TSE é fonte de incertezas para Temer e seus aliados, por Janio de Freitas

Na Folha

Se no impeachment as cartas estão marcadas, muitas delas compradas para pagamento futuro, o Tribunal Superior Eleitoral é uma fonte de incertezas para Michel Temer e seus aliados. Informações dadas por empreiteiros, apenas para possível acordo de delação, mudam, por si sós, a configuração do processo sobre irregularidades na campanha de Dilma/Temer. E, por consequência, influem no risco de cassação dos dois mandatos ou daquele que permaneça.

A esperável entrega ao TSE de documentação da Lava Jato, pedida pela ministra-relatora Maria Thereza de Assis Moura, é inconveniente para Michel Temer e sua expectativa de separação, em processos distintos, de PT e PMDB. Desmembramento que estava visto como quase certo desde que Gilmar Mendes assumiu a presidência do tribunal. Além das razões bem conhecidas para tal previsão, ele as confirmara com a atitude incomum de não transferir, ao se tornar presidente, o processo que conduzia sobre, ou contra, o PT.

Os depoimentos de Sérgio Machado e as recentes pré-delações acentuaram a integração de PT e PMDB na campanha, citando Michel Temer. Com isso, a ministra Maria Thereza requereu a inclusão do PMDB e também do PP no processo, ao lado do PT com que fizeram aliança eleitoral e financeira.

Não se sabe o quanto a Lava Jato poderá comprovar que as doações à campanha saíram de dinheiro da corrupção, nem se as deduções da Lava Jato serão acompanhadas pela maioria do TSE. O que é um motivo a mais de incerteza. Ao qual ainda se acrescenta a próxima substituição da respeitável relatora, por expiração do mandato.

Embora as decisões do TSE, nesse caso, não estejam próximas, o processo merece, no mínimo, compartilhar as atenções dedicadas à Lava Jato e, por ora, ao impeachment no Senado. O que se passa lá não é menos do importante.

O SUB

A morte do soldado Hélio Vieira Andrade, da Força Nacional de Segurança, serviu a Michel Temer para o ato demagógico de decretar um luto nacional ligeiro. Não, porém, para seu governo romper a incúria que está na raiz do crime fatal. Muitos policiais têm morrido ao enfrentar bandos do crime, muita gente comum tem morrido pelos tiros a esmo nos enfrentamentos. Nem por isso o gesto do luto foi lembrado por Temer antes da obsessão de popularizar-se, informado de que um em cada três brasileiros nem sequer sabe de sua existência.

Há algum tempo, o primeiro carro recebido a tiros por entrar enganado em área de bandidos, no Complexo da Maré (também conhecida pelo sugestivo nome oficial de Vila do João, o Figueiredo), era de recém-chegados ao Rio. Não foi o da polícia com o soldado Hélio. Seguiram-se vários. Apenas 48 horas depois do ataque ao desprevenido carro policial, a meio da semana, mais um de uso familiar foi alvejado ao entrar por engano na mesma rua.

Em comum aos três incidentes, a informação errada sobre uma via para sair da autoestrada: orientação dada por mapa e rota de GPS. Um serviço fantástico pela utilidade e pelo avanço tecnológico, mas necessitado de aperfeiçoamentos. Os quais deveriam ser cobrados de imediato já no primeiro incidente, dada a obviedade de que a consulta e a orientação com erro se repetiriam. Como os mapas de GPS vão se estendendo pelo país, a exigência de verificação em todos os sistemas indicadores de rotas cabe ao Denatran, responsável pelas medidas gerais de segurança no trânsito. Cabe, mas em vão.

Essa incúria de aparência miúda, das seringas que acabam em um hospital, da falta de passaportes, da merenda escolar insalubre, coisas dessa ordinarice rasteira, que infernizam e extinguem vidas, fazem a cara de um subdesenvolvimento infinito. A redução da pobreza e o crescimento econômico, quando existiram, não foram capazes de reduzir no Brasil esse subdesenvolvimento funcional e moral, capaz até mesmo de levar à morte por entrar enganado em uma rua.

Ministro da Justiça dado ao bombástico sem fundos, Alexandre de Moraes elevou o soldado morto ao título de herói. Não consta que tivesse o gesto mínimo de pedir, no seu ministério, a providência corretiva do roteiro errado que levou seu herói à morte.

 

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