Os Mbya Guarani nos ensinam a suportar os traumas da violência. Os profanadores não suportam a resistência
No Sul21
Enquanto todos dormiam e sonhavam,
Quando o descanso era divino,
E os sons emudeciam,
O tirano chegou de forma sorrateira,
Com ódio nos olhos esparramou crueldade.
O covarde ateou fogo,
As chamas e cinzas o satisfaziam,
Gozou com o sofrimento do outro,
Desejou amedrontar e aniquilar,
Pervertido, profanador de corpos e espíritos.
O fogo ardeu e despertou a comunidade,
Os sons prevaleceram,
Estalos das chamas,
Cães latiam,
Gritos de pavor e incredulidade,
Numa noite de ventania e terror.
O tirano estava por lá,
Escondido acompanhava o desespero que causou,
Alegrou-se em sua solidão sórdida,
Depois fugiu covardemente,
Pela escuridão da noite e da mata.
Deixou pra trás angústia,
Ele planejou o ataque,
Queria que o sagrado queimasse,
Desejou afrontar o Deus da vida,
Aquele que se comunica na Casa de Reza.
Destruiu-se o lugar de Ñhanderu,
Mas Ele permanece lá,
Ao lado dos seus,
Consolando e guiando,
Dando esperança e ensinado a enfrentar o agressor.
Os Mbya Guarani sistematizaram o crime sofrido,
Confortaram-se entre si,
E seguirão semeando solidariedade,
Fortificados na luta
Pela Mãe Terra e todos seus filhos.
A tirania não prevalecerá,
O fogo queimou a matéria,
Destruiu o que é físico,
Mas as espiritualidade, as ancestralidades,
As relações amorosas com as divindades
permanecem intactas e ativas.
Os Mbya Guarani nos ensinam a suportar
os traumas da violência,
A ter serenidade,
Prudência e perseverança,
Para seguirmos combatendo as injustiças,
Plantando o Bem Viver.
Os profanadores não suportam a resistência,
Não crêem no Amor,
Não toleram às diferenças étnicas,
Não compreendem a fraternidade,
Por isso, as suas almas queimam no próprio rancor.
(*) Coordenador do Conselho Indigenista Missionário – Cimi Sul.
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Anciã da aldeia Pindó Mirim, na Terra Indígena Itapuã. Foto: Roberto Liebgott / Cimi Regional Sul