Conduzido coercitivamente pela PF, empresário financiou campanha de Sérgio Souza (PMDB); nos grampos, fiscais falam em “muito dinheiro”
Por Alceu Luís Castilho e Cauê Ameni, no De Olho nos Ruralistas/MST
Dois antigos colegas da bancada ruralista veem-se cada vez mais enroscados nos grampos da Operação Carne Fraca. Um deles, Sérgio Souza (PMDB-PR), foi eleito nesta quinta-feira – e por unanimidade – presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara – um dos principais bunkers ruralistas do país. O outro é Osmar Serraglio, agora ministro da Justiça.
Ambos são do Paraná – onde foram deflagradas as recentes investigações sobre frigoríficos. Estado que possui uma das mais fortes bancadas ruralistas do Congresso. Ex-senador, Souza não declarou bens rurais à Justiça Eleitoral, em 2014. De R$ 2,2 milhões que ele recebeu de financiamento de campanha, porém, mais de R$ 400 mil vieram de empresas – ou donos de empresas – do agronegócio.
De Olho nos Ruralistas conferiu a lista dos doadores para essa campanha de Souza e constatou que o sexto maior doador foi Valdecio Antonio Bombonatto, presidente da Fortesolo, com R$ 50 mil. Ele o irmão Almir Jorge Bombonatto foram conduzidos coercitivamente pela PF, no dia 17, para prestar esclarecimentos. A doação para Souza – dentro da legalidade – foi a maior feita por Bombonatto nas eleições de 2014.
Os dois irmãos foram flagrados em conversas com Daniel Gonçalves Filho, então superintendente do Ministério da Agricultura, considerado pela PF o “líder da organização”. Segundo a Gazeta do Povo, a Fortesolo fez pagamentos “suspeitos”, entre 2012 e 2014, para a Dalchem Gestão Empresarial, que pertenceria, na prática, a Gonçalves Filho.
Outro investigado da Carne Fraca que contribuiu financeiramente para a campanha eleitoral de Sérgio Souza foi seu ex-chefe de gabinete, Ronaldo Troncha. Ele também foi alvo de condução coercitiva, na última sexta-feira. Em 2014, doou R$ 12 mil para a campanha do futuro chefe – ele comandou o gabinete do peemedebista entre abril de 2015 e agosto de 2016.
Uma das linhas de investigação da PF é a hipótese de que o esquema de propinas a fiscais arrecadaria fundos para PMDB e PP.
UM NOME QUE REAPARECE
Osmar Serraglio voltou a ser alvo de acusações na Carne Fraca após ter sido retirado de cena pelo Planalto. Já na última sexta-feira (17/03), primeiro dia da operação, ele aparecia em grampo da Policia Federal chamando Gonçalves Filho de “grande chefe”. Agora o ministro teve seu nome citado por uma das fiscais presas preventivamente na semana passada – e figura central no esquema investigado.
“O Speraficos não é o velhinho que está conosco?”, indaga fiscal. “Não, esse é o Serraglio” – Osmar Serraglio: um ruralista na pasta da Justiça (Foto: EBC)
Em interceptação telefônica, feita pela PF com autorização judicial em 1º fevereiro de 2016, divulgada pelo Estadão, Maria do Rocio Nascimento, chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, indaga sobre a lealdade política de Serraglio, na época deputado federal (PMDB-PR). O grupo é acusado pela PF de fraudar a fiscalização nos maiores frigoríficos do país, além de corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
Maria conversa com Flavio Evers Cassou, ex-servidor do governo paranaense – transferido para o Ministério da Agricultura – e funcionário da Seara, também preso preventivamente. Ela reclama de uma proposta do deputado federal Dirceu Speraficos (PP-RS) que trata da fiscalização de cargas animais: “Pô, mas o Speraficos? O Speraficos não é o velhinho que está conosco?”, indaga Maria. “Não, esse é o Serraglio”, completa ele. “Esse Dirceu Speraficos é um fodido”.
QUEM DEFENDIA O “GRANDE CHEFE”?
Na tarde de segunda-feira (20), a senadora Katia Abreu (PMDB-TO), disse na tribuna do Senado que foi pressionada por dois políticos do PMDB – quando era ministra da Agricultura – para não demitir Daniel Gonçalves Filho, ex-superintendente do Ministério da Agricultura no Paraná, segundo a PF “o grande chefe”. Um dos deputados era Serraglio, confirmou a senadora ao G1. O outro era o deputado federal Sérgio Souza.
As acusações da senadora confirmam o conteúdo dos grampos. Souza foi o primeiro deputado a sair em defesa do ministro da Justiça assim que o grampo do “grande chefe” foi revelado. “Não vejo nada de errado nessa gravação. Nenhuma vírgula de errado. As pessoas conversam com pessoas. Isso é normal”, disse o parlamentar.
O Estadão conta que Souza teve seu nome citado em grampo da PF interceptado no dia 11 de abril de 2016, numa conversa entre Gil Bueno de Magalhães e um interlocutor da Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, em Castro (PR). Na conversa, eles dizem que Souza tinha recebido “muito dinheiro” do Daniel Gonçalves Filho e afirmam que o deputado estaria com o “rabo preso”:
Francisco: Gil, aquele, aquele Sérgio Souza, pelo que me falaram, ele tá, ele tá a favor do PT nessa história do impeachment, impeachment?
Gil: Hã han. Tá ele recebe, ele recebeu muito dinheiro do suspenso aí (referência ao fiscal Daniel Filho, que na época havia sido suspenso pelo Ministério da Agricultura)
Francisco: Ah…ah, ele tá com o rabo preso
Gil: É (ininteligível) com ele é, entende?
Francisco: Humm
Gil: Então eu não sei o que ele vai
Francisco: Tá louco, quem escapa hoje em dia não?
Gil: É, é complicado, tá?
Francisco: É
A conversa aconteceu na véspera da votação do impeachment na Câmara. O governo tentava conseguir votos do PMDB para frear o processo.