Histórias de organização, produção agroecológica e solidariedade mostram a força do MST e MPA em defesa da agricultura familiar

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“Democratizar o acesso à terra é um passo importante e necessário para a redução da desigualdade social existente no Brasil”, afirma Naira Santos, da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST / BA. A fala da representante baiana encontra apoio nos números que o MST apresenta a partir de sua ação. Ao longo dos seus 38 anos, o movimento foi responsável ou contribuiu diretamente para a implantação de 120 agroindústrias, criação de 160 cooperativas e 1,9 mil associações, de acordo com dados do próprio movimento.

O trabalho realizado pelo MST nas quase quatro décadas tem efeitos tanto no campo, quanto na cidade. Uma ação muito comum do movimento é convidar famílias das periferias para deixar a cidade e se dedicar à produção de alimentos, ir em busca de um espaço de produção, deixando para trás um contexto de violência e fome. Por muitas vezes soma-se a esses fatores na cidade a impossibilidade de dar educação aos filhos e filhas, conforme aponta Naira Santos.

Assim como o MST, o Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA também foi decisivo para conquistas importantes do povo brasileiro. Além dos vários assentamentos, outras comunidades integram o movimento e são organizadas de maneira que a produção se mostra fundamental, não só para gerar renda, como também garantir alimento de qualidade na mesa de brasileiras e brasileiros.

O MPA tem 26 anos, surgiu em 17 de janeiro, em meio à luta de famílias agricultoras que enfrentavam problemas financeiros causados pela alta taxa de juros praticada no Brasil. De acordo com Anderson Amaro, Dirigente Nacional do MPA da Bahia, “O movimento tem essa história de luta para a melhoria da vida do povo” e esta luta envolve o acesso aos vários direitos como a educação de qualidade.

Na opinião de Anderson, o Brasil tem alto potencial produtivo, mas isso não é utilizado da forma correta. Há no país grande concentração de terras, com cultivo baseado na monocultura e uso de agrotóxicos. Esse contexto, na visão de Anderson, agrava a situação de desigualdade social vivida no Brasil, algo que só seria possível mudar a partir da divisão justa da terra “Só é possível avançar na melhoria de vida com a democratização das terras. Para democratizar as terras é preciso um processo de reforma agrária ampla”, aponta o dirigente do MPA.

Um exemplo do trabalho que os movimentos sociais de luta pela terra fazem é o assentamento Terra Nossa, em Ponto Novo-BA. As famílias que hoje produzem e geram renda no local, saíram de uma situação de pobreza para viver bem a partir da criação de galinhas, ovelhas, cabras, a produção de ovos, a prática apícola e o cultivo de frutíferas. “Era uma situação de extrema pobreza. Hoje são famílias que estão melhorando sua situação de renda, devido o acesso à terra”, analisa Anderson.

Naiara Santos, do MST, destaca o papel do movimento na organização da produção e, neste momento de pandemia e inflação em alta, a contribuição com o povo trabalhador. O MST já doou mais de 6 mil toneladas de alimentos desde o início da pandemia. “Essa tem sido uma forma de o Movimento Sem Terra contribuir com a melhoria de vida das pessoas, do campo e da cidade, através da nossa luta, da nossa produção”, declara Naiara.

O MST foi criado em 22 de janeiro de 1984 e se espalhou pelo Brasil. Hoje é muito comum encontrar acampamentos do povo que sonha com um pedaço de terra para produzir e sustentar sua família. Também é comum ver assentamentos onde a produção de alimentos dá uma mostra do quanto seria importante realizar a reforma agrária no Brasil. Segundo Naiara “o Movimento Sem Terra tem contribuído para a melhoria de vida das pessoas, principalmente através da produção de alimentos saudáveis, muitas vezes essa produção é organizada através de cooperativas, associações e agroindústrias”.

As conquistas do MST estão muito além da luta por um pedaço de chão. O Armazém do Campo, que comercializa a produção dos acampamentos e assentamentos, está em 35 cidades e mais de 100 mil pessoas já foram alfabetizadas a partir do método desenvolvido por Paulo Freire. Ademais, os dois movimentos têm demonstrado uma importância fundamental para a emancipação do povo camponês, de tal modo que janeiro poderia ser considerado o mês da luta pela divisão justa da terra no Brasil.

Foto: Contag/Divulgação

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