Em todo o mundo, de 90% a 99% do desmatamento das florestas tropicais são causados direta ou indiretamente pela agropecuária, mostrou um estudo publicado na Nature em setembro passado. No Brasil, recentemente o Relatório Anual de Desmatamento (RAD 2022) do MapBiomas confirmou a tendência, com 95,7% do total desmatado no país no ano passado ligados ao setor – com 99% desse desmate com indícios de ilegalidade.
Logo, não é nenhuma surpresa que a agenda ambiental se choque com a pauta do agronegócio. Ainda mais com a forte bancada ruralista no Congresso. Entretanto, segundo o Valor, se um diálogo no curto prazo é quase impossível, pautas futuras, como a do marco regulatório do mercado de carbono, podem aproximar os segmentos. Ainda mais com a crescente pressão da União Europeia sobre o agro brasileiro, que preocupa produtores, aponta o Valor. Por isso há uma corrida pelo rastreamento de cadeias produtivas, mostra o Valor.
Mas, até lá, a batalha entre preservação ambiental e agro devastador é longa e está em todo o país. O Cerrado enfrenta o desafio de equilibrar sua importância hídrica com o avanço da agricultura e da perda de vegetação nativa. Como lembra o Valor, a área sob alerta de desmatamento no bioma cresceu 21% no 1º semestre sobre igual período do ano passado.
Outra fronteira agro, o MATOPIBA – região nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – ameaça o último remanescente de Mata Atlântica em território piauiense, de acordo com o Valor. Trata-se da Serra Vermelha, um pedaço intocado do bioma em pleno Semiárido, próximo ao Parque Nacional da Serra das Confusões, no sul do Piauí.
A atividade agropecuária, relata o Valor, também é uma das causas da desertificação em mais de 110 municípios da Caatinga, único dos biomas do país que é 100% brasileiro. A ela soma-se alta densidade demográfica, desmatamento, queimadas, mineração e influência da crise climática.
Após quatro anos em que a fiscalização ambiental federal foi praticamente extinta, com consequentes recordes de desmatamento na Amazônia e no Cerrado, o Brasil retomou uma agenda conservacionista no governo Lula, reativando as operações e colhendo resultados nos seis primeiros meses do ano. Entretanto, pontua o Valor, ainda falta infraestrutura – resultado do sucateamento promovido pelo inominável na área de fiscalização ambiental.
Ministro da Agricultura entre 2003 e 2006, no governo Lula 1, Roberto Rodrigues afirma que o “céu é o limite” para o crescimento da produção do agronegócio no Brasil, e que, para aumentá-la, “não é preciso desmatar mais nada”. Segundo ele, é preciso enfrentar “aventureiros e bandidos” que desmatam ilegalmente. Rodrigues diz que a utilização de pastagens degradadas para a agricultura é uma realidade, e que essas áreas podem suprir a necessidade de mais terras, relata a Folha.
Na Amazônia, o lucro da floresta em pé é evidente. Como mostra o estudo “Nova Economia da Amazônia – NEA”, destacado pelo Valor, novos investimentos e mudanças para a bioeconomia poderão somar R$ 40 bilhões anuais ao PIB amazônico, com 312 mil empregos adicionais, além de mais 81 milhões de hectares de florestas e 19% de estoque de carbono.
O Valor ainda mostra iniciativas para recuperar áreas florestais degradadas, com parcerias que permitem reflorestamento e compensação de pegadas de carbono com novas técnicas para garantir a fixação da planta no solo. Na Amazônia, os sistemas agroflorestais (SAFs) estão em expansão. E mesmo com recursos ainda escassos, os SAFs avançam embalados nos ganhos financeiros que proporcionam às famílias da região, pontua o Valor.
Em tempo: O BNDES bloqueou 182 solicitações de créditos em imóveis rurais com indício de desmatamento, em operações que somam R$ 62,5 milhões e estão espalhadas por 17 estados, conta Julia Dualibi no g1. O bloqueio se baseia nas informações coletadas pela plataforma MapBiomas, com quem o BNDES firmou uma parceria em fevereiro. Os dados coletados são dos últimos 5 meses e representam 0,9% do total de solicitações para financiamentos no período.