Na ocasião, povos indígenas e tradicionais do Maranhão refletiram sobre a retirada de direitos nos últimos quatro anos e a mudança de cenário perante o novo governo
Por Jesica Carvalho, Cimi
Iniciando as atividades da entidade em 2023, o Conselho Indigenista Missionário – Cimi Regional Maranhão participou, entre os dias 12 e 17 de janeiro, dos encontros da Teia Indígena do Maranhão, em Coroatá (MA), e da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, na Comunidade Bica, na Aldeia Velha, em Pirapemas (MA).
Na oportunidade, o encontro da Teia Indígena, que reuniu, nos dias 12 e 14 de janeiro, indígenas dos povos Akroá Gamella, Tremembé de Engenho e da Raposa, Krenyê, Krepym Katejê, Ka’apor, Kariú Kariri, Krikati, Memortmuré-Canela, Gavião e Macuxi-Wapichana, visava “o fortalecimento de união entre os povos e a reciprocidade no acolhimento nas retomadas dos territórios e combate ao racismo estrutural”, explicam os povos presentes.
Durante o encontro, os povos indígenas puderam discutir sobre a articulação da Teia Indígena, a partir da concepção de cada participante. Desse modo, foram citados aspectos como o território em luta, as trocas de experiências, o fortalecimento da cultura tradicional, a união entre os povos, entre outras questões. Os indígenas presentes no encontro evidenciam que “a Teia Indígena é formada por povos e territórios em movimento, na luta articulada por territórios e corpos livres, tecendo o Bem-Viver, trocando experiências e nutrindo a resistência com alegria e rebeldia”.
“O Encontro da Teia Indígena é importante para criar esse sentimento de coletividade, de se sentir parte desse processo de lutas conjuntas, compartilhando vivências e experiências. Juntos, os povos discutem assuntos que tenham a ver com a sua vida nos territórios, como demarcação, políticas públicas de saúde e educação”, destaca Meire Diniz, do Cimi Regional Maranhão.
Na ocasião, os participantes do encontro refletiram sobre a conjuntura indigenista no Brasil em relação ao governo anti-indígena de Jair Bolsonaro, a destruição dos direitos sociais, a mudança de cenário com o novo governo e a necessidade de continuar em luta pelas suas garantias constitucionais.
Para Cotap Akroá Gamella, é de extrema importância a articulação dos povos indígenas em Teia. “Na Teia, nós podemos procurar os nossos direitos, como ter o nosso território, superar os preconceitos e, até mesmo, o direito de ir e vir e de também fortalecer as nossas culturas, pois, esses momentos celebram os nossos costumes, nossas comidas e os nossos meios de vida”, afirma.
Como encaminhamento do evento, Rosa Tremembé, liderança do povo Tremembé, pautou na discussão a retomada do território Kaura, localizado no município de Raposa, região da grande São Luís (MA).
“Esse território já foi solicitado à Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas] pelo povo Tremembé e, devido ao governo Bolsonaro, tudo estava paralisado. Assim, uma empresa de construção imobiliária tomou de conta do território e está loteando e vendendo essas terras”, explica Hemerson Pereira, do Cimi Regional Maranhão.
Desde 2021, o povo Tremembé reivindica à Funai a demarcação do seu território ancestral Kaura. No entanto, mesmo com a pressão nesses órgãos, o processo encontra-se parado, devido à morosidade do estado brasileiro em garantir aos povos indígenas os seus direitos constitucionais, fazendo com que a terra pretendida do povo Tremembé seja tomada por esses empreendimentos que visam apenas o lucro.
Rosa Tremembé solicitou apoio da Teia Indígena nessa causa, que foi acolhida pelos articuladores e articuladoras presentes no encontro, destacando que “Kaura existe! Kaura é nosso!”, em espírito de solidariedade ao povo Tremembé da Raposa.
Por sua vez, o Encontro da Teia dos Povos e Comunidades Tradicionais do Maranhão, aconteceu nos dias 14 a 17 de janeiro, com articuladores e articuladoras que tecem a teia no estado. Na ocasião, o primeiro encontro anual avaliou a realização do 13º Encontrão da Teia, ocorrido em setembro de 2022, na Comunidade Benfica/Janaubeira, Santa Helena (MA), em todos os seus aspectos, além de ter realizado uma projeção para o 14º Encontrão na Comunidade Bica, na Aldeia Velha, em Pirapemas (MA).
Como encaminhamentos do encontro, Meire Diniz destaca que os articuladores e articuladoras da Teia definiram a jornada de lutas para o ano, como se fortalecer e como as ações conjuntas ganham esse tecimento em Teia.
Gilderlan Rodrigues, da coordenação colegiada do Cimi Regional Maranhão, ressalta que a entidade, como uma das articuladoras da Teia, contribui para o fortalecimento das lutas dos povos indígenas nesse espaço. “Esse é um meio em que as lutas se somam e têm mais forças, pois é importante que não lutem sozinhos ou isolados”, acrescenta.
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Imagem: Encontro da Teia Indígena do Maranhão, o primeiro de 2023. Na ocasião, lideranças indígenas do estado discutiram conjuntura indígena e próximos desafios. Foto: Cruupyhre Akroá Gamella