Oeste do Paraná: bando usa caminhão e tratores para atacar retomada Avá-Guarani a tiros, agrotóxicos e pauladas

Ataque nesta quinta-feira (17) teve uso de agrotóxicos e deixou ao menos dois feridos, além de mais um animal doméstico morto

Por  Cimi

Enquanto o Estado brasileiro segue com ‘pacificações’ palacianas, nos territórios indígenas segue a ‘pacificação’ histórica: nesta quinta-feira (17), a retomada tekoha Yvyju Avary, em Guaíra, no oeste do Paraná, sofreu um ataque realizado por homens armados empoleirados na caçamba de um caminhão adaptado e em quatro tratores. Além de atirar contra os indígenas da aldeia Avá-Guarani, os criminosos pulverizaram agrotóxicos sobre a comunidade.

Conforme denunciou a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), o comboio miliciano avançou sobre a retomada. Uma caminhonete atropelou um indígena encaminhado às pressas para o hospital de Guaíra. O suposto proprietário da área sobreposta à Terra Indígena agrediu a pauladas um indígena, que acabou ferido na lateral direita da cabeça. Um cachorro da comunidade foi morto a sangue frio pelo bando criminoso.

Em dezembro de 2023, na véspera de Natal, a retomada tekoha Yvyju Avary sofreu um ataque parecido. Na ocasião, as motos dos indígenas foram incendiadas e vários cachorros foram mortos. Há cerca de dois meses, o suposto proprietário usou uma caminhonete para atropelar crianças Avá-Guarani que brincavam no local. Os indígenas o deteram e o entregaram a agentes da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP).

“Clamamos às autoridades para que cumpram com a sua responsabilidade de garantir a segurança e a integridade física das comunidades, assim como que essas agressões sejam apuradas com a devida responsabilização dos criminosos”, se pronunciou em nota a CGY.

A TI Guasu Guavirá tem o Relatório Circunstanciado de Delimitação e Identificação (RCDI) publicado desde 2018, mas a demarcação propriamente dita está paralisada. São cerca de 21 tekohas e sete retomadas, entre elas Yvyju Avary, em três áreas que juntas contabilizam 24 mil hectares de território tradicional reivindicado. A violência contra as retomadas teve uma escalada neste ano a partir de uma série de ataques iniciados no final de 2023.

A partir de julho, as comunidades da TI Tekoha Guasu Guavirá sofreram uma série de ataques armados, que deixaram barracos destruídos, pelo menos dois indígenas feridos por atropelamentos propositais e sete por disparos de arma de fogo, quatro com mais gravidade. A violência contra as comunidades motivou a manutenção a Força Nacional na região, além de idas de autoridades do governo federal e de uma Missão de Direitos Humanos ao território.

Tekoha Y’Hovy atacado no domingo

No final da tarde deste domingo (13), a comunidade Avá-Guarani da aldeia Y’Hovy, também na TI Tekoha Guasu Guavirá, viveu momentos de terror. Disparos de arma de fogo foram efetuados sobre um campo onde jovens e crianças jogavam futebol, na direção da casa de uma das lideranças da comunidade, mas não deixaram ninguém ferido. No início da noite, mais disparos e fogos de artifício também foram ouvidos e deixaram os indígenas em alerta.

Os indígenas relatam que os primeiros disparos ocorreram por volta das 18h.

Os disparos, segundo uma carta da comunidade denunciando o ataque, chegaram a atingir um poste próximo ao campo de futebol – que, por sua vez, fica próximo à casa de uma liderança do tekoha. Quando perceberam que estavam sendo alvo de um ataque, alguns jovens, crianças e adultos Avá-Guarani que estavam no campo correram e outros se deitaram no chão, buscando proteção.

“Todos entraram em pânico, correndo para lá e para cá. Quando eles ainda estavam no campo, jogando bola, começaram os primeiros disparos. Foi em questão de segundos, disparos de arma pesada, não é espingarda ou pistola. Foi tiro de fuzil, metralhadora. Então, não deu tempo de pegar o celular para gravar”, relata uma liderança da aldeia Y’Hovy, que por segurança não será identificada.

Imagem: Indígenas registraram cachorro morto, caminhão e veículos que participaram do ataque ao Tekoha Yvyju Avary, na TI Tekoha Guasu Guavirá, em 17 de outubro de 2024. Foto: reprodução/povo Avá-Guarani

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