Mostra de Arte Jardim Suspenso retorna à Babilônia com Residência Artística

Clara Ferraz – RioOnWatch

No dia 19 de novembro, a V Mostra de Artes Jardim Suspenso agitou o Morro da Babilônia. O evento, que ocorre há três edições em uma área do morro onde a favela encontra a mata, contou com obras de arte de jovens artistas emergentes e diversas atrações musicais, oriundas da própria comunidade e de fora.

Ao percorrer o caminho de terra batida entre os três palcos que compunham a mostra, o público descobria as quase trinta obras de arte dispostas no local. Em meio a casas e árvores, em um ambiente descontraído, o público se deparava com fotografias penduradas em galhos, instalações sonoras com sons de grilos, poemas em degraus de escadas e anúncios da fictícia “Imobiliária Privilégio”.

Somaram-se às obras dos jovens artistas obras de artistas convidados, como Ernesto Neto, Marcos Chaves, Franz Manata e Saulo Laudares.

A noite, que contou com apresentações musicais de Silvia Duffrayer, Tyaro Maia, Amalá, Maurício Monteiro e sua roda de samba e com sets de DJs da Babilônia responsáveis pela festa Mirante in Concert, chegou ao fim com um samba de balançar o esqueleto tocado pelo Samba de Roda Filhas de Anastácio.

Residência artística

Pela primeira vez desde que surgiu, o festival contou com o apoio do programa Favela Criativa, o que permitiu a realização de uma residência artística de um mês de duração. Os nove artistas selecionados propuseram trabalhos que abordavam questões sociopolíticas do local, dialogando com o espaço geográfico e com os moradores da favela.

A residência permitiu aos moradores conhecer os artistas e suas obras mais de perto. Um dos destaques dessa interação foi a obra de Thiago Antonio, que envolvia a plantação de girassóis pelo espaço da mostra, gerando muito interesse por parte dos moradores e muitos pedidos de girassóis ao artista. Outra obra que teve como destaque a relação com o local foi a performance da Mônica Ventura, que juntou um grupo de mulheres negras em uma apresentação inspirada na Irmandade da Boa Morte. A performance envolvia a utilização de um dos últimos poços naturais remanescentes do Morro da Babilônia, um local de valor histórico e simbólico para a comunidade.

“Desde que a residência começou, os moradores ouviram dizer que ela estava acontecendo e a integração foi mais natural. A mostra foi feita de forma consequente, não foi um festival depositário, que coloniza e gentrifica”, declarou Dandara Catete, idealizadora da mostra e diretora criativa desta edição.

Os organizadores buscaram diversidade entre o grupo de artistas residentes, trazendo artistas de outras favelas e de periferias, tais como o Morro do Dendê e Mesquita, assim como artistas de outros países, como Argentina e Alemanha. Além de contribuírem para a montagem e a criação do catálogo da mostra, os residentes participaram de um processo coletivo de três dias de duração para escolha dos artistas não-residentes. Outros destaques da residência foram a visita ao atelier do artista Cildo Meirelles, a visita ao circuito de herança africana na Zona Portuária, guiada pelo Instituto Pretos Novos, e as visitas dos artistas Fernando Cocchiarale e Jorge Vasconcellos e do teórico Ricardo Basbaum.

Tema central: Descolonização

O tema central da mostra foi o conceito de descolonização, debatido no início do evento em um painel composto por Andiara Dee Dee, artista e ativista do movimento feminista negro, Rodrigo Mondego, advogado de direitos humanos e Álvaro Maciel, membro de uma das famílias fundadoras do Morro da Babilônia e pai de Álvaro Júnior, produtor cultural do Jardim Suspenso desde que o evento surgiu em 2011.

Ao longo de cinco anos de trajetória, o festival–que surgiu com a proposta de ocupar jardins com arte contemporânea–foi ganhando uma dimensão mais pública e política, focando no espaço da arte contemporânea dentro de favelas. Neste contexto atual de crise política e financeira, os organizadores da mostra quiseram focar nas alternativas de co-dependência e auto-legitimação que vem surgindo em contraponto a um padrão colonizador e de dominação.

“Ainda é um pensamento colonizador, de uma certa maneira, você se recusar a entrar na favela e se recusar a fazer arte contemporânea na favela”, ponderou Dandara Catete. “Então como criar uma sociedade mais autossustentável, em que o pensamento é descolonizado, o corpo é descolonizado, a mulher é descolonizada? O que é descolonizado? Instigamos os artistas a pensarem se seus trabalhos eram colonizadores ou descolonizadores”.

Fechamento

No dia 27, ocorreu o evento de encerramento da residência artística e das atividades da mostra, na Casa França-Brasil, das 17h às 22h. O evento foi aberto ao público.

Equipe V Mostra de Artes Jardim Suspenso

Diretora Criativa: Dandara Catete
Produtor Chefe: Álvaro Júnior
Coordenadora Geral: Raquel Azoubel
Arquiteta e Expógrafa: Laura Beringuer

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