também os municípios pernambucanos de Afrânio, Dormentes e Lagoa Grande e os municípios baianos de Juazeiro, Uauá, Curaçá, Jaguarari e Campo Formoso. Já na Paraíba, a escala de Campina Grande engloba os municípios de Queimadas, Montadas, Puxinanã, Pocinhos, Caturité, Cabaceiras, Boqueirão, Boa Vista e Barra de Santana.
Na etapa atual do projeto estão sendo realizadas oficinas participativas por segmentos, a exemplo de lideranças de comunidades tradicionais, agricultores/as familiares; grandes produtores/as e empresários da agricultura; e representantes da academia, envolvendo estudantes e pesquisadores/as. No último dia 08, a Universidade Federal do Vale do São Francisco – Univasf, sediou a oficina voltada para lideranças sociais, a qual foi um momento de escuta do Inpe acerca dos principais temas associados à degradação de terra na região, a partir do olhar de quem vive nas comunidades rurais.
Juciana Carvalho, representando a comunidade Fundo de Pasto de Ladeira Grande, situada em Casa Nova (BA), avaliou que o momento ajudou a refletir melhor sobre a situação de degradação nas comunidades, as ações que podem ser implementadas, considerando que a pesquisa, ao aliar o saber popular e o científico, pode fortalecer as lutas que as comunidades tradicionais já vêm travando em defesa da terra e do meio ambiente de modo geral. “Vai [a pesquisa] dar visibilidade, fazendo com que as políticas públicas possam ser destinadas de forma mais eficaz e em tom de estruturação nesses ambientes mais sensíveis”, espera Juciana.
Esta é uma das intenções do projeto, de acordo com a pesquisadora Jocilene, que adiantou: “tudo que for produzido aqui será entregue para todas as pessoas que estão envolvidas no projeto, instituições interessadas, pra servir como diagnóstico (…). A gente espera também, futuramente, entregar isso para prefeituras, governos, pra que possam executar e melhorar a situação da região”. A representante do Inpe destaca que esse diagnóstico deve conter dados sobre causas, consequências e soluções para reverter a degradação das terras, apontando as áreas mais problemáticas e o que já se apresenta como soluções viáveis e que já vêm sendo experimentadas.
Levantamento
A partir de quatro perguntas, as participantes das oficinas, todas mulheres, apontaram que fatores como o agronegócio, políticas públicas inadequadas, práticas agropecuárias desapropriadas ao Semiárido estão dentre as principais causas da degradação da terra nas regiões de Caatinga. Como consequência disso, diversos elementos foram elencados, a exemplo da desertificação, alteração no regime de chuvas, impacto na segurança alimentar e nutricional, diminuição dos corpos hídricos, esvaziamento do campo, dentre outros.
Para além de apontar a problemática, a oficina trouxe para o projeto também a indicação de soluções tais como: Recaatingamento, combate aos agrotóxicos; educação ambiental contextualizada, incentivo a agricultura familiar e produção orgânica, reforma agrária, reconhecimento e regularização de comunidades tradicionais, o que deve está contemplado em uma política nacional de Convivência com o Semiárido. Além disso, foi apontada a necessidade de intensificar o trabalho de fiscalização e cumprimento das leis ambientais já existentes.
Iniciativas como o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e Programa Nacional de Alimentação Escolar – Pnae, foram identificadas como experiências que já ajudam a combater a degradação de terra no Semiárido, porém, precisam ser fortalecidas. Foram citadas outras como Recaatingamento com participação popular, formação de cooperativas de agropecuária de base familiar, formação de redes de economia solidária, fortalecimento do associativismo, formação de jovens comunicadores/as visando a produção midiática local e independente, dentre outras práticas.
Ao final da oficina, um mapa da região estudada na Bahia e em Pernambuco foi adotado como referência para espacializar aspectos levantados durante o encontro, a exemplo de áreas degradadas, presença de grandes projetos, Caatinga ameaçada, etc.
Mineia Clara, vice-presidenta do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Salitre, considera “importante as lideranças comunitárias serem ouvidas, já que quem convive no meio do sertão, da Caatinga, sente na pele, é quem mais sabe falar o que tá sofrendo”. Ela cita como exemplo de problemas que precisam ser solucionados a falta de saneamento básico rural, ausência de políticas apropriadas e de uma “educação contextualizada dentro do território, pra que a gente não perca a identidade de caatingueiros e catingueiras no meio do Semiárido”, finalizou.