Cidades da BR-319 concentraram 40% das queimadas no Amazonas no auge da seca

A mesma estiagem extrema que lobistas usaram para defender o asfaltamento da polêmica rodovia foi a que propiciou o aumento da destruição no seu entorno.

ClimaInfo

Nos últimos meses, uma seca sem precedentes, soma do El Niño e das mudanças climáticas, fez grandes rios amazônicos minguarem, isolou diversas comunidades e colocou cerca de 600 mil pessoas do Amazonas sob estado de emergência. A estiagem também foi o estopim para a disparada da quantidade de queimadas na região, fazendo com que a fumaça deixasse cidades como Manaus entre as com os piores índices de qualidade do ar do planeta.

A baixa dos rios numa região onde o transporte hidroviário predomina foi o suficiente para que políticos e lobistas bradassem a favor do asfaltamento da BR-319, rodovia que liga a capital amazonense a Porto Velho, em Rondônia. No entanto, mesmo em suas condições atuais, a estrada foi um dos principais vetores para os incêndios criminosos que tomaram a Amazônia no período.

É o que mostra um monitoramento feito pelo Observatório BR-319 e destacado por Vinicius Sassine na Folha. Segundo o levantamento, mais de 40% das queimadas no Amazonas entre agosto e novembro, período crítico da seca, ocorreram em 12 municípios da área de influência da rodovia.

No referido período, houve 17,1 mil focos de calor no Amazonas. E foram pouco mais de 7.000 queimadas nas 12 cidades que estão na área de influência da BR-319, conforme dados do monitoramento do observatório, também destacados pelo Amazonas Atual. Se for incluída a capital de Rondônia, os focos de calor no período chegam a 9.500.

Em agosto, setembro e outubro, a quantidade de queimadas em cidades decisivas para as ondas de fumaça em Manaus foi superior à dos mesmos meses em 2022. São os casos de Autazes e Careiro. No curso da rodovia estão ainda cidades que lideram as queimadas e frentes de desmatamento todos os anos, como Lábrea e Humaitá, no sul do Amazonas. O Observatório BR-319 também constatou que Unidades de Conservação em área de influência da estrada tiveram queimadas em setembro pela primeira vez desde 2010.

O asfaltamento do chamado “Trecho do Meio” da BR-319 vem sendo apontado há tempos por ambientalistas e especialistas como uma séria ameaça à Floresta Amazônica. No ano passado, apenas pela perspectiva do asfalto, o desmatamento cresceu 110% em relação a 2021 nos municípios que margeiam a estrada.

Ainda assim, políticos da região defendem a obra. Havia expectativa de que o asfaltamento seria incluído no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Mas, diante da polêmica, o governo federal recuou e resolveu incluir “estudos sobre a obra” no programa.

O problema é que o grupo de trabalho criado para avaliar a viabilidade da rodovia não tem integrantes nem do IBAMA, nem do Ministério do Meio Ambiente. Só há gente do Ministério dos Transportes, que quer até usar recursos do Fundo Amazônia nas obras [????].

Apesar da estranheza de não ter gente da área ambiental, o GT já começou a trabalhar. Na 2ª feira (11/12), em Manaus, houve a segunda reunião do grupo. O evento, relata A Crítica, reuniu acadêmicos da região, sociedade civil e representantes do setor produtivo, e foi pelo secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.

Reproduzindo ipsis litteris um trecho da matéria do veículo sobre a reunião: “De acordo com o secretário-executivo, a intenção é diminuir o prazo para licenciar a recuperação da rodovia. Mas, para isso, segundo ele, é preciso ouvir as sugestões de todos os interessados, para depois, dialogar com os órgãos de licenciamento e discutir a viabilidade das propostas e o que seria necessário para sua aprovação”. Vai vendo…

Marcos Amend/Observatório BR-319

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