Nota de denúncia e repúdio à violência contra os povos do Cerrado no Piauí

CPT

A violência no campo não para no estado do Piauí. Cada vez mais recorrente, famílias inteiras ficam expostas, sujeitas a situações de ameaças, de medo e de abandono. No entanto, permanecem resistindo. Confira a nota da CPT sobre o conflito no Território Chupé, situado no município de Santa Filomena, no sul do estado:

“Até quando, Senhor, pedirei socorro, sem que me escutes? Até quando clamarei: ‘Violência’, sem que me salves?” Habacuc (1, 2-4)

É preciso estar atento e na luta em defesa dos Territórios!

As famílias do Território Chupé e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) Regional Piauí vêm mais uma vez a público denunciar e repudiar as violações e conflitos no Cerrado piauiense.

Estas famílias são alvos do capital que se apropriou do território e tem tentado expulsá-las para garantir a expansão do agronegócio nessa região, ocasionando conflitos diretos e indiretos a inúmeras famílias que ali vivem.

No mês de fevereiro deste ano, os moradores do Território Chupé identificaram, em uma das fontes de água que usam, a coloração avermelhada e a formação de espumas, algo não cotidiano deles, o que faz-se crer na contaminação dessa fonte pelo uso de agrotóxico 2,4-D utilizado nas fazendas de soja nas proximidades do território. Esse tipo de veneno causa alteração genética capaz de desencadear o câncer, alterações do sistema hormonal, má-formação fetal e toxicidade neurológica, como aponta  a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Durante esse episódio, João Augusto Philippsen, fazendeiro, disse às famílias que usou o agrotóxico para matar  uma moita de mato existente dentro de sua propriedade e que elas deveriam sair dali e irem morar na cidade. Afirmou ainda que irá cercar toda a área de uso coletivo do território, área essa utilizada pelas famílias para criação de animais e plantio de legumes. É importante destacar que o brejo contaminado deságua no Rio Riozinho (imagem acima), que, além de ser utilizado pelas famílias do território, é um dos afluentes do Rio Parnaíba, importante fonte hídrica do Piauí e do Maranhão.  Acompanhava o fazendeiro o senhor Vanderlei Pompeu de Matos, que se apresenta como advogado da fazenda, inclusive declarou para famílias que deveriam sair da “porta” de João Augusto.

No último dia 06 de março de 2020, houve um novo incidente. Mais uma vez João Augusto Philippsen, acompanhado do Advogado Vanderlei Pompeu de Matos e de um capanga da fazenda, conhecido apenas como Mano, foram na casa de algumas famílias ameaçá-las e comunicar que estavam indo para o Rio Grande do Sul em busca de recursos para a construção da cerca da fazenda. Ademais, os moradores do território passaram a ouvir tiroteios próximos às comunidades, essa prática é uma das formas de amedrontar as famílias e pressioná-las a sair de suas casas.

Diante disso, as famílias do Território Chupé e a Comissão Pastoral da Terra Regional Piauí vêm a público denunciar e repudiar as ações violentas e repressão desses fazendeiros na região do Cerrado Piauiense e solicitar a intervenção imediata dos órgãos competentes para a resolução da problemática. Visto que a violência e as ameaças têm se intensificado, e nos últimos tempos tornado recorrente.

É necessário garantir a vida e reprodução dos modos de vida desses povos.

 Conheça o Território Chupé

O Território Chupé fica localizado no município de Santa Filomena (PI) e é constituído pelas comunidades Barra da Lagoa e Chupé. 17 famílias de ribeirinhos e ribeirinhas ocupam tradicionalmente, desde os seus antepassados, as margens do Riozinho, onde vivem da coleta dos frutos do Cerrado, da pesca, da agricultura camponesa, da criação de animais, da cultura e da espiritualidade. São guardiãs e guardiões do Cerrado. Lutam em defesa da vida e pela continuidade dos seus. Inspirados nos ancestrais, têm a perspectiva de garantir condições socioambientais para as futuras gerações.

 Comissão Pastoral da Terra 

Regional Piauí

Crédito foto: Bernadete Freitas

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