Intercept: O lobby de Israel nos EUA

Para discutir sobre Israel e Palestina, você precisa saber disso

Newsletter do Intercept Brasil, por Bruna de Lara

Como Israel garante o apoio multibilionário dos Estados Unidos, aconteça o que acontecer?  Diante dos crimes de guerra do estado israelense contra os palestinos, você deve se perguntar por que os EUA seguem defendendo o país incondicionalmente. Foi unicamente por causa dos EUA, vale lembrar, que o Conselho de Segurança da ONU rejeitou a proposta brasileira de um cessar-fogo em Gaza esta semana.

Um documentário produzido pela Al Jazeera, que enviou um repórter infiltrado aos EUA em 2016, tem as respostas para sua pergunta – e elas são tão explosivas que a série acabou censurada por Israel. Agora, o Intercept mostra os episódios que não querem que você veja.

A primeira explicação é simples. Dinheiro. Grupos de lobby pró-Israel irrigam campanhas de candidatos ao Congresso americano com centenas de milhares de dólares, sob uma única condição: que sigam à risca a propaganda israelense.

Basta manter o lobby feliz para ser agraciado com rios de dinheiro e viagens luxuosas. Decepcione-o, por outro lado, e seu assento no Congresso provavelmente irá evaporar.

Os parlamentares que questionam o governo israelense não sofrem só com o fim do financiamento. A verdadeira punição é a perda do mandato. Isso porque o lobby imediatamente encontra um candidato favorável a seus interesses e bomba sua campanha até que ele vença as próximas eleições.

E os grupos pró-Israel têm encontrado um aliado improvável nessa missão: os evangélicos. Eles são extremamente antissemitas – acreditam que, no fim dos tempos, ou os judeus aceitarão Jesus ou serão merecidamente exterminados. Mas apoiam Israel, pois creem que os judeus precisam estar no controle desse território para Cristo voltar.

É por conta do apoio que enxergam nos evangélicos no sul dos EUA que a Universidade de Tennessee, por exemplo, virou um alvo. Mais especificamente, os estudantes que apoiam o BDS, movimento pacífico pró-Palestina que pede, entre outras medidas, o boicote a Israel.

Ali e em outros campi dos EUA, estudantes são monitorados e difamados como antissemitas. E o lobby vem tentando classificar como ódio aos judeus qualquer crítica a Israel. Opor-se ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que prometeu bombardear cada canto de Gaza – e tem cumprido a promessa – seria, portanto, antissemita.

Como cada vez menos jovens norte-americanos apoiam Israel, o país trata os estudantes do BDS como uma enorme ameaça. Até o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério de Assuntos Estratégicos se envolvem nas investidas contra eles.

E, para isso, contam com outro braço amigo: a grande mídia. A estratégia é fazer amizade com jornalistas e enchê-los com pautas do interesse da propaganda pró-Israel (como o suposto antissemitismo nas universidades).

O parceiro mais frequente nesta guerra de narrativas, segundo o democrata Jim Moran, é o jornal Washington Post. Ele afirma que um rabino o avisou que, se expressasse suas opiniões sobre o lobby israelense, seria o fim de sua carreira. “[Ele] insinuou que isso seria feito através do Post. Dito e feito, o Washington Post fez uma cobertura brutalmente editorializada e todos se alinharam”, contou.

Dito tudo isso, é importante ressaltar: o lobby por si só não é crime, nem aqui, nem nos EUA (você pode entender melhor o conceito aqui). A questão é a discrepância de forças em jogo.

Israel comanda um dos lobbies mais poderosos do planeta enquanto mantém os palestinos de Gaza na maior prisão a céu aberto do mundo. Como poderia a Palestina, que sequer controla o fornecimento de água, comida e eletricidade a seu povo, bater de frente com o lobby do vizinho sobre o Congresso e a mídia da maior potência mundial?

Um lobby que dedica-se justamente a calar suas vozes e a fazer você esquecer que, muito antes do ataque condenável do Hamas, Israel já submetia os palestinos a um estado de apartheid. E é dessa forma que o lobby propaga pela mídia mundo afora a tese de que age agora apenas em autodefesa, enquanto promove um genocídio.

Lembremos mais uma vez das palavras de Netanyahu: “Vamos transformar Gaza numa ilha deserta. Aos cidadãos de Gaza, eu digo: vocês devem partir agora”. Como se o anúncio já não fosse grave, ele bombardeou repetidamente os civis que tentavam partir.

Nenhuma dessas ações mudou a posição dos EUA, país afeito a suas próprias vinganças sangrentas, vale destacar. E, agora, você pode entender por quê. Corra para o nosso site, onde já estão disponíveis os três primeiros episódios de “The Lobby – USA”, e fique sabendo o que querem esconder de você.

Presidente dos EUA, Joe Biden, aparece ao lado de premiê israelense, Benjamin Netanyahu, durante evento em Tel Aviv em 18 de outubro de 2023 — Foto: Evelyn Hockstein/REUTERS

 

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