Adeus, gente boa que ainda está no Facebook

Tania Pacheco

O Blog Combate Racismo Ambiental abriu sua página no Facebook há 12 anos, no início do primeiro governo Dilma Rousseff. A ideia era contribuir no combate ao Racismo Ambiental, sim, mas a partir da certeza de que ele só seria de fato combatido e deixaria de existir quando nossa visão de mundo tornasse inadmissível o que está nas origens das mais diferentes formas de injustiça, de desumanização, de submissão a um capitalismo que se transformou num cadáver que, em sua decomposição, vem gerando formas ainda mais abjetas.

Assim, ao longo desses anos, enquanto as lutas pelos direitos dos povos indígena, de quilombolas e de comunidades tradicionais dos campos e das cidades registravam crescente protagonismo, acompanhamos e denunciamos paralelamente o golpe que depôs Dilma Rousseff; as ações de Temer dando início ao desmonte dos direitos dos trabalhadores e aposentados, a ser garantido e agudizado a partir do famigerado teto de gastos; o segundo golpe disfarçado que impediu a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, em 2018, viabilizando a entrega do poder Executivo à corrupção neofascista e a transformação do Congresso Nacional em uma feira de horrores vendidos.

No cenário internacional, compartilhamos o sentimento de incredulidade e horror na eleição de seres como Donald Trump e outros representantes da extrema direita; as guerras e genocídios; o papel  desempenhado pelas redes sociais, forjando as concepções de mundo fundamentais para a escalada do neonazismo.

Ponto alto mais recente nesse cenário de horror, testemunhamos o desvario dos estadunidenses  reconduzindo Donald Trump ao poder, cercado por uma corte abjeta e bajulado por bilionários que, entre outras coisas, se pensam capazes de moldar e escravizar nossos cérebros.

Quando Musk comprou o Twitter, optamos por dar um tempo e ver o que acontecia antes de fecharmos a conta do Combate Racismo Ambiental. Vimos e fechamos. Nossa relação com o Facebook, a outra rede onde estávamos presentes desde o início da década passada, passava por constantes ‘punições’, praticamente todas causadas por fotos de crianças indígenas com o torso descoberto ou registrando os corpos esqueléticos das Yanomami. “Exploração sexual de crianças”, segundo o Facebook, que nos impedia de postar ou impedia as novas postagens de circular. Continuamos, com indignação e teimosia. Mas não dá mais.

Estamos dando adeus a mais de 28 mil seguidoras/es. Não acredito que este possa ser um “até daqui a pouco”. Os trumps, musks, besos e zucks estão no poder e pretendem ficar. E minhas entranhas exigem que nos despidamos por aqui. É duro, é difícil. Ao longo das últimas semanas adiamos e adiamos novamente e mais uma vez esta saída, mas continuar seria ser conivente, na minha acepção.  Respeito, entretanto, outras opiniões que defendem a manutenção da luta por aqui.

Este texto permanecerá afixado no topo da página do Combate e na minha página pessoal no Facebook, ao longo desta semana. Fora isso, já estamos no Bluesky há um tempinho, bem devagar, e espero possamos começar a postar no Substack em breve. Fiquei feliz com as pessoas que reencontrei nesses dois espaços; espero reencontrar outras mais, fora as que estamos descobrindo.

O endereço é @taniapac.bsky.social. Vamos nos ver por lá?

 

 

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