Atingidos pela Vale em Barão de Cocais (MG) seguem fora de casa e sem renda mínima

Em protesto nesta segunda (8), moradores exigiram desativação total da barragem para voltarem às suas casas

Rafaella Dotta, Brasil de Fato

A manhã desta segunda-feira (8) começou com manifestações nas rodovias de Barão de Cocais, região central de Minas Gerais. Moradores das comunidades de Socorro, Tabuleiro, Piteiras e Vila Gongo alegam que a mineradora Vale está violando seus direitos básicos. Eles foram evacuados de suas casas na madrugada de 8 de fevereiro de 2019, surpreendidos com o risco de rompimento da barragem Sul Superior, da Vale, e não foram permitidos a voltar até hoje.

O ato, organizado por integrantes do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), bloqueou o acesso para mina Brucutu, a maior em operação da Vale em Minas Gerais. A via foi fechada por cerca de duas horas e, por volta das 10h, os moradores realizaram uma carreata pelas ruas de Barão de Cocais, que culminou na ocupação da prefeitura.

Eles reivindicam o imediato descomissionamento, ou seja, a desativação total e destinação responsável dos resíduos da barragem Sul Superior.

“Fizemos um ato vitorioso hoje, mostrando a força da comunidade”, informa Luiz Paulo Siqueira, integrante do MAM e presente no ato. “Infelizmente a direção da Vale desprezou o ato. Não apareceu nenhum representante da Vale aqui para negociação”.

Renda mínima

Outras reivindicações são a retomada do território de Socorro, uma das comunidades evacuadas há dois anos; e a continuidade da renda mínima às pessoas atingidas. A renda mensal paga pela Vale foi interrompida em novembro de 2020. A renda era composta por um salário mínimo por adulto, meio salário por adolescente e 1/3 por criança.

A moradora da comunidade de Socorro, Elida Geralda Couto, relata que muitas das pessoas atingidas eram agricultoras e já idosas. Hoje elas moram na cidade, com aluguéis pagos pela mineradora, e não encontram emprego. “É com esse dinheiro que as famílias estavam se virando, inclusive para pagar remédios”, conta Elida.

A Vale foi procurada pela reportagem para responder sobre os fatos, mas não respondeu até a publicação desta matéria.

Obras sem fundamento

Na reparação, a mineradora tem feito “de menos”, conforme avaliam os atingidos, mas em matéria de obras parece ser diferente. Diversas denúncias já vêm sendo feitas por outras comunidades, de que nos territórios que tiveram suas populações evacuadas por risco de barragem a empresa estaria realizando obras que não tem relação com a solução do problema.

Elida conta que a cidade de Barão de Cocais tem recebido algumas delas: reforma na praça, asfalto e limpeza do Rio São João. “Estão injetando dinheiro na cidade para driblar o pessoal e deixar a bomba relógio lá, em cima das cabeças de todo mundo”, analisa.

Um muro construído entre os povoados de Socorro e Tabuleiro, a 6 km da barragem Sul Superior, foi motivo de uma reportagem publicada pelo jornal The Intercept, que questionava a sua eficácia. “A construção levantará um muro de 35 metros de altura e 307 metros de extensão”, diz a reportagem, “mas a estrutura está sendo erguida em um ponto que não protege imóveis, roças e nem mesmo o patrimônio histórico da cidade – há duas igrejas em estilo rococó construídas no século 18”.

Segundo Elida, o muro está pronto, mas algumas das comunidades ficaram “para dentro”. O que quer dizer que o muro não só não resolveu, como aumentou o problema das pessoas que estão há dois anos fora de suas casas.

Três barragens em risco na cidade

O sistema da Agência Nacional de Mineração mostra que Barão de Cocais possui 11 barragens, sendo todas elas da mineradora Vale. Destas, três estão em alto risco de rompimento: barragem Sul Superior, barragem Sul Inferior e barragem Norte/Laranjeiras.

Edição: Elis Almeida e Camila Maciel

Imagem: Barragem de Barão de Cocais (Reprodução/Globo/Divulgação)

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