A demanda por petróleo no planeta deve chegar a seu pico antes de 2030 e começar a cair, projeta a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). Mas nem essa previsão é suficiente para que Petrobras e Ministério de Minas e Energia (MME) revejam seus planos de exploração de petróleo na foz do Amazonas. E ainda ganham apoio de políticos numa visão enviesada de desenvolvimento, como mostrou uma audiência realizada na Câmara na 4ª feira (14/6), noticiada pela Agência Câmara.
O presidente da petroleira, Jean Paul Prates, disse mais uma vez que enviou novos dados ao IBAMA, órgão que, com embasamento técnico, negou a licença para a empresa perfurar um poço de petróleo na foz. A sonda de perfuração que a Petrobras manteve em Belém (PA) para o trabalho já está na Bacia de Campos, mas Prates disse que o equipamento pode voltar à região a qualquer momento, relatam O Globo e Valor, a depender da nova avaliação do órgão ambiental – que não tem data para acontecer.
Segundo a colunista Malu Gaspar, d’O Globo, Prates teria dito que a licença sairia em seis meses, porque deixaria o IBAMA sem argumentos e “chega uma hora quem não tem como negar”. O executivo negou a fala e, talvez por isso, tenha dito na 4ª feira (14/6) que não pressionaria o órgão ambiental, de acordo com Metrópoles e epbr.
“Eu não posso apressar órgão ambiental. Apesar da ansiedade, a gente não pode pressionar órgãos reguladores e órgão ambiental. Eles têm autonomia e nós respeitamos. A nossa gestão, pelo menos, respeita muito isso. Eu sou contra quem coloca que o órgão ambiental está atrapalhando, atravancando. Ele está fazendo o trabalho dele. E a gente respeita isso.”
O respeito à autonomia do IBAMA declarado por Prates passa longe do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Em evento da ANFAVEA sobre mobilidade elétrica (ironia do destino), ele disse esperar “bom senso” do órgão ambiental. Isso, para Silveira, significa que “o que esperamos do IBAMA, dos órgãos competentes do meio ambiente, é que eles digam como devemos fazer, e não que não devemos fazer”, informam Valor, CBN e Carta Capital.
Não é novidade, mas Míriam Leitão, n’O Globo, lembra que, em tempos de descarbonização, o governo precisa decidir qual será o caminho que escolherá para o desenvolvimento do país. E tudo indica que isso não passa por explorar petróleo na foz do Amazonas.
“O governo está dividido sobre esse tema. O que está acontecendo não é uma briga do [Jean Paul] Prates com o IBAMA, há algo mais amplo, há uma divisão sobre o que é desenvolvimento. É através de exploração de petróleo, estradas, hidrelétricas? O próprio PT já esteve diante desse dilema e optou por fazer Belo Monte, atingindo Povos Indígenas e deixando uma herança amarga de uma hidrelétrica ineficiente do ponto de vista energético”, lembra Miriam.