Além do cancerígeno carbendazim, proibida desde 2022 no Brasil, pesquisadores encontraram coliformes fecais e altos níveis de fosfato e nitrato, que são remanescentes de agrotóxicos.
Com os níveis dos rios abaixo do normal num período em que deveriam estar cheios, o Pantanal deverá sofrer a pior seca de sua história neste ano, alertam ambientalistas. Mas, além da falta de chuvas, o bioma está sofrendo com o envenenamento provocado em grande parte pelo agronegócio.
Após meses de monitoramento e análises laboratoriais do rio Santo Antônio, um importante afluente da bacia do Pantanal, pesquisadores da SOS Pantanal encontraram coliformes fecais e altos níveis de fosfato e nitrato, remanescentes de agrotóxicos. Mas o pior foi a detecção de carbendazim.
O carbendazim é um agrotóxico que tem uso proibido no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desde 2022. O produto químico tem potencial cancerígeno e de risco à reprodução humana, conforme especialistas destacaram Jornal Nacional (TV Globo) e g1.
“A gente encontrou uma baixa oxigenação, que pode causar a mortandade de peixes. Mas o principal é o carbendazim, uma substância que está proibida desde 2022 aqui no Brasil, mas tem pessoas utilizando os remanescentes nas lavouras”, explicou Gustavo Figueirôa, biólogo do SOS Pantanal.
Outro produto preocupante encontrado no rio Santo Antônio é o metolacloro. Segundo os pesquisadores, a exposição repetida a esse elemento químico, considerado extremamente tóxico, pode provocar sensibilização da pele.
Para chegar às conclusões, o estudo levou em consideração as dinâmicas de plantações de soja próximas ao afluente; a quantidade de chuva antes dos dias de coleta; as condições climáticas gerais; e locais de fácil acesso.
Além dos elementos químicos, os pesquisadores constataram também a falta de Áreas de Proteção Permanente (APP) no entorno das plantações de soja nos três pontos de coleta de água no rio, na altura da cidade de Guia Lopes da Laguna. Segundo Figueirôa, as propriedades fazem mau uso do solo, o que intensifica a chegada dos agrotóxicos no rio.
Quanto à estiagem, o cenário no Pantanal também é muito preocupante, alertam Folha e ((o))eco. “O Pantanal está vivendo seca extrema em uma época que deveria estar cheio”, alerta Eduardo Reis Rosa, pesquisador do MapBiomas. As cheias na região começam em outubro, atingem seu ápice em dezembro e janeiro e se estendem até março. Mas isso não aconteceu.
Com isso, o Pantanal ainda tem pela frente a escassez hídrica regular de maio a setembro, o que agrava o risco de incêndios, que já causaram vários estragos nos últimos meses. Por isso, Figueirôa, da SOS Pantanal, mostra-se pessimista: “Já está pior que 2021, acredito que será a pior seca da história do bioma”, avaliou.
Mídia Ninja, Campo Grande News, Sagres e g1 também repercutiram o envenenamento por agrotóxicos e a seca que acometem o Pantanal.
Em tempo: A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lançou na 6ª feira (22/3), Dia Mundial da Água, o Relatório Digital de Qualidade da Água. A ferramenta mostra a qualidade da água dos rios em mais de 400 mil trechos em todo o país e é acessível a qualquer pessoa, informa a Agência Brasil. O monitoramento, feito pela Rede Hidrometeorológica Nacional (RNH), é realizado em mais de 10 mil pontos distribuídos no país, divididos em estações que monitoram parâmetros relacionados aos rios, como níveis, vazões, qualidade da água e transporte de sedimentos, entre outros.
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Imagem em destaque (Denise Matsumoto): cientista Mônica Lopes Ferreira é um dos múltiplos casos de perseguição a pesquisadores retratados na série Brasil Sem Veneno.