Aliado de Bolsonaro é condenado criminalmente por plantar bananas na Caverna do Diabo

Invasão de terras em reserva ecológica ocorreu no Vale do Ribeira, base empresarial da família do presidenciável; empresa de Valmir Beber divulgou vídeo de apoio ao candidato do PSL

Por Alceu Luís Castilho, Igor Carvalho e Leonardo Fuhrmann, em De Olho nos Ruralistas

Candidato a deputado federal pelo PSL, o empresário Valmir Beber foi condenado em março a um ano de reclusão pela Justiça em Eldorado, no Vale do Ribeira, interior paulista, por crime ambiental. Ele é acusado de manter uma plantação de bananas em uma área de 19,5 hectares dentro do Parque Estadual Caverna do Diabo. A condenação é de março deste ano e foi substituída por uma pena que o obriga a reparar o dano causado. A juíza Gabriela de Oliveira Thomaze concedeu ao empresário o direito de recorrer da decisão em liberdade.

Beber recebeu 22.031 votos e só não foi eleito por causa da nova cláusula de barreira, que exige um mínimo de votos nominais. Seu principal cabo eleitoral era um dos irmãos de Jair Bolsonaro (PSL). Morador do Vale do Ribeira, Renato Bolsonaro participou ativamente de carreatas e outros atos da campanha do empresário, além de gravar vídeos ao lado dele. O próprio presidenciável gravou vídeos de apoio ao condenado pela Justiça.

EMPRESA DE BEBER FEZ CAMPANHA PARA BOLSONARO

A página da Comércio de Bananas Beber Ltda divulgou no dia 4 de outubro – três dias antes do primeiro turno – um vídeo onde o dono da empresa aparece, ao lado de Renato Bolsonaro, pedindo votos para ele e para o candidato do PSL. O presidenciável aparece em uma imagem ao fundo, ao lado de Beber. “A família Bolsonaro está nos ajudando demais nesta reta final”, diz o empresário. “Todos os dias ele cita meu nome”.

A divulgação de candidaturas por empresas é vedada pela Justiça Eleitoral. O vídeo mostra Renato Bolsonaro falando, em nome do irmão, que Beber foi o escolhido para representar o Vale do Ribeira em nome do agronegócio da região (banana, palmito, pecuária) e de seu projeto presidencial. “Ele quer, realmente, que você chegue lá”.

A página da campanha derrotada de Beber também traz vídeos com Jair Bolsonaro ao seu lado. O empresário pede votos para o amigo. Um dos vídeos foi gravado quando o presidenciável estava hospitalizado, após a facada levada em Juiz de Fora (MG). O candidato do PSL lembra que foi criado não região, conta que os irmãos ainda moram lá e defende a importância de se eleger um candidato do Vale do Ribeira. “Amigos do Vale do Ribeira, em 7 de outubro, todo mundo é Beber”, diz. “Sem essa de importar banana do Equador. A banana é nossa. Tamos [sic] juntos. Vamos dar uma banana àqueles que querem importar banana do Equador”, completa.

Confira o vídeo no Facebook.

A reportagem de abertura desta série mostra que um dos cunhados de Bolsonaro, Theodoro da Silva Konesuk, foi condenado na Justiça a devolver terras que havia tomado do quilombo do Bairro do Galvão, em Iporanga, município vizinho de Eldorado: “Cunhado de Bolsonaro é condenado por invasão de quilombo no Vale do Ribeira“.

BOLSONARO QUER EXPLORAÇÃO DE MINÉRIOS NA REGIÃO

Bolsonaro afirma nesse vídeo de apoio a Beber que as ONGs precisam ser mais regulamentadas porque recebem dinheiro de fora. “E causam distúrbios, confusão e brigas”, diz. O político diz que a região tem também riquezas minerais que podem ser melhor exploradas. Valmir Beber foi diretor da Associação dos Bananicultores do Vale do Ribeira (Abavar), onde Bolsonaro fez palestras contra a importação de banana do Equador.

Obrigado pelo apoio e voto de confiança”, postou Beber um dia após a eleição, no dia 8, com foto ao lado de Bolsonaro. “Não chegamos lá mas trabalhamos muito e você foi o meu maior incentivo. Foram 22.031 votos que nos fortalece [sic] para nunca desistirmos dos nosso projetos e sonhos. Vamos que Vamos. Deus te abençoe. Seu amigo Valmir Beber”.

No caso de Beber, o flagrante de crime ambiental foi feito pela direção do parque, com o apoio da Polícia Ambiental. Em fevereiro de 2014, eles constataram que o empresário causou dano direto à unidade de conservação, impedindo sua regeneração natural. À Justiça, Beber alegou que o bananal não causou dano à reserva porque sua plantação era anterior à criação do parque.

Em seu depoimento, o empresário afirmou que o processo foi provocado por “perseguição política”, pois foi o único proprietário processado entre as cem famílias que residem no local. Ele não apresentou em juízo nenhuma prova dessa perseguição. Alegou ter comprado o terreno em 2005 e nunca ter desmatado nenhuma árvore ou ampliado a plantação. Segundo ele, o Parque Estadual foi criado em 2008 e até então a sua área não pertencia à reserva. O empresário disse que a plantação foi iniciada em 1995, por um antigo proprietário do terreno.

A plantação fica próximo a um curso d’água. Um funcionário de Beber declarou à gestora do parque que era utilizado agrotóxico no cultivo, o que é proibido em áreas de reservas ambientais. A área onde foi plantado o bananal fica desde 1969 dentro de uma reserva ambiental. Por seu tamanho, não servia à subsistência.

RENATO BOLSONARO RECEBIA R$ 17 MIL SEM TRABALHAR

Valmir Beber é dono de oito propriedades com produção de bananas no Vale do Ribeira, uma das regiões mais pobres do estado de São Paulo. São elas: as Fazendas Abóbora, Abóbora II, Caraita, Santa Tereza e Taquary; os sítios Areado, São Joaquim e Taquary II. Ele também é sócio de uma empresa de comércio e transporte de bananas com sede em Apiúna, em Santa Catarina – exatamente a Comércio e Transportes de Bananas Beber, aquela que divulgou vídeo de campanha do empresário com Renato Bolsonaro.

Os interesses em comum entre Beber e a família Bolsonaro ultrapassam a política e têm sua costura na agropecuária. Orestes Bolsonaro Campos, um dos sobrinhos do presidenciável, filho de sua irmã Maria Denise, é dono de plantações de banana e maracujá na região. Angelo Guido Bonaturi Bolsonaro, irmão do político, também cultiva bananas, além de criar gado de corte e leite.

Principal cabo eleitoral de Beber, Renato Bolsonaro é pecuarista de corte. Ele era funcionário do gabinete do deputado estadual André do Prado (PR) até abril de 2016, quando foi exonerado. A demissão ocorreu após a revelação, em uma reportagem do SBT, de que ele era “fantasma”. Ele recebia R$ 17 mil por mês, mas não comparecia ao trabalho. Na época, Bolsonaro comentou sobre a situação do irmão: “Pau nele para deixar de ser otário”, disse.

Cunhado de Bolsonaro e personagem da primeira reportagem desta série, Theodoro da Silva Konesuk – casado com Vânia Bolsonaro, irmã de Jair – também cria gado e cultiva bananas, além de ser dono de um areal em Registro, a principal cidade do Vale do Ribeira.

Beber e o escritório de advocacia responsável por sua defesa foram procurados para se manifestar sobre a condenação, mas não retornaram os telefonemas. O assessor de imprensa do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) também foi procurado antes do início da publicação da série, mas não respondeu aos recados deixados para ele.

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