Pós enchente, situação do rio Doce em Colatina (ES) volta a preocupar moradores

No Mab

Após fortes chuvas que castigaram os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo, o Rio Doce volta a correr de maneira torrencial por sua calha. A enchente, que é sempre esperada nesta época do ano, trouxe mais uma vez a preocupação com a presença dos rejeitos de mineração depositados no rio desde o crime da Samarco.

Passados quatro anos desde o rompimento da barragem de Fundão causado pelas empresas Samarco, Vale e BHP, em Colatina, no Espírito Santo, muitos atingidos seguem sem nenhum tipo de parecer sobre a situação que vivem. Com o aumento da turbidez, ressurge o temor do consumo da água fornecida pelo SANEAR, empresa pública de tratamento e distribuição de água na cidade.

Um grande impacto urbano em Colatina, o maior centro da região noroeste do estado, é a conta dupla de água que algumas famílias precisam bancar. Além da taxa de água, é necessário comprar de dois a seis galões de água por semana, a depender do tamanho da família, já que o calor de Colatina é uma constante.

As famílias que podem pagar compram água mineral; quem não tem dinheiro, mas tem condições, pode recorrer às bicas e nascentes afastadas do rio Doce. Quem não tem nem um nem outro está condenado a confiar no tratamento oferecido pelo SANEAR – de uma água que desce carreando os rejeitos acumulados nas margens, bancos de areia e barragens desde Mariana até Colatina.

Os pescadores tem apresentado relatos e fotos de peixes mortos, alguns com estranhas alterações nas vísceras e tumores evidentes. Muitos ainda seguem sem receber o auxílio, mesmo portanto o registro de pescador profissional, um caso que se repete por toda a bacia e evidencia o descompromisso da Fundação Renova com a reparação integral dos danos aos atingidos.

Agricultores

Invisibilizados por toda a bacia do Rio Doce, e com dificuldades em acessar os programas da Renova (os poucos que funcionam minimamente como o cadastro e o auxílio emergencial), os agricultores de Colatina seguem sem ter segurança do futuro de suas atividades. Além de poucas ou nenhuma indenização paga, a distribuição dos auxílios emergenciais também ocorre de forma desigual, como é por toda bacia.

Além da questão financeira também surgem preocupações referentes à qualidade da água que usam na produção: a água dos poços artesianos  já não serve para a irrigação, queimando as folhas das plantas. A situação se agrava com as enchentes, que antes traziam fertilidade às várzeas, agora são motivo de preocupação. Somente no bairro Maria das Graças, no centro urbano de Colatina, cerca de 20 famílias trabalham em hortas na beira do rio. Após a cheia do rio, boa parte das hortas foi alagada.

Em reunião com algumas dessas famílias, o Movimento dos Atingidos por Barragens ouviu que a parte mais baixa dessas várzeas, em contato mais próximo com o rio, já não produz mais o que produzia anteriormente. No entendimento das famílias é o contato prolongado com a água contaminada por rejeitos o motivo para a queda na produção.

Apesar da própria Fundação Renova já ter enviado técnicos para a coleta de água dos poços artesianos, do solo e dos produtos das hortas, os agricultores se queixam da falta de retorno dos testes, o que aumenta o grau de desconfiança com a qualidade da água do rio. A preocupação é também com a saúde já que, para produzir, eles se mantém em contato quase direto com a água contaminada pelos rejeitos de mineração.

Na intenção de se fazer ouvir pelas autoridades públicas do Estado e do Município, os agricultores têm realizados reuniões para denunciar ao Ministério Público o descaso com a situação. Os atingidos exigem laudos independentes sobre a qualidade das águas (tanto in natura para a irrigação, quanto a que é entregue nas casas pelo SANEAR), além de alternativas perenes de abastecimento de água que não seja do Rio Doce.

E a exemplo do restante da bacia, o peso da má qualidade da água fornecida, dos erros de cadastro, da concessão do auxílio emergencial e da negação da indenização que se prolonga há mais de quatro anos, recai fortemente nos ombros das mulheres – que são constantemente invisibilizadas no processo de reparação.

Nota Pública ao MP

Nesta segunda feira (3), os atingidos e as organizações parceiras devem protocolar uma nota no Ministério Público exigindo providências dos órgãos responsáveis. A exigência é que os entes federativos – prefeitura, estado e união –  cumpram o papel constitucional, garantindo a defesa dos fracos diante da agressão dos fortes: não é justo que a Vale tenha sua própria fundação, técnicos e advogados, enquanto os atingidos não podem contar nem com a Assessoria Técnica, que já foi escolhida há mais de dois anos. 

Foto: Coletivo de Comunicação do MAB

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