Por Mônica Nunes, Conexão Planeta
O cenário de destruição e violência que caracteriza a Amazônia colocou a região em estado de emergência. A terra está sendo arrasada, seus líderes ameaçados e assassinados, suas populações estão em perigo constante.
Como somos interdependentes, essa situação se reflete no país e no mundo. Por isso, hoje, já não basta mais denunciar sua realidade assustadora. É preciso agir em conjunto. Entre os povos, como foi demonstrado recentemente por Raoni, quando convocou o Encontro Mebengokré entre representantes de diversos povos indígenas. Os extrativistas se juntaram a eles para resgatar a Aliança pelos Povos da Floresta, idealizada por Chico Mendes, nos anos 80. E o encontro resultou na Carta de Piaraçu, um manifesto pela vida, que será entregue ao governo brasileiro e apresentada em diversos parlamentos pelo mundo.
Mas também é essencial que os povos da floresta compartilhem desejos e reflexões com acadêmicos, políticos, legisladores e diplomatas para aprofundar, questionar e buscar soluções para a Amazônia.
Com esse pensamento, lideranças indígenas do Brasil e ativistas sociais, políticos e representantes de diversas universidades da Europa e das Américas do Norte e do Sul se reunirão – de 31 de janeiro a 2 de fevereiro – na Universidade de Oxford, no Reino Unido, durante encontro que integra o colóquio internacional sobre políticas socioambientais Amazon: rising violence and disturbing trends (Amazônia: violência crescente e tendências preocupantes).
Descolonizar, é preciso
Com mesas de debate e programação cultural, o evento integra um amplo esforço internacional para descolonizar práticas científicas por meio do diálogo Norte-Sul, “que reconhece a importância de uma ética baseada na reciprocidade socioambiental”.
“Não queremos apenas que se faça uma denúncia da grave situação em que se encontram muitos grupos sociais, devido ao crescente ataque a direitos básicos e bens comuns, ressalta Antonio Ioris, coordenador da rede internacional AgroCultures, organizadora do evento, e professor da Universidade de Cardiff. “Esperamos propostas para os governos nacionais da região, que informem mudanças de políticas econômicas, sociais e ambientais efetivas”.
Assim, o encontro terá as presenças de lideranças como o cacique kayapó Raoni Metuktire, líder indígena e ativista ambiental; a deputada federal Joênia Wapichana, primeira indígena eleita para o parlamento brasileiro, e Davi Kopenawa, xamã e líder do povo yanomani, além de Megaron Txucarramãe e Bepró Metutkire.
Além da ambientalista Marina Silva, que está entre os principais palestrantes, também foram convidados representantes de diversas universidades europeias e americanas (norte e sul), para que possam “conduzir estudos críticos sobre o legado da colonização e assimetrias sociopolíticas”, assim como legisladores, diplomatas e políticos, que podem se responsabilizar pela formulação e implementação de políticas públicas e decisões governamentais.
O cineasta Jorge Bodansky – que sempre denunciou a exploração econômica e seu impacto nas populações amazônicas e fará a pré-estreia de seu novo filme Amazônia: a nova Minamata? Durante o evento – também participará dos debates ao lado do antropólogo Alfredo Wagner (Universidade Estadual do Amazonas), de Raimunda Monteiro (Universidade Federal do Oeste do Pará), Joan Martinez Alie (Universidade Autônoma de Barcelona), Susanna Hecht (Universidade da Califórnia, Los Angeles), Mark Harris (Universidade de St. Andrews), Stefano Varese (Universidade da California, Davis), Cynthia Simmons (Universidade da Flórida), Debora Delgado Pugley (Pontifícia Universidade Católica do Peru), Charles Trocate (Movimento pela Soberania Popular de Mining/EUA) e Sue Brandfort (Latin America Bureau).
O brasileiro Marcos Cólon, professor do Departamento de Línguas e Linguística Moderna da Universidade Estadual da Flórida, que dirigiu e produziu o documentário Beyond Fordlândia: An Environmental Account of Henry Ford’s Adventure in the Amazon (Além da Fordlândia: um relato ambiental da aventura de Henry Ford na Amazônia) – premiado em festivais internacionais e que será exibido durante o evento –, é um dos organizadores do encontro. Ele compartilha esta missão com Laura Rival (Universidade de Oxford) e Antonio Ioris (coordenador da rede internacional AgroCultures e professor da Universidade de Cardiff).
Cólon é um dos idealizadores do projeto Amazonia Latitude, lançado no ano passado, que divulgará informações sobre o evento em seu site e nas redes sociais: Twitter e Instagram.
Pensadores da Amazônia, uni-vos!
O evento internacional dá continuidade às reflexões do Seminário Internacional de Ecologia Política – Justiça Socioambiental e Alimentar na Tríplice Fronteira Amazônica, realizado em junho de 2019 (que envolveu as universidades do Estado do Amazonas, em Tabatinga, e Nacional da Colômbia, em Letícia), e é parte das atividades da rede internacional de pesquisa AgroCultures. Seu objetivo é fomentar a produção científica e cultural e estreitar os laços entre pensadoras e pensadores da Amazônia do Brasil e do mundo.
Mais informações sobre o encontro podem ser obtidas pelo e-mail: [email protected]
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Fotos: Raoni (Pablo/Histórias Amazônicas), Joenia Wapichana (Divulgação) e Davi Kopenawa (Dani Peres/ISA)