Carolina Campos, Fiocruz Ceará
A Fiocruz Ceará, por meio de seu Participatório em Saúde e Ecologia de Saberes, lançou guia e websérie Vigia, Povo!. Os documentos são produtos de uma pesquisa apoiada pelo edital Inova Emergências de Saúde Pública. Os pesquisadores Fernando Carneiro, Ana Cláudia Teixeira e Vanira Pessoa percorreram cinco territórios no Ceará, realizaram oficinas de pesquisa ação com geração de plano de ação em cada um desses territórios. Toda a experiência foi registrada e documentada junto a essas “vozes dos territórios”, representadas nos materiais. A pesquisa também envolveu uma parceria com a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, a Fundação Herinch Boll além de várias unidades da Fiocruz, representantes do Sistema Único de Saúde (SUS), movimentos sociais e academia.
Coordenador da pesquisa, Fernando Carneiro destaca que as lideranças comunitárias são as protagonistas das experiências de vigilância popular em saúde na defesa da vida. “A educação popular e a agroecologia representam também o protagonismo popular na defesa da vida. A diferença com a vigilância popular é que ela apresenta a produção do próprio dado, transformando a informação em ação por meio de tecnologias sociais articuladas com a academia e o SUS preferencialmente, além de um trabalho estratégico de comunicação popular”, comenta.
O pesquisador cita exemplos apoiados pela Fiocruz como os casos de poluição atmosférica que, com monitores portáteis, coletivos de jovens conseguiram medir a qualidade do ar e, confrontar com os dados “maquiados” da empresa, garantindo uma remoção do terreno contaminado, com o apoio do Ministério Público. A morte de abelhas também pode ser utilizada como indicador de vigilância para a ação de proteção à vida em áreas impactadas pelo agronegócio. “São inúmeras as estratégias de vigilância popular e isso se potencializa muito quando conseguimos integrar o SUS e a academia. As comunidades não querem substituir o papel do estado com a Vigilância Popular, mas sim fazer valer o seu direito a saúde”, afirma.
Vigia, povo!
O lançamento da websérie aconteceu durante o Festival Internacional de Cinema Agroecológico (FicaEco), realizado entre os dias 21 e 23 de novembro no Rio de Janeiro, como parte da programação do 12º Congresso Brasileiro de Agroecologia, que apresentou uma seleção de filmes que perpassam temáticas agroecológicas.
“Fomos agraciados na Mostra Especial com a obra ‘Omama, deus criador Yanomami’, um troféu feito pelo artista plástico Felipe Corcione, o mesmo que foi enviado para os autores do Oscar. Nossa ideia é que esse prêmio também percorra todos os territórios de pesquisa, à medida em que realizamos os lançamentos da web série nos territórios da pesquisa”.
A série questiona, dentre outros temas, o modelo atual de desenvolvimento e como ele afeta as comunidades do campo, da floresta, das águas e periferias urbanas. Com direção de Uirá Dantas e produtor executivo Fernando Carneiro, a websérie Vigia, povo! apresenta em cinco episódios experiências colhidas no Quilombo do Cumbe (Aracati/CE), Comunidade do Jardim (Fortim/CE), nas comunidades rurais da Chapada do Apodi (Tabuleiro e Limoeiro do Norte/CE), no Assentamento Pedra Branca (Miraíma/CE) e no território Anacé no Lagamar do Cauípe (Caucaia/CE), trazendo anúncios e denúncias por meio das vozes desses territórios.
Guia
O lançamento do guia ocorreu durante encontro do Conselho Deliberativo (CD) da Fiocruz, realizado na última segunda-feira (27/11), no Rio de Janeiro. A reunião teve como pauta a comemoração dos 10 anos da aprovação da Política Nacional de Educação Popular em Saúde. “Apresentamos o guia e uma parte de um dos episódios da websérie. João do Cumbe, que é um dos protagonistas desta experiência, também participou. Foi um momento histórico, com a Educação Popular em pauta no CD, em especial num momento em que está se discutindo uma nova vigilância junto à Fiocruz e ao Ministério da Saúde. A vigilância popular tem muito a contribuir neste debate, de forma mais dialógica e participativa”, avalia Carneiro.
Vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger destacou a importância desses editais que possibilitam entregas que vão servir diretamente ao SUS.
Fernando Carneiro acrescenta que o Ministério da Saúde está com um programa de formação de 50 mil agentes educadores populares em saúde. “Como o nosso material é direcionado para esse público-alvo, há a perspectiva de ele ser reproduzido numa escala nacional. Essa é a nossa expectativa, de forma a ele cumprir o seu papel social junto ao SUS, junto à sociedade, a movimentos, lideranças e a própria academia”, afirma. A Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, liderada por Hermano Castro, e a coordenação da Fiocruz Ceará tem sido uma parceiros estratégicos nesses desdobramentos.