Alcoolismo e diabetes nas aldeias deixa Ministério em alerta

Secretário especial Rodrigo Rodrigues relata preocupação com aumento nos casos

Por Érika Oliveira, no Midia News

O secretário especial de Saúde Indígena do Governo Federal (Sesai), Rodrigo Rodrigues, revelou, em entrevista ao MidiaNews, que o órgão registrou um aumento nos casos de enfermidades dentro das aldeias. Entre as quais destacou o alcoolismo, suicídio e a diabetes.

De acordo com o secretário, o contato entre os índios e os homens brancos é diretamente responsável pelo agravamento destes casos.

“As aldeias estão cada vez mais próximas das cidades. Com o início do contato entre índios e brancos, muitas doenças urbanas foram para dentro das aldeias. Os índios não têm imunidade para este tipo de doença”.

O secretário destacou os casos de alcoolismo registrados nas denominadas aldeias urbanas, que são aquelas mais próximas das cidades.

Segundo ele, estes casos não são isolados, pois o excesso do consumo de bebidas alcoólicas é inerente a todos os povos brasileiros.

No entanto, há uma dificuldade maior em tratar essas doenças dentro das aldeias por uma série de questões.

Ele observa, entre estas dificuldades, estão as questões ligadas à pajelança, que são os rituais indígenas ligados à espiritualidade. Além disso, há uma relação entre o abuso de álcool e os casos de suicídio.

“Há uma dificuldade no atendimento psicológico das aldeias por toda uma questão espiritual. Os índios acham que os transtornos que sofrem são “maus espíritos” que os rodeiam e isso acaba gerando um quadro epidêmico de suicídio”, explica.

Ele falou, ainda, do choque cultural, que pode estar levando os índios a uma dificuldade em entender a própria identidade.

“Há uma transição social que está gerando um vácuo na cultura indígena. O índio não está se encontrando mais no meio em que vive e esse choque pode levantar muitas dúvidas sobre qual cultura seguir”.

O secretário citou também a mudança na dieta dos índios, com a inclusão, por exemplo, do açúcar na alimentação. O que contribuiu, segundo ele, para um grande número de casos de diabetes na etnia Xavante, em Mato Grosso.

Pacto com Estado e Municípios

Rodrigo Rodrigues afirmou que a Sesai está trabalhando para combater estes problemas, com equipes multidisciplinares, formadas basicamente por médicos, psicólogos, nutricionistas e enfermeiros.

O trabalho da Sesai, dentro das aldeias, é de atendimento básico à saúde. A secretaria possui orçamento próprio e realiza um trabalho articulado com o Sistema Único de Saúde (SUS).

Os casos de média e alta complexidade são encaminhados para os hospitais de referência mais próximos. De acordo com o secretário, este é o maior problema enfrentado pela Sesai.

“Hoje, este é o maior gargalo que a secretaria possui. O atendimento básico tem sido bem executado. No entanto, os casos de média e alta complexidade enfrentam entraves. Há muitos problemas, como discriminação, preconceito e falta de respeito à cultura indígena”.

Por conta disso, a secretaria está buscando a formação dos Agentes Indígenas de Saúde (AIS), que são índios capacitados a realizar atendimentos básicos de conscientização sanitária e atendimento à saúde dentro das aldeias.

“Estamos tentando firmar parcerias com instituições sociais ou não-governamentais para levar capacitação às aldeias e qualificar os agentes indígenas. A intenção da secretaria é formar os próprios índios para realizar este atendimento. Isso é importante, pois eles conhecem e respeitam a cultura”.

Além disso, a Sesai está firmando pactos com o Estado e com os municípios, no intuito de enfrentar estes problemas e melhorar o atendimento nos casos de média e alta complexidade.

“Minha intenção é fazer com que estes gestores entendam e respeitem a cultura indígena”, disse.

Melhorias

A Sesai também é responsável por distribuir equipamentos como embarcações e veículos terrestres para contribuir no atendimento nas aldeias.

O secretário explicou que chegar até esses locais, até certo tempo, era muito complicado.

“Em Mato Grosso a maioria das aldeias tem acesso terrestre, mas ainda assim, em algumas localidades só é possível chegar de avião. Hoje, a secretaria consegue contemplar qualquer região”.

O secretário esclareceu que a Sesai, além de aumentar as frotas para o transporte fluvial e terrestre das equipes, avalizou horas de voo para garantir o atendimento em 100% das aldeias.

“Esse era um problema grande enfrentado pela Sesai, mas que foi solucionado. Agora,  há acesso a todas as áreas no Brasil inteiro. A melhoria dessa logística serve tanto para levar as equipes às aldeias quanto para resgatar os índios”, explicou.

Foto: Marcus Mesquita /MidiaNews

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