Fiocruz debate crise ambiental no Abrascão 2022

Suzane Durães, VPAAPS/Fiocruz

Para debater o tema A tripla expressão da crise ambiental: mudança climática, ruptura da biodiversidade e poluição, estiveram reunidos, no segundo dia (22/11) do 13º Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva (Abrascão 2022), a jornalista e escritora Eliane Brum; o médico sanitarista e fundador do Projeto Saúde e Alegria, Eugênio Scannavino; e o coordenador do Programa de Saúde, Ambiente e Sustentabilidade da Fiocruz, Guilherme Franco Netto. A mesa foi coordenada pela pesquisadora aposentada da Fiocruz e membro do Grupo de Trabalho Saúde e Ambiente da Abrasco, Lia Giraldo.

Eliane Brum chamou atenção para o negacionismo em relação às mudanças climáticas. “Em todos os setores, mesmo entre os cientistas e jornalistas, estamos vivendo como se não estivéssemos numa emergência climática, como se não estivéssemos testemunhando a extinção em massa de espécies”, afirmou. A jornalista também aponta a importância da Amazônia para o mundo. “Se acabar com a Amazônia, o interesse pelo Brasil desaparecerá. Como dizem os movimentos sociais da floresta, precisamos agora de envolvimento e não des-envolvimento. Lutar pela floresta é se envolver com a vida”.

Na avaliação de Eliane, as soluções não virão do pensamento de matriz ocidental, branco, patriarcal, masculino binário que “está levando a catástrofe”. Para ela, é preciso colocar no centro do pensamento os povos da natureza.

O criador do Projeto Saúde e Alegria (PSA), Eugenio Scannavino, reforçou a fundamental importância dos povos da floresta para a preservação da Amazônia que participou da mesa. O sanitarista disse que em volta das unidades de conservação há muito desmatamento, mad onde vivem as comunidades está preservado. De acordo com Eugênio, essas comunidades enfrentam situação extrema com a insuficiência de políticas públicas. “Como enfrentar um madeireiro com dor de dente ou diarreia? Devido à poluição das águas e a falta de saneamento, há pessoas morrendo por diarreia. Para lutar pela preservação ambiental é necessário boa saúde”.

Eugênio ainda destacou as ações do PSA, iniciativa civil sem fins lucrativos localizada em Santarém, no Pará, que oferece ações de atendimento à saúde para as comunidades tradicionais e apoio e promoção de processos participativos de desenvolvimento comunitário integrado e sustentável que contribuem no aprimoramento das políticas públicas, na qualidade de vida e no exercício da cidadania. Entre as ações está a implantação de barcos-hospitais, que levam saúde às populações ribeirinhas de áreas remotas da Amazônia.

Guilherme Franco Netto ressaltou a importância de biodiversidade no contexto da saúde coletiva. “Não tem como construir um projeto de saúde para o país sem incluir a biodiversidade”, afirmou. Ele apontou ainda que a pandemia da Covid-19 trouxe lições importantes sobre como tratamos a biodiversidade. “A pandemia tem como origem central a destruição dos ecossistemas. A ganância do sistema alimentar global faz com que tenhamos uma transformação entre os microrganismos e os seres humanos. Com isso, gerou um vírus extremamente inteligente, que consegue se transformar para dar sequência ao seu processo de existência”.

Os efeitos da poluição e as mudanças climáticas no planeta também foram abordados por Guilherme. “Eu diria que a mudança climática chegou num estado de permanência e sem nenhuma previsão de alteração para 2100”.

Imagem: Pesquisadores debateram ‘A tripla expressão da crise ambiental: mudança climática, ruptura da biodiversidade e poluição’ (foto: Divulgação)

Comments (2)

  1. Assisti esta atividade do Abrascão 2022.

    Nos debates após as palestras da mesa, Eliane Brum concordou comigo de que a Amazônia e o seu bioma não podia ser mais importante do que os outros biomas (Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa) e o “bioma” Sistema Costeiro e Marinho.

    Argumentei que cada bioma tem suas próprias histórias, suas características socioambientais específicas, seus povos que lá vivem, seus defensores da natureza e, inclusive, sua rede criminosa, que tudo desmata, polui e devasta.

    E em vez de só Amazonizar, como havia dito outro palestrante, temos é de Naturalizar e Gaiar, e assim defender a Teia da Vida. Ou seja, defender a vida em todas as suas dimensões e em suas conexões, em todos os lugares da Terra. Pois não há nada separado de nada e, consequentemente, não há separação entre os biomas e os lugares. E a teoria de Gaia nos mostrou isso. Temos de aprender a sabedoria de Gaia, e com ela dialogar permanente.

    Temos de respeitar o modo de vida de cada povo em seu território. E não nos acharmos os donos da Terra, onde TUDO se vende e pode ser comprado. E o mercado guiar a nossa existência terrestre.

    Conclusão; temos TODOS de nos Naturalizar e Gaiar, terminei assim a minha fala.

    E a plateia aplaudiu este debate que puxei, tanto nas palmas que deram logo após a minha fala quanto da quantidade de pessoas que vieram falar comigo, após o encerramento do evento.

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