Clare Huggins – RioOnWatch
A primeira Corrida pela Vila foi realizada na Vila Autódromo, no sábado passado, 26 de março. O evento foi organizado pelo movimento de resistência da comunidade em colaboração com o artista brasileiro Igor Vidor e reuniu moradores, ativistas e apoiadores, nos quatro quilômetros em torno da comunidade. Os eventos de sábado fazem parte das atividades semanais, em curso, na Vila Autódromo, onde os moradores acolhem e convidam apoiadores para se envolverem com a comunidade e apoiarem a sua luta contra a remoção.
Sábado não foi só um reflexo da resistência contínua da Vila Autódromo e da luta para viver ao lado do Parque Olímpico, mas também foram homenageadas as comunidades de todo o mundo que sofreram remoções devido aos megaeventos. No sábado, a Vila Autódromo foi presenteada com a Tocha Olímpica da Pobreza, que tem sido repassada entre mobilizadores nas cidades-sede das Olimpíadas desde que foi criada em 2010, em Vancouver. A tocha representa uma série de questões relacionadas com as Olimpíadas incluindo remoções devido à especulação imobiliária. Quando o revezamento da tocha chegou a Londres, em 2012, os organizadores disseram: “O revezamento da Tocha da Pobreza destaca questões Olímpicas de longa data como as remoções, a confiscação de terras e a exclusão dos pobres. Londres-2012 não é diferente. Os Jogos Olímpicos simbolizam o poder corporativo e crescente desigualdade social”. Entretanto, quando a tocha chegou na Vila Autódromo, a moradora Natália Silva disse: “A tocha tem um significado importante… E esperamos passá-la para uma comunidade na próxima cidade anfitriã [Pyeongchang, Coreia do Sul]”.
Nas últimas semanas a Prefeitura aumentou a pressão sobre a comunidade com as demolições devastadores da Associação dos Moradores e da casa e centro religioso afro-brasileiro de Helena Heloisa. No início deste mês demoliram a casa de Maria da Penha, no Dia Internacional da Mulher. A perda de sua casa não removeu Penha e sua família da Vila Autódromo. Por enquanto, eles continuam com a luta na Igreja Católica, localizada no coração da comunidade.
Na semana passada, quarta-feira dia 23 de março, a comunidade sofreu mais um golpe com a demolição de uma área de lazer da comunidade: o parquinho [LINK]. O parque foi revitalizado através de um mutirão em novembro do ano passado. A Prefeitura também mudou a fronteira física da comunidade sem aviso, e um morador foi ameaçado por um agente da CEDAE.
As demolições acontecem num momento em que o discurso oficial é de que a Vila Autódromo permanecerá. Moradores ainda não tinham visto os planos do prefeito para a comunidade, mas alguns receberam convites individuais para se encontrarem com o prefeito e discutirem o plano na segunda-feira, 28 de março. No sábado, os moradores relataram que esperavam fazer sugestões e terem influência sobre o plano. Moradores publicaram um comunicado na página oficial da comunidade do Facebook na segunda-feira de manhã: “As famílias esperam que a partir de hoje se inicie um processo menos traumático; democrático, de legalização e de urbanização decente, leal, verdadeira e sem armadilhas”.
Após a corrida de sábado, moradores e apoiadores comemoraram o aniversário de 15 anos de Flora. Ela e seus três irmãos vivem na Vila Autódromo desde que nasceram. A festa incluiu uma oficina, música e comida. A mãe de Flora, Sandra Maria, é uma figura forte na luta da comunidade e recentemente apareceu em um vídeo amplamente compartilhado descrevendo a pressão psicológica que a comunidade está sofrendo e também agradecendo aos apoiadores.
Apesar de tudo o que a comunidade tem passado ao longo dos anos e principalmente nas últimas semanas, os moradores continuam a organizar eventos semanais, a convidar apoiadores para irem em suas casas e celebrar o espírito da comunidade, o que só tem crescido com o tempo, apesar das demolições. A Vila Autódromo planeja realizar outra Corrida pela Vila nas próximas semanas e manter um programa regular de atividades nos fins de semana.