Fascismo está nas ruas, e a imprensa é artífice ou conivente

O nome é esse: fascismo. Por que os jornalistas se calam? Por que não pronunciam a palavra exata? Por que não divulgam a escala das agressões e ameaças?

Por Alceu Luís Castilho, em Outras Palavras

O nome é esse: fascismo. Por que os jornalistas se calam? Por que não pronunciam a palavra exata? (Eles que não hesitam em chamar alguém de “terrorista”, “vândalo” ou “baderneiro”.) Que cursos de história nunca terão frequentado? Será possível que vamos reproduzir em um regime democrático – cada vez mais enfraquecido – a pusilanimidade que outros tiveram durante regimes autoritários plenamente definidos?

Vejamos: agressões sistemáticas e histéricas a quem vista vermelho, declare-se contra o impeachment ou a favor de um determinado partido ou liderança política. Cenas de perseguição, encurralamento, ameaças, urros. Intolerância brutal a discordâncias, como se viu ontem em relação à decisão do ministro Teori Zavascki. Provocações, como na PUC-SP, na segunda-feira, em plena aliança com forças policiais. MacartismoDiscriminações. Tentativas de linchamento.

Tudo isso em um curtíssimo espaço de tempo. Em ampla escala. Com cenários recorrentes: Brasília, São Paulo. Sul, Sudeste. Consolidando um movimento gestado em junho de 2013 – quando muita gente se calou, muita gente se omitiu. Que continuou em 2014, durante as eleições. Em 2015, conforme relatamos aqui no blog, já com a rubrofobia desenhada. E chega em 2016 vitaminado, com aval explícito ou implícito da imprensa brasileira – essa que não percebe sua pequenez.

A imprensa que chamávamos de grande é diretamente responsável por esse quadro. Seja como artífice, seja como cúmplice, omissa. Artífice: incitadora do ódio, um ódio voltado contra determinados personagens políticos, praticante de um jornalismo (como o das revistas Veja e Época) persecutório. Nos últimos dias, como ilustram bem as últimas edições do Estadão, explicitamente golpista. Intolerante com o governo, tolerante com os fascistas.

A fronteira entre a promoção direta do ódio e a cumplicidade é tênue. O que se dirá, por exemplo, da minimização de movimentos fascistas em torno das palavras “conflito”, ou “Fla-Flu”, como se houvesse apenas uma animosidade dos dois lados? Ora, animosidades existem, mas não é disso que estamos falando. E sim de violência fascista: brutal, impositiva. A imprensa age de modo pior que aquela mãe que obriga um irmão espancado pelo outro a abraçá-lo – em nome da fraternidade universal.

Finalmente, temos a omissão. Por exemplo, ao não se noticiarem casos relevantes. O segundo post mais lido deste blog é este: “Já são cinco os casos de mães com bebê agredidas por uso de vermelho“. E há mais casos similares. São fatos. Por que não são repercutidos? Espera-se exatamente o quê? Mortes? E não se trata da única omissão. Omite-se também ao não se reunir casos noticiados de forma isolada – como se isolado fosse o fenômeno.

E se omite a palavra central: “fascismo”. Como se, em pleno regime nazista, chamássemos a intolerância (sistemática, massiva, contagiante) de “animosidade”, “conflito”, “clima acirrado”, “tensão política”, “polarização”. Como se o espancamento de um estudante cotista Kaingang, no Rio Grande do Sul, fosse fruto de uma adrenalinazinha específica, por estudantes brancos e fortões cheios de fogo. (Antes de espancar eles disseram: “O que este indígena está fazendo aí?“)

E não fosse o que é: uma cena explícita de fascismo.

O publicitário Vinícius Vasconcellos sendo agredido por manifestantes pró-impeachment. Foto: Felipe Larozza/VICE

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