O Pato Gigante das Manifestações | Jogos de Poder

Por André Zanardo, em Justificando

No Jogos de Poder da vez, falarei sobre uma das maiores sacadas publicitárias dos últimos anos. Sabe aquele pato que está aparecendo em um monte de manifestações pelo país? Esse é o “Pato da Fiesp”, também conhecido como o pato do Golpe. Mas antes que você comece a reclamar, não é desse golpe que falo. Falo do Golpe contra você! Acompanhe até o final e explicarei em detalhes como essa campanha aparentemente inofensiva está sendo planejada para te manipular nas próximas eleições.

Era pra ser mais uma campanha inofensiva em que algumas pessoas coletariam um abaixo-assinado e pronto! A petição chegaria até a Câmara dos Deputados, Senado, STF, no Obama, sei lá, e tudo terminaria com uma foto bonitinha, todos fazendo um joinha pra aparecer no jornal e o papo encerraria por aí. No entanto, existe toda uma técnica de marketing político por trás.

Toda essa história começou em 2013, durante as manifestações de Junho na avenida Paulista, em São Paulo. Nesse período, as pessoas aprendiam a lidar com a organização horizontal e espontânea de protestos por meio das redes sociais.

A Avenida Paulista é o maior centro financeiro do Brasil e, por esta razão, as coisas que acontecem lá chamam mais a atenção da mídia do que em outros lugares por aí. No centro desta avenida há algo muito importante para qualquer democracia do mundo: uma praça pública, em que as pessoas podem conversar e conviver. Esse lugar se chama MASP – em cima é um museu e embaixo é um vão livre, completamente aberto, com um super espaço. Ali, as pessoas se reúnem antes de uma manifestação. Esse se tornou um dos locais mais democráticos do Brasil, qualquer um vai pra lá se reunir e ser escutado. E tudo isto se deu por causa da arquitetura favorável e a representação artística que garante sempre belíssimas imagens dos manifestantes quando estampadas nos jornais.

Só que a duas quadras do MASP, nesta mesma Avenida, encontra-se a FIESP, que é é a maior entidade de classe da indústria brasileira. Ela representa o interesse de pelo menos 130 mil patrões em São Paulo. É muito empresário, muito dinheiro, e, portanto, muito poder.

Veja onde está a genialidade aqui. Certo dia, Paulo Skaf, que é um político paulista e presidente da Fiesp, chamou sua equipe e pensou em uma forma de se aproveitar das manifestações que acontecem em frente ao prédio. Ele percebeu que, naquele espaço, acontecem todos os dias manifestações, e que esse povo vestido de verde e amarelo tinha os mesmos interesses que ele. Logo, aproveitou do telão luminoso que preenche toda a fachada do prédio e o cobriu com uma bandeira do Brasil. Tudo isto de forma a ficar bem chamativo. E, assim, a FIESP começou se utilizar do verde e amarelo.

Os símbolos são como armas que servem para significar algo, unir ou destruir. Com esta ação, a FIESP entendeu que estes manifestantes já tinham se apropriado do símbolo da bandeira do Brasil, o verde e o amarelo, e que isto gerava unidade de irmãos de guerra entre eles. A bandeira do Brasil pertence a toda a nação, mas houve uma cooptação muito eficaz deste símbolo. Só que os manifestantes também não imaginavam que este símbolo também seria cooptado pela FIESP, que dominaria os rumos das manifestações no país dali em diante.

E assim foi, desde as manifestações de 2013 até hoje. A FIESP estampa a bandeira do Brasil na sua fachada em todas as manifestações verde e amarelo. Em 2015, eles foram mais longe. Felizes com os resultados trazidos para a imagem da FIESP, fizeram uma campanha nunca antes vista no país. Novamente Paulo Skaf se utilizou da arte e de simbologias emocionais e infantis para dominar a mente de adultos e crianças. A campanha “Não vou pagar o pato” colocou réplicas de patos gigantes na frente da FIESP e no meio da avenida aos Domingos, quando a Paulista estava fechada para lazer.

Todos os dias e, principalmente, em todas as manifestações, a FIESP colocou promoters, pessoas entregando flyers, máscaras de pato, balões de hélio em formato de pato para crianças, etc. Será que uma campanha política, onde se reclama do sistema de tributação excessivo para as empresas, deveria ser direcionada também para crianças? Penso que não. Golpe baixo, mas genial! O que talvez você não saiba é que a jogada de mestre possui ainda um movimento que passou despercebido a todos. A tal campanha do Pato é a arma ideal para a eleição de Paulo Skaf para governador em 2018.

Sim, toda esta parafernalha verde e amarelo e patos gigantes foi criada para coletar emails e informações do público potencial eleitor de Paulo Skaf. Esta sacada Genial é a ferramenta principal da estratégia de Marketing Político para as próximas eleições, dele e de seus amigos. Imagine que agora está proibido o financiamento privado de campanhas, logo as campanhas políticas deverão ser mais enxutas por utilizar menos dinheiro. Entretanto as campanhas estão sendo de alguma forma antecipadas com ações que possam garantir um passo a frente quando o período eleitoral abrir.

São núcleos de Marketing Político financiados por empresas privadas que já estão formatando suas estruturas para as próximas eleições. Como você pode imaginar, se você acha que não vai ter dinheiro de empresas nas próximas eleições, você está enganado. Com um pouco de inteligência não será preciso nem caixa dois, pois os políticos já estão montando estruturas paralelas que não necessariamente exibam o seu nome e número num santinho político. A jogada agora é antecipar as eleições, formatar estruturas privadas, coletar o máximos de dados dos seus eleitores e aparecer bastante mesmo que sem o número da sua campanha. Tenha certeza que nas próximas eleições diversos políticos terão núcleos de ações políticas disfarçadas de institutos, ongs e empresas. É assim que é o jogo!

E onde chegamos nesta história? Hoje as manifestações verde e amarelo não estão com as concentrações sendo marcadas para se reunir na frente do MASP, mas na frente da FIESP. Isto significa que aquela praça democrática agora é um prédio que representa o interesse da maior elite capitalista da América Latina. Todas as manifestações que estão sendo chamadas por estes grupos estão tendo a liberdade de fechar a paulista, com proteção policial do governo estadual. Os manifestantes podem fechar um quarteirão criando uma área de isolamento do prédio, com direito a camarote da Globo e filé mignon servido de almoço para os revolucionários que queiram dormir na frente da FIESP. Só para lembrar, esta é a primeira vez que o governo permite que se feche a Paulista por 36 horas seguidas, sem mesmo precisar de aviso prévio. Normalmente, para outro tipo de manifestante, só de pensar nisso é tiro, porrada e bomba.

Esta infraestrutura é tudo o que se precisa para se criar um polo de insurgência social, assim como uma praça pública como Tahir, que estava ocupada todos os dias. Esta é a intenção da FIESP, que o seu prédio vire o símbolo que trará a mudança para o país. Ou seja, qualquer notícia mais inflamada no jornal nacional, todos saberão para onde ir.

Explicada toda a estratégia, fica aqui uma reflexão: na história, a FIESP estava do lado errado em 1964. É uma empresa que está se utilizando de cooptação de manifestações, e artimanhas políticas para interesses questionáveis. Defende manifestações e faz campanhas a todo momento contra a corrupção. Me explique um detalhe, Paulo Skaf, QUEM VAI PAGAR O PATO que você está utilizando como símbolo da sua campanha?

Nos últimos dias, o jornalista Ricardo Senra, da BBC, apresentou a denúncia do artista plástico holandês Florentijn Hofman, o qual reclamou os Direitos Autorais sobre o modelo do Pato utilizado pela FIESP. O pessoal da campanha disse que o pato não tinha nada a ver com àquele do artista, e que, na verdade, a inspiração tinha sido em patinhos de banheira. Entretanto, a BBC entrou em contato com a fábrica que fica em Guarulhos, que produziu o pato para o artista plástico holandês, e adivinha! Trata-se da mesma fábrica que fez os patos da FIESP. Feito nos mesmos moldes e especificações técnicas de acordo com o artista plástico.

A campanha quem vai pagar o pato, somente no dia 29 de março, comprou 14 páginas de anúncio em pelo menos 4 jornais no Brasil. Pelo preço de tabela, somente no Estadão e na Folha o valor do anúncio não saiu por menos de 5 milhões. Façam as contas! E aí, Fiesp, diferentona, salvadora da corrupção, quem vai pagar o pato para o artista plástico holandês? Apesar de tudo isto, se você ainda acha que a campanha é boa, tente explicar para um amigo gringo que você estava com um pato gigante no meio de uma manifestação sem parecer ridículo. Boa sorte!

No Jogos de Poder de hoje falamos sobre como os símbolos são utilizados para cooptar pessoas e movimentos e sobre como algumas campanhas podem esconder intenções políticas mais profundas. Meu nome é André Zanardo, me chamam de filho bastardo do príncipe. Nos vemos nos próximos Jogos de Poder.

André Zanardo é diretor executivo do Justificando, jornalista, advogado e filho bastardo do Príncipe.

Desraque: Presidente da Fiesp, Paulo Skaf, ao lado de pato durante protesto em Brasília.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

dezessete − 10 =