Manutenção, atitude anticapitalista?

Em tempo de obsolescência programada e descarte, sobressai prática de prevenir a deterioração das coisas úteis. Porque, mesmo singela, é potente e antissitêmica. Como se relaciona com a desalienação e reflexão sobre a materialidade do mundo

Por Alex Vuocolo, em Noema
Tradução: Antonio Martins, no Outras Palavras

Os trens R32, do sistema de metrô de Nova York, são apelidados de Brightliners por seu exterior brilhante e sem pintura. Foram construídos para durar 35 anos. (Imagine só: sua vida útil estampada em metal, sua morte prefigurada.) Quando finalmente foram retirados de serviço em janeiro de 2022, já haviam circulado por nada menos que 58 anos e eram, segundo a maioria dos relatos, os vagões em operação mais antigos do mundo. São 23 anos não planejados de transporte de pessoas. Uma geração inteira viu essas belezas de aço inoxidável chispando pelo túnel até a plataforma, com seus exteriores canelados e anúncios iluminados. (mais…)

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Dowbor: Crônica de uma angústia planetária

O caos social, climático e econômico que vivemos não se traduz em estatísticas: são dramas terríveis que podiam ser evitados. Sabemos o que precisa ser feito e há recursos suficientes… mas seguimos como expectadores, submetidos a estúpidos bilionários

Por Ladislau Dowbor no Meer | Tradução: Maurício Ayer, em Outras Palavras

Uma visão geral dos nossos problemas, como humanidade, não é um exercício surrealista. Tanto progresso tecnológico, mas tanta violência e destruição, tanto sofrimento. E tantas narrativas sobre quem são os bons e quem são os maus. De que lado você está? A única certeza é que sou corintiano. O resto virou um caos.
(Ladislau Dowbor)

Trocamos a mão invisível do mercado que funciona bem, de Adam Smith, pelo punho invisível do poder monopolista.
(Nicholas Shaxson – The Finance Curse [A Maldição das Finanças])

Yet let’s be content, and the times lament, You see the world turn’d upside down.
[No entanto, vamos nos contentar, e os tempos lamentam, Você vê o mundo virado de cabeça para baixo.]
(Balada do século XVII) (mais…)

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A escravização se moderniza e cria formas de escravidão para viabilizar o “capitalismo da miséria”. Entrevista especial com José de Souza Martins

Sociólogo apresenta seu mais recente livro, “Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista”, antecipando pontos centrais aprofundados na publicação

Por: João Vitor Santos, em IHU

Há alguns anos, aprendíamos nas aulas de História do colégio que o capitalismo vem como um modelo econômico que contribui para o fim da escravização, afinal, todos tinham de consumir para girar a engrenagem deste novo sistema. Mas, com o tempo, vamos percebendo que a história é outra e que a modernização, no mais amplo sentido da palavra, acaba criando formas de escravidão. O livro mais recente do professor José de Souza Martins evidencia justamente como capitalismo e escravidão se configuram como duas faces da mesma moeda. “Uma linha central na estrutura deste livro é, pois, a do desenvolvimento desigual do capital, a de seus diferentes e combinados momentos e tempos, a contradição da diversidade de suas temporalidades”, adianta. (mais…)

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“Capitalismo e escravidão na sociedade pós-escravista”. Artigo de José de Souza Martins

IHU

“O trabalho escravo é a dolorosa expressão do verdadeiro conflito histórico entre os desvalidos e o capital, um dos conflitos estruturais do capitalismo brasileiro na disputa da terra de trabalho, a terra de sobrevivência, contra a terra de negócio e rentismo, de usurpação, a de um capitalismo subdesenvolvido. É a questão agrária como questão do trabalho que dá sentido a esse conflito e a esse drama. Os autores de digressões sobre a “escravidão contemporânea” omitem-se em relação a essa contradição, sociologicamente explicativa. A do assalto indireto do capital ao mundo camponês, assalto através das mediações de ocultamentos sociais para viabilizar os resultados econômicos de sua reprodução ampliada.”, escreve o sociólogo José de Souza Martins, na introdução de Capitalismo e Escravidão na Sociedade Pós-escravista (Unesp, 2023). (mais…)

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PIB, história de um índice-zumbi

Ele existe há poucas décadas. Suas falhas e imprecisões, amplamente conhecidas, induzem a um “crescimento” que devasta sociedade e natureza. As lógicas capitalistas impõem sua sobrevivência. Dois movimentos as questionam

Por Marcos Barbosa de Oliveira, em Outras Palavras

Este ensaio trata do PIB (Produto Interno Bruto), sua história (seção1) e seus defeitos enquanto indicador do bem estar das populações (seção2), com destaque para as externalidades ambientais negativas (seção 3). Tais defeitos substanciam um número enorme de críticas ao PIB, algumas bem radicais, que motivam a criação de indicadores alternativos (seção 4). Uma característica importante das críticas é a de que elas são reconhecidas pelo establishment; mais precisamente pelas instituições internacionais responsáveis pelo estabelecimento de normas e métodos para a medição do PIB (seção 5). Esses fatores dão origem a um paradoxo: apesar da unanimidade no reconhecimento das disfuncionalidades do PIB, ele continua firme em seus papéis de parâmetro para a condução de políticas econômicas, variável a ser maximizada, critério de avaliação do desempenho de governos, etc. A explicação para o paradoxo é exposta na seção 6, com base no conceito de força do capital. A seção 7 retoma os temas da seção 3, analisando a relação entre o crescimento do PIB e os problemas ambientais. A seção 8 trata dos dois principais movimentos de esquerda no enfrentamento da crise ambiental, o do decrescimento e o ecossocialismo. A tese defendida é a de que, embora compartilhem diversas propostas, há pelo menos três fatores que dificultam a associação dos dois movimentos, do ponto de vista do ecossocialismo. (mais…)

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Lula 3: impasse na periferia do capitalismo

Num país subalternizado, e em meio ao ressurgimento mundial do fascismo, busca-se mitigar dores sem encarar suas causas. Como dar um passe adiante? Uma investigação teórico-política inspirada na Teoria Marxista da Dependência

Por Luiz Filgueiras, em Outras Palavras

A partir da perspectiva da Teoria Marxista da Dependência (TMD) atualizada (Amaral:2012)1, este ensaio tem por objetivo geral discutir as dificuldades e limitações históricas dos governos de esquerda no Brasil em implementar os seus programas (econômico, social e político), principalmente no que se refere ao seu eixo central, qual seja: a necessária, e urgente, mudança estrutural da distribuição de renda e da riqueza entre as classes – condição fundamental, necessária, embora não suficiente, para o enfrentamento das demais desigualdades sociais (de gênero, raça etc.) que organizam e estruturam historicamente o capitalismo, em particular o capitalismo dependente brasileiro (Almeida:2019). (mais…)

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