No blog do Sakamoto
Acho que o ministro da Saúde não tem amigos. Pelo menos, não amigos de verdade, daqueles que dão um toque do tipo: “Ricardinho, papo reto: cê vai mandar mal se continuar por esse rolê, mano”.
Ricardo Barros divulgou uma nota à imprensa em que pediu “desculpas se foi mal interpretado” depois de ter dito, nesta quinta (12), que homens procuram menos atendimento de saúde porque “trabalham mais do que as mulheres”.
Lembrete mental: perguntar a um psicanalista porque autoridades, quando falam besteira, fazem a egípcia e – na caruda – afirmam que o estúpido é quem não entendeu.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, homens gastam 9,5 horas semanais com afazeres domésticos, enquanto que as mulheres que trabalham dedicam 22 horas semanais para o mesmo fim. Com isso, apesar da jornada semanal média das mulheres no mercado ser inferior a dos homens (36 contra 43,4 horas, em termos apenas da produção econômica), a jornada média semanal das mulheres alcança 58 horas e ultrapassa em mais de cinco horas a dos homens – 52,9 horas – somando com a jornada doméstica. Ou 20 horas a mais por mês. Ou dez dias por ano.
Isso sem falar que, quando um casal trabalha fora terceiriza o serviço doméstico, normalmente, para outra mulher, seja ela babá, faxineira ou cozinheira.
Não é a primeira vez que ele fala mais do que deveria. Seja para criticar a universalidade do SUS, seja para sugerir que igrejas e templos entrem na discussão sobre o direito ao aborto legal, seja para defender a criação de um “plano de saúde popular” privado ao invés de melhorar o sistema público de saúde.
Para corrigir, o ministro disse que se referia à quantidade homens no mercado de trabalho, maior do que as mulheres. Vale ressaltar que, segundo a pesquisa, a maioria dos homens diz que não vai ao médico não por falta de tempo, mas porque acha que não precisa.
Olha, uma coisa que aprendi é que, nós, homens, se cometemos o despautério de uma declaração machista e/ou misógina, temos que ouvir as críticas e reconhecer o erro sem mimimi – isso, é claro, se o ato em si não teve consequências que demandam nossa ação para compensar o dano causado. Tentar dar justificativas só faz com que chafurdemos na lama ainda mais.
Se Ricardo tivesse amigos, alguém daria um toque a ele.
O irônico é que ele tem amigos, pelo menos entre as empresas de planos de saúde privados.
E, para elas, ele pode falar a groselha que for, desde que as coisas continuem no caminho que estão.