Fiocruz participa de projeto de análise de impactos socioambientais em Salvador

Fiocruz Bahia

Duas reuniões em Salvador marcaram o início das atividades do projeto que vai fazer uma avaliação clínica, toxicológica e a análise de impactos socioambientais na Baía de Todos os Santos. A iniciativa, realizada no território da Ilha de Maré, na capital baiana, é fruto da articulação entre o Ministério da Saúde, a Fiocruz, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e o Mandato Popular das Águas — representado pela vereadora Eliete Paraguassu (Psol). O projeto conta com o apoio da Prefeitura de Salvador e da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), que sediaram as duas reuniões.

Segundo o diretor da Fiocruz Bahia, Valdeyer dos Reis, a participação da unidade contribui para a produção de conhecimento, fortalecendo a relação com a população. O diretor destacou que entre os objetivos do projeto está a atenção ao território, com um olhar atento aos determinantes sociais que impactam na vida da população e a participação de marisqueiras, pescadores, comunidades quilombolas e tradicionais que vivem no entorno da Baía de Todos os Santos — considerada a segunda maior do mundo.

Valdeyer destacou ainda a relação com os moradores enquanto agentes produtores de conhecimento. “Envolvendo a população na realização da pesquisa nós apresentamos uma possibilidade de mudança da realidade dessas pessoas, não só em relação ao diagnóstico e ao tratamento, mas também com uma oportunidade de atuar na área da saúde e da ciência”, afirmou.

O pesquisador da Fiocruz Brasília e coordenador do Programa de Promoção da Saúde, Ambiente e Trabalho, Jorge Machado, disse que a realização do projeto engloba uma articulação de experiências institucionais na expectativa de atender as demandas de uma comunidade. Todo o processo tem sido feito junto à comunidade, com o apoio do Movimento de Pescadores e Pescadoras e do Observatório de Territórios Saudáveis e Sustentáveis. “Na discussão sobre o território, estamos falando do diálogo de saberes, promoção da saúde e vigilância e como incorporar a Fiocruz como uma rede de grupos que trabalham com essa questão, promovendo também uma articulação entre as unidades”, disse.

Para o professor da UFBA Paulo Pena, é preciso que a ciência e o fazer científico dialoguem com os conhecimentos tradicionais e as tecnologias de sobrevivência da comunidade de Ilha de Maré, que dependem da Baía de Todos os Santos como território de sobrevivência. “Nós estamos discutindo a saúde das pessoas que trabalham e que têm histórias seculares com suas tecnologias tradicionais que asseguram sobrevivência com sustentabilidade. Essas pessoas são, na sua imensa maioria, negras e que vivem em situações de invisibilidade, de falta de prioridade para ouvi-las no sentido de construir perspectivas que assegurem e melhorem esses modos de vida e do ambiente, aprendendo as lições de sustentabilidade seculares”, afirmou.

A pesquisadora da Fiocruz Bahia Nelzair Vianna atua no território de Ilha de Maré desde 2021, com estudos voltados para a saúde planetária, investigando a poluição do ar e promovendo estudos clínicos e toxicológicos. A pesquisadora também vai participar do projeto, ampliando o diálogo com a comunidade. “Estamos agora animados com a perspectiva dessa nova parceria interinstitucional com capacidade multi e transdisciplinar para desenvolver estudos que atendam as expectativas mais urgentes desta comunidade que vem sofrendo com impactos gerados pela contaminação ambiental e tantos outros relacionados à falta de saneamento, por exemplo. Que estes estudos possam apontar soluções para assegurar melhores condições de vida para essa população “, declarou.

A ativista das causas ambientais Eliete Paraguassu, moradora da Ilha de Maré e primeira vereadora quilombola de Salvador, tem atuado na articulação entre as organizações públicas, o poder legislativo e a comunidade. Durante a reunião para apresentação do termo de cooperação técnica para a execução do projeto, na sede da Codeba, a representante do Mandato Popular das Águas falou sobre a importância do compromisso firmado. “Seguimos buscando uma Salvador do bem viver e uma Bahia que, de fato, garanta dignidade para nossa gente”, afirmou a vereadora, que descreveu esse como um passo decisivo para aprofundar o enfrentamento ao racismo ambiental e garantir o direito à saúde, ao território e à vida digna para as populações das águas.

O projeto de avaliação clínica, toxicológica e análise de impactos socioambientais na Baía de Todos os Santos surgiu como forma de dar uma resposta a uma solicitação das comunidades de pescadores marisqueiros da região de Ilha de Maré que, desde 2009, têm sofrido os impactos da contaminação por metais pesados. Durante a gestão da ex-ministra da Saúde, Nísia Trindade, de 2023 a 2025, a viabilidade do projeto foi autorizada, contando com o apoio do presidente da Fiocruz, Mário Moreira. O projeto prevê atuação de todo o sistema da Fiocruz e suas unidades.

Também participaram da reunião com o prefeito de Salvador, Bruno Reis, o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde, Valcler Rangel, o diretor da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz), Marco Antônio Carneiro Menezes, o vice-diretor de Pesquisa, Desenvolvimento Tecnológico e Serviço de Referência da Fiocruz Bahia, Washington Luis Conrado dos Santos, e a vice-diretora de Gestão e Desenvolvimento Institucional, Flavia Maciel. Em outro momento, em reunião na Codeba, o encontro foi com o diretor-presidente da empresa, Antonio Jose Rodriguez de Mattos Gobbo, o gerente de Meio Ambiente e Segurança do Trabalho, Ricardo Bertelli Pereira, e o chefe de Gabinete, Carlos Luciano de Brito Santana.

Imagem: Delegação da Fiocruz em reunião com o prefeito de Salvador, Bruno Reis (ao centro, de camisa azul)

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