‘Tem que persistir, ter força’, diz Dona Onete, homenageada de festival de música e feminismo

Festival MANA começa neste sábado, 12. Entre as atrações, a homenageada Dona Onete e Suraras do Tapajós, primeiro grupo de carimbó formado por mulheres indígenas.

Por G1 PA

É tempo de encontros do feminino amazônico. São diferentes gerações e múltiplas vozes que entoam distintos ritmos, mas têm em comum o desejo de narrar suas vivências enquanto nortistas. Neste sábado (12) e domingo (13), o Festival MANA 2.0 traz o carimbó da banda indígena das Suraras do Tapajós, o chorinho de Jade Guilhon e companhia, e celebra o talento de Dona Onete, homenageada desta edição do projeto.

Ela já foi professora de história, militante da CUT (Central única dos Trabalhadores) e secretária de cultura. Onete levou uma vida inteira para brilhar nos palcos. Uma mulher que começou a carreira de cantora depois dos 60 anos e hoje é reconhecida internacionalmente como grande mestra da cultura paraense, Dona Onete diz que a estrada foi desafiadora. Em suas letras picantes, descontraídas e que saúdam a alegria e a força da Amazônia, a artistas conta que ocupa um espaço que antes era predominantemente masculino: o carimbó. Ela diz que o jogo está virando e que agora é hora delas.

“Tem que persistir, buscar, ter força. É o que está acontecendo. No carimbó já não é só o homem, até na guitarrada, no samba enredo mulheres estão também. As mulheres aqui no Pará estão se impondo. As bandas de mulheres, que antes ficavam no anonimato, estão aparecendo. Eu não venci toda a batalha, mas já cheguei longe nessa estrada, e quero que essas mulheres mostrem seus trabalhos, cheguem junto”, diz.

Do oeste do Pará, as Suraras do Tapajós estão atentas ao que diz Dona Onete. “Ela é uma mestra da nossa arte, da música, valoriza a cultura amazônica e para gente é uma grande inspiração. Ela sempre nos incentiva e dá força para que a gente construa o nosso caminho. Ela canta o carimbó chamegado que tem origem aqui na nossa região e é uma honra ter ela perto da gente”, diz Leila Borari, integrante do coletivo de mulheres indígenas.

O grupo se formou em 2016, após os Jogos Indígenas realizados no Baixa Tapajós. “Algumas mulheres indígenas resolveram se encontrar e sugiram as rodas de afetividade e troca de conhecimento. Dentro disso, falamos de violência contra mulher indígena. Percebemos que não havia políticas públicas para mulheres indígenas e que precisávamos lutar por isso”, relembra Leila.

Como instrumento dessa luta política e feminista, surge a música. “Alcançamos espaços que somente com nossa associação a gente não conseguiria. Com o musical, a gente participa de muitos eventos fora e a gente entende que nosso grupo fez uma revolução aqui na nossa região. Somos o primeiro grupo de carimbó formado por mulheres indígenas. Então a gente vem incentivando que as mulheres ocupem esses espaços. Através das nossas letras a gente sempre fala da luta da mulher, da defesa do território, da ancestralidade e afirmação da mulher indígena”, destaca.

Música e feminismo

A programação promove ainda dois encontros musicais inéditos: a convite do festival, a multi-instrumentista Jade Guilhon criou o “Chorinho das Manas”, que vai reunir mulheres do choro, ritmo que formou gerações de músicos em Belém. A programação traz também o show “As Brabas do Norte”, encontro das rappers paraenses Bruna BG e Nic Dias, prodígios da poesia do asfalto. O line up traz ainda Keila, grande nome do tecnobrega, ritmo surgido na periferia de Belém para fazer tremer o Brasil.

Destaques na cena nacional, Tulipa Ruiz (SP) e MC Tha (SP) também são atrações do MANA 2.0, e apresentam um show exclusivo para o festival, em formato intimista. Cantora e compositora, Tulipa tem quatro álbuns lançados e uma carreira consolidada como um dos maiores nomes da música brasileira contemporânea. MC Tha mostra o som da periferia de São Paulo, com seu batidão funk e referências ao tropicalismo.

O trabalho audiovisual realizado por artistas amazônidas ganha as ruas de diversas cidades do país no MANA. Com obras dirigidas e co-dirigidas por mulheres, a mostra de clipes do festival vai exibir os vídeos online e também projetá-los em prédios nos centros urbanos de Belém, Rio de Janeiro, São Paulo, entre outros.

Painéis

O evento traz também painéis de debate para a troca de experiências e o estímulo à formação de uma rede potente entre mulheres da música, criando conexões do Pará com o Brasil. É o “Escuta as Manas”, que estreia neste sábado (12), no canal do Festival na Twitch, e abre com uma entrevista exclusiva com Dona Onete.

Durante a semana, os painéis seguem com temáticas variadas, acerca do mercado da música, como “Shows cancelados: a live é o novo palco?”, que versa sobre uma questão fundamental que se impôs com o isolamento social e desafia os artistas e fazedores de cultura. Outro tema é: “Mulheres na técnica – a graxa é uma arte!” que debate a importância dos bastidores para um espetáculo. “Como lançar um álbum: do conceito às plataformas” imerge no passo-a-passo de como fazer música sendo artista independente. “Abra os ouvidos! A nova cena contemporânea da música é indígena” traz mulheres indígenas de diversos estados do país para fazer um panorama sobre a potência e os desafios da cena. “Produção musical na pandemia: é hora do home estúdio” adentra a autonomia de produtoras musicais em seu estúdio em casa. “Na rua, na rima, na batalha: o rap é delas” mostra a nova cena das manas do rap de Belém. “Iniciativas amplificadoras de mulheres na música”, que traz como uma das convidadas Luciana Adão, coordenadora de Patrocínios Culturais Incentivados no Oi Futuro. E para encerrar o ciclo de debates, mulheres nortistas conduzem o último painel da programação “Fazer música na Amazônia: inspirações e desafios”.

Serviço

Festival MANA 2.0, de 12 a 19 de dezembro, na plataforma online. Programação completa no site oficial do Festival. O evento é promovido pela 11:11 ARTE. O projeto tem patrocínio da Oi e apoio do Oi Futuro via Lei de Incentivo à Cultura Semear, do Governo do Estado do Pará e Fundação Cultural do Pará.

Suraras do Tapajós: o primeiro grupo de carimbó formado por mulheres indígenas. Foto: Divulgação

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

13 − 9 =