Atenção, Academia: Vale seleciona projetos de pesquisa em mineração para “ajudar as áreas de negócio”

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

A notícia veio através da Fapesp, aquela agência de Financiamento de Pesquisas de São Paulo, que o atual ocupante do governo hereditário local acusou de não se voltar para coisas produtivas. Já a Vale é aquela empresa que está processando um professor lá do Pará, que em vez de ficar na sala de aula vai pra rua com os ‘meninos’ fazer protesto sem motivo. Não se ligou ainda? Pois é aquela que também jogava lixo na tal barragem que soterrou um povoado mineiro e seguiu adiante. Contaminou um rio inteiro? Mas levou Minas até o mar finalmente, uai! Se duvidar, pode até merecer elogios interinos…

Mas voltemos à notícia: o importante é que ela traz uma nova chance, aberta a instituições e a pesquisadores ‘pragmáticos’, de fazer o tal governador feliz. Como? Eles explicam: a Vale “acredita que a inovação traz sustentabilidade para o negócio, melhorando o desempenho da empresa e posicionando-a para novas oportunidades. Por isso, … está selecionando (…) projetos de pesquisa & desenvolvimento (P&D) relacionados à cadeia da mineração em todo o mundo”, como explica em sua página na internet.

Assim, quem tiver ideias brilhantes a respeito de como otimizar a “sustentabilidade para o negócio”, pode se candidatar de imediato, tudo via internet. Mas atenção: é necessário estar formalmente vinculado a uma instituição pública ou privada e ter um doutor como coordenador do projeto. Cumpridos esses requisitos, pode-se ganhar bolsas de pesquisa, material permanente e de consumo, custeio de participação em congressos etc.

Segundo a Fapesp, “Os trabalhos deverão ajudar as áreas de negócios da empresa a enfrentar desafios de médio e longo prazo, prioritariamente associados aos seguintes temas-chave: Saúde e Segurança; Barragens e Gestão de Rejeitos; Produtividade; Cavidade e Canga; Umidade e Poeira; Comunidades; Automação; Meio Ambiente; Transportador de Correia; e Licença para Operar”.

Valeria acrescentarem à premiação um Troféu Mariana-Carajás, com direito a medalhas Bento Rodrigues, Rio Doce, Açailândia, Piquiá de Baixo etc, distribuídas de acordo com o potencial de lucro que os projetos possam vir a levar para a empresa, sócias e subsidiárias. Ah, e dependendo do resultado do processo, sugiro que o grupo de pesquisas que receber o maior valor tenha direito igualmente à Medalha Evandro Medeiros. Mas não acho que a Vale esteja interessada em sequer lembrar a existência desse Professor da Universidade Federal do Pará. Aliás, nem ela nem os seus pesquisadores.

Ilustração de Ana Flávia Quintão

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