A continuidade da atual política climática pode inviabilizar as metas assumidas pelo Brasil junto ao Acordo de Paris e empurrar a Amazônia para além do “ponto de não retorno” ambiental. O alerta é de um estudo da iniciativa Clima e Desenvolvimento, com apoio do Instituto Clima e Sociedade (iCS), do Instituto Talanoa e do Centro Clima.
O avanço descontrolado do desmatamento é o principal obstáculo para o cumprimento dos objetivos climáticos do país, mas não é o único desafio: a intensificação do uso de termelétricas para geração de energia está sujando a matriz elétrica, criando um problema que até então o Brasil não enfrentava – uma pegada de carbono significativa no setor elétrico.
O estudo trabalhou dois cenários possíveis de continuidade da atual política ambiental brasileira. No primeiro caso, o desmatamento seguiria crescendo no mesmo ritmo dos últimos quatro anos na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica, mas se estabilizaria em 2026; já no segundo, o desmate seguiria a mesma tendência até 2030. Neste último cenário, as emissões de gases de efeito estufa do Brasil ficariam 137% acima da meta estabelecida em sua NDC para o final desta década. Além disso, a área total degradada da Amazônia chegaria a 25% da extensão original do bioma, bem acima dos 20% estimados por cientistas como limite para a regeneração natural da floresta.
“O mais preocupante é que em um cenário de continuidade das políticas ambientais atuais, ficaremos muito próximos do ponto de não retorno da Amazônia”, observou Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa, ao Valor. “É preciso controlar o desmatamento, descarbonizar transportes e energia, definir o mercado de créditos de carbono. Mas tem que ser um pacote, com estes elementos integrados. É assim que o Brasil pode ser uma liderança verde”. Metrópoles e O Globo, entre outros também destacaram o estudo.