Moradores criticam falta de consulta popular em termo firmado com a empresa
Jean Silva, Brasil de Fato
“Enquanto o lucro da Coca-Cola cresce, a água diminui em Campinho e Suzana”. Essa era uma das mensagens nas faixas de protesto que cobriram, na última terça-feira (10), o auditório da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Na ocasião, aconteceu uma audiência pública para discutir os impactos do uso das águas do aquífero Cauê para abastecer a Coca-Cola Femsa Brasil, afetando as comunidades de Campinho e Suzana, em Brumadinho (MG).
Exploração de aquífero e acordo sem consulta
Desde 2015, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabirito (SAAE) explora as águas subterrâneas para a Coca-Cola, causando problemas de abastecimento na região, denunciam as comunidades. Em junho deste ano, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi firmado entre o Ministério Público e a empresa, sem consulta aos moradores afetados.
Para os moradores e ambientalistas, o Instituto de Gestão das Águas (Igam) já teria indícios suficientes sobre o impacto do empreendimento e deveria agir de forma mais incisiva diante das evidências de impacto socioambiental.
“Meu argumento é um grito de socorro e indignação com a falta de clareza que estamos vivendo há muitos anos. Falta transparência. Fizeram um termo de acordo sem sequer saberem das necessidades dos moradores que lutam contra isso desde 2015”, criticou Cláudio Bragança, presidente da Associação dos Moradores de Campinho.
O morador também destacou que a falta de água está deteriorando a convivência na comunidade.
Durante a audiência, o geólogo Ronald Fleisher apresentou imagens de satélite, mostrando a relação entre a Coca-Cola e as nascentes locais. Para o biólogo Gilson Reis, “a empresa puxou a água e secou as nascentes”, sendo necessário aprofundar as investigações sobre as responsabilidades.
Omissão e críticas ao Igam
Cléverson Vidigal, ambientalista da ONG Abrace a Serra da Moeda, acusou o Igam de omissão ao conceder a outorga de água sem estudos consistentes. Ele destacou que, mesmo com os problemas já evidentes desde 2015, uma vazão de água dada para a Coca-Cola foi aumentada recentemente em 35%.
Para a deputada Beatriz Cerqueira (PT), autora do pedido de audiência junto à Bella Gonçalves (Psol), a situação das comunidades está longe de ser resolvida.
“Conforme o Ministério Público, está tudo resolvido e encaminhado, mas, na perspectiva das comunidades, não está. Estamos em uma situação gravíssima e o Igam trouxe informações genéricas”, criticou a parlamentar, anunciando como próximo passo uma visita técnica ao instituto, para obter dados sobre estudos, entre outras informações.
Outro lado
Procurada pelo Brasil de Fato MG, a Coca-Cola Femsa Brasil afirma que sua unidade em Itabirito (MG) está em total conformidade com as licenças operacionais e ambientais necessárias para a execução de suas atividades.
Já o Igam não respondeu até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para manifestações.
*Com informações da ALMG
Edição: Ana Carolina Vasconcelos
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Imagem: Desde 2015, o SAAE explora as águas subterrâneas para a Coca-Cola, causando problemas de abastecimento na região – Guilherme Bergamini – ALMG